Aluna de Guignard, Wilma Martins celebra 80 anos de vida e 60 de carreira

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
15/03/2014 às 08:32.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:38
 (Wilton Montenegro/Divulgação)

(Wilton Montenegro/Divulgação)

A importância de Wilma Martins para as artes plásticas no Brasil é incontestável. Aluna de Alberto da Veiga Guignard (1896–1962), ela realizou suas primeiras exposições individuais em Belo Horizonte, cidade onde nasceu e se formou em pintura, desenho, gravura e ilustração.

Depois, rumou para outras galerias no Brasil e no mundo. Integrou bienais nacionais e internacionais – como mostras de arte brasileira na América Latina, Estados Unidos e Europa. Por tudo isso, recebeu cerca de duas dezenas de prêmios.

No entanto, é a partir de hoje, na cidade que viu Wilma dar os primeiros passos, que a artista recebe uma das mais completas e afetuosas homenagens.

A exposição “Wilma Martins: Retrospectiva. Cotidiano e Sonho” faz um apanhado dos 60 anos de carreira da mineira. Reúne quadros, desenhos, ilustrações e xilogravuras – uma das habilidades e expertise da artista que por anos fora esquecida ou simplesmente ignorada pelos críticos.

“Hoje, meus laços com Belo Horizonte são meramente afetivos porque minha vida, ao longo dos anos, foi construída no Rio de Janeiro, para onde me mudei em 1966. Ao chegar na cidade para essa exposição, meu Deus! Quanta diferença. Essa cidade não é a mesma que conheci anos atrás. Eu nunca ouvi falar da metade dos bairros que BH tem hoje, mas também, quando fui embora, éramos pouco mais de 500 mil habitantes. Hoje são quantos? Mais de dois milhões. Nossa, é muita gente, né?”.

A mostra que fica na Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube até 22 de junho teve início no Rio de Janeiro e, depois de BH, segue para São Paulo. Mas o projeto vai além dos muros e paredes das galerias que a recebe. Segundo o curador da mostra, Frederico Morais, 78 anos, com quem Wilma é casada há 54, o projeto da retrospectiva sobre a artista que chega em forma de exposição é, adiante, ter sequência em livro. “Tenho alguma experiência em curadoria”, diz, modesto. “Já fiz algumas muito difíceis, mas posso garantir que exposições como essa acabam dando mais trabalho porque, afinal, tenho uma ligação afetuosa com tudo isso”.

Vida ‘empurrada pelo destino’

Sabe aquele ditado “o amor acontece nas horas e lugares que a gente menos espera”?. Pois bem.á estavam os ainda jovens Wilma e Frederico, à espera do ônibus, quando o danado do amor apareceu. “Entre uma conversa e outra, a convidei para uma festa de fim de ano e ela aceitou. Não nos largamos mais”, recorda Frederico, durante entrevista ao Hoje em Dia.

Passados 54 anos do convite para a festa, Frederico (mais uma vez) não quis dar ponto sem nó – e decidiu homenagear Wilma, no aniversário dela de 80 anos, com uma exposição.

“Eu queria fazer uma coisa bem bonita para comemorar os anos dela, sobretudo, quis mostrar a importância de Wilma como artista para o Brasil. A mostra é, portanto, uma homenagem, a representação do respeito que tenho por tudo que ela fez ao longo dos anos pela arte”, resume.

Há dez anos, recorda Frederico, Wilma sofreu uma queda que acabou afastando-a da produção artística. “Isso contribuiu para o esquecimento dela dentro do processo brasileiro de arte. A mostra chegou para mudar isso também”.

A homenagem deu certo. No ano passado, a mostra foi eleita pelo jornal “O Globo” e pela revista “Veja” como uma das melhores do ano.

XILOGRAVURA

Evidentemente, como um profundo conhecedor do trabalho de Wilma, Frederico dividiu a mostra de modo que toda a experiência da artista fosse destacada – principalmente a xilogravura, “com a qual ela trabalha com propriedade e rigor”, e a ilustração. “Ela cria com a sensibilidade e a inteligência da criança. Nesse segmento, este é o seu maior mérito”, destaca.

O livro, que ainda não tem previsão de lançamento, terá a missão de sublinhar ainda mais essa expertise da artista. “Além da documentação fotográfica, a obra contará com textos já conhecidos e outros inéditos”, revela ele.

Wilma que ainda estudante trabalhou como ilustradora e diagramadora de jornais em BH, garante que, apesar de todas as conquistas, foi o “destino” um dos seus muitos parceiros: “Minha carreira foi meio orgânica, sabe? Não precisei correr muito atrás. As coisas foram acontecendo. Minha vida é um punhado de empurrões do destino”, diz, aos risos, uma delicada artista, mãe de um “menino”, um neto, um gato e um cão.

“Wilma Martins: Retrospectiva. Cotidiano e Sonho” na Galeria do Centro Cultural Minas Tênis Clube (r. da Bahia, 2244, piso CS5, Lourdes). Terça a sábado, das 10 às 20h. Domingos e feriados, das 11 às 19h. Até 22/6
 

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