Alda Rezende segue tentando ampliar espaços para a MPB na Nova Zelândia

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
13/09/2014 às 12:07.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:11
 (Divulgação)

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Em dez anos se apresentando em palcos da Nova Zelândia, a cantora mineira Alda Rezende aprendeu que, para abrir espaço para a música brasileira, ela deveria não só “cantar muito”, mas também “criar uma cena”, ampliando os caminhos para outras bandas e músicos de seu Brasil.

Foi assim que, além de exibir sua voz marcante, Alda virou uma espécie de embaixadora num território que, até pouco tempo, desconhecia o repertório made in Brazil. “Com exceção de alguma Bossa Nova, que é ensinada por escolas de música do mundo inteiro, quase nenhum conhecimento havia quando cheguei aqui”, registra.

Alda frisa que a “Oceania não é a Europa, onde há décadas se faz esse trabalho de divulgação”. Na terra onde “O Senhor dos Anéis”, uma das produções de maior bilheteria de Hollywood, foi filmado, “tudo é muito novo e maleável”, observa a moça, já de volta ao país insular.

Sim, na segunda-feira, após uma breve passagem por BH para rever familiares e realizar dois shows (no Balaio de Gato), a artista embarcou de volta à Nova Zelândia. “São quase dois dias para chegar aqui. E estou falando só do corpo! A alma demora mais! Mas estou viva de novo, após dormir por 15 horas”, avisa.

Carregando a missão de divulgar a MPB em seu país de adoção, ela atualmente encabeça projeto que busca fundir elementos do cancioneiro brasileiro, incluindo o indígena, às músicas maori e popular da Nova Zelândia. “Ele se chama Tutakitaki, que quer dizer ‘encontro’ na língua do povo nativo”.

O projeto é apoiado pela Embaixada do Brasil, mas Alda ainda batalha por recursos para pagar as passagens de dois músicos de sua terrinha. Entre os organizadores também estão Kristoff Silva, compositor e violonista mineiro; Caíto Marcondes, percussionista paulistano; e o maori Matiu Te Huki.

Não é a única frente na qual Alda trabalha. Na Radio Active, de Wellington, ela apresenta o “Global Pulse” há oito anos. “Ele é apresentado todo domingo de manhã. Temos um rodízio de apresentadores, o que dá variedade ao programa. É dedicado a world music, mas o meu ‘mundo’ é muito brasileiro – e mineiro, claro”, sublinha.

Agenda na Oceania inclui festivais e ‘Latin Club’

Recentemente, a mineira Alda Rezende cantou para uma plateia lotada, num dos principais teatros da Nova Zelândia, num show em tributo a Tom Jobim, parte da programação do “Wellington International Jazz Festival”. “Esse mesmo show já está agendado na Austrália”, comemora a artista.

Alda não se limita a soltar a voz em sua língua pátria. Prova disso é “Latin Club”, evento criado por ela há dois anos. “É semanal e seminal, se é que posso dizer isso, já que é um projeto que eu faço”, diverte-se. No repertório, expressões da música latina, da caribenha à europeia e americana.

A mineira se apresenta ao lado de um quinteto formado por guitarrista e baixista neozelandeses, baterista escocês, acordeonista argentino e pianista americano. “A cada edição, incluímos convidados, latinos e neozelandeses, músicos consagrados”.

Ela vibra com o fato de o “Latin Club” ter se tornado um evento realmente comunitário. “Sinto que as pessoas consideram que pertencem ao Latin Club. Não é simplesmente a minha banda tocando”, afirma. Outro projeto, o “Live Brazil”, que Alda realizou por quatro anos, foi suspenso. Pelo menos, temporariamente. “Levei, com apoio do Música Minas e da Embaixada do Brasil, várias bandas e músicos para a Nova Zelândia, como o Tambolelê, o Marku Ribas, o Weber Lopes, o André ‘Limão’ Queiros, o Esdra ‘Neném’ Ferreira... Parei de fazer simplesmente porque o trabalho que dava me tirava o tempo de cantar”.

Outra razão foi perceber que “não fazia muito sentido uma cantora sem produtor ser produtora de outros artistas”. Mas garante que, se lhe for oferecida uma estrutura em que possa realizar o festival, “sem deixar de priorizar a própria arte, não descarto retomá-lo”.

Após inúmeros shows para públicos estrangeiros, Alda aprendeu que, para se conectar com eles, a carga emocional é mais importante que a compreensão da letra. Outra lição é que a melodia e o ritmo devem estar além das palavras. “Não tenho a menor dúvida de que esse processo me tornou uma cantora muitíssimo melhor do que já fui”.

Ela se obriga a sair de sua zona de conforto, trabalhando com músicos que não estão familiarizados com os estilos e os ritmos da música brasileira. “Fica bem mais complexo, porque o cantor tem que se adaptar a outra musicalidade, um universo desconhecido por eles”.

Alda se viu no papel de “catequizadora”, “mostrando que samba não é rumba e que existem centenas de estilos variados na América Latina e que há muito Brasis dentro do Brasil”. Apesar de o resultado soar diferente, menos “autêntico”, por outro lado fica “mais aventureiro, mais misturado, mais fundido com outros elementos”.
 
Mesmo na Alemanha, Klein investe no Caffeine
 
Dia 29, é a vez de outra mineira, Sylvia Klein, se despedir de BH. Após rever a família e se apresentar com o Caffeine Trio, a cantora retorna a Berlim, onde reside há seis anos. Embora ainda participe de alguns recitais em território alemão, interpretando Villa-Lobos ao lado de um pianista, Sylvia confessa que vem dedicando-se cada mais ao universo jazzístico. “Tenho preguiça dessa coisa de diva da ópera”, explica.

Sylvia registra que, hoje, quer mais é se divertir. “Cansei de estudar tanto, de toda aquela disciplina. Canto música erudita brasileira na Alemanha, mas de uma forma mais tranquila. Na ópera, você lida com muitos egos”, compara.

Hoje, ela não pensa em voltar a morar no Brasil. “A qualidade de vida lá é muito melhor. Não tenho medo de andar na rua. E, ao contrário do que dizem, as coisas são três vezes mais baratas”, afirma Sylvia, que tem como passatempo favorito viajar pela Europa. “É tudo pertinho e sai mais barato”. Não que ela esteja de ouvidos tapados à produção mineira. Um de seus projetos, aliás, envolve um show com músicas de Makely Ka, Pablo Castro, Eduardo Álvares e Maurício Ribeiro. “Nossa música é linda e não muito conhecida”, diz.

A ida à Europa se deveu principalmente ao marido, o norte-americano Stephen Bronk, cantor da Ópera de Berlim. Mas a distância do Brasil não a impede de dar prosseguimento, junto a Renata Vanucci e Carô Rennó, ao Caffeine Trio (no estilo “harmony” de trios como Andrew Sisters e Boswell). “É um trabalho bacana de pesquisa envolvendo música dos anos 20 e 30”.

“O que temos feito é cantar algo do Nirvana ou do Ramones nesse estilo. Da música brasileira, fizemos com ‘Tico-Tico no Fubá’ e ‘Meu Sangue Ferve por Você’”, detalha. Antes de voltar a Berlim, o trio gravará três músicas durante show no “Festival da Fartura”, em BH.

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