Ana Elisa Ribeiro fala das diversas matizes do amor em 'Xadrez'

Elemara Duarte - Hoje em Dia
20/06/2015 às 09:35.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:33
 (Rafael F. Carvalho/Divulgação)

(Rafael F. Carvalho/Divulgação)

Ana Elisa Ribeiro, uma das mais versáteis escritoras da nova geração brasileira apresenta mais uma fornada de poemas inéditos. “Xadrez” (Editora Scriptum, R$ 35), 11º livro da carreira dela, será lançado neste sábado (20). Nas linhas, o sentido livre, sempre jovial, bem-humorado e quase coloquial, tão marcantes na literatura desta mineira de 39 anos.   Ana Elisa vem acertando o tom e, talvez por isso, ela seja dona de carreira literária tão produtiva. Versada na literatura que chega perto da realidade de qualquer um, a escritora promove a realização de um ideal: aquele que alia erudição ao amplo acesso.   O título da publicação foi inspirado em um verso de poema intitulado “Game Over” - ou na tradução “fim do jogo”. Os 45 textos de “Xadrez” vêm sendo feitos desde 2013. As 72 páginas têm projeto gráfico dos designers Júlio Abreu e Leonora Weissmann.   Em “O Maior de Todos”, no abre-alas, a escritora parece que avisa sobre o que vem adiante: “Era um amor imenso,/ muito maior do que a maior palavra -/ porque não há palavra/ para aquele amor”. E arremata: “Era tão – mas tão – grande/ que ela, a poetisa/ resolveu dedicar a ele/ um livro inteiro”.   Em “Xadrez”, a escritora mostra os vários matizes destas possibilidades destes amores. “Diagnóstico”, por exemplo, é terno poema dedicado ao filho “Dudu”, de 11 anos. “Ele tem pressa de calçar 38,/ talvez 42./ Quer pedir uma menina em namoro/ antes dos 10./ Tem preocupações/ com uma futura barba./ (quem vai ensinar?)”.   Eróticos à parte   Assim, dividido em três partes – “Peças”, “Tabuleiro” e “Jogadas” – “Xadrez” é aquele tipo de livro que segura do sumário às notas do fim do livro. E isso não é exagero. Nelas, a poetiza cita “Durante”, segundo ela, um poema foi escrito “em condições especiais” e publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais, do ano passado.   E está nele outra vertente do amor, a erótica. “Tomava vinho/ no cálice do meu corpo,/ às talagadas/ enquanto a língua/ trafegava/ a intervalos,/ entre meus cimos/ e meus abalos/ sísmicos”. “Este, sim, é um poema sobre o erotismo”, avisa Ana Elisa, lembrando recente polêmica na qual se viu envolvida involuntariamente.   No caso, um poema da escritora para adultos, intitulado “Ciuminho Básico”, foi achado, provavelmente na internet, por uma professora substituta. O poema foi impresso e entregue para alunos de dez anos, de uma escola da Região Metropolitana de BH.   O texto fala de uma mulher ciumenta que prepara vinganças para o parceiro, com um certo humor negro. Outros dois poemas dela sobre amor, também estavam no material. O caso chegou até a imprensa e a polêmica tomou proporções nacionais.   A escritora com vários livros infantojuvenis acredita que a folha tenha sido montada para preparar os alunos para uma palestra com ela, no Sesc, sobre “gostar de ler” - o material foi feito sem o conhecimento dela. “Uma menina fez uma pergunta e disse que tinha gostado do poema. Eu me assustei: 'Ué, vocês andaram lendo um poema meu para adulto?' E continuei a palestra. Eles fizeram perguntas sobre ser escritor”, lembra.   Censura desmedida   Com a notícia correndo rádios, TVs e rede sociais , Ana Elisa lamenta: “A gente não é escutado. Virei autora de poema erótico. Mas não é a minha especialidade”. Segundo ela, as pessoas não entendiam o que tinha acontecido. “Achavam que eu tinha ido lá para panfletar. Mas tenho um histórico de trabalho com literatura de mais de vinte anos”, avisa.   Ana Elisa diz que mesmo hoje, mais de um mês após o incidente ainda é atacada. “De vez em quando, alguém raivoso manda alguma coisa pelas redes sociais, me ameaçando. Como se eu fosse uma figura degenerada. A questão da faixa etária é que pegou e não fui eu quem distribuí”, diz.   O fato é que Ana Elisa não é a primeira escritora do mundo a colocar palavrões ou abordar o erotismo em suas obras. Notáveis como Drummond e Adélia Prado já experimentaram estes sabores. Ela teme que uma certa hipocrisia, mas entre os adultos mais púdicos, rechace a criatividade de autores – mesmo para texto cotados para aqueles leitores acima dos 18 anos.   “Não posso indicar Drummond porque é erótico, que escreveu 'O Amor Natural'. Adélia Prado, Hilda Hilst têm textos eróticos. Na Minas Gerais do século 18, Silva Alvarenga escreveu “Glaura – Poemas Eróticos”, que caiu no vestibular da UFMG, de 2004. Não pode abordar um livro que tenha violência. Tem que indicar um livro que não perturba a ordem”, reflete.     Virando a página   Será mesmo um fim de jogo no tabuleiro? Pelo teor do livro novo e pelos planos da escritora, parece mesmo que há é muita água de inspiração para rolar sob a ponte lírica da escritora. É tanto que, para o segundo semestre, ela finaliza mais dois livros. “Vou deixar de escrever erótico? Não! Vou escrever o que eu quiser!”   O primeiro traz contos curtos e “violentos” - com referência ao cenário urbano. O outro traz mais poemas, o quinto livro dela na linha de infantojuvenis – idioma no qual Ana Elisa é fluente há mais de 20 anos – seja na arte, seja diante das centenas de alunos que já formou como professora no ensino médio, na graduação e na pós-graduação no Cefet-MG.   Neste mês, Ana Elisa ainda participa da coleção “Leve Um Livro”, que é distribuída gratuitamente nos centros culturais e pontos de grande circulação da capital mineira. O livro de poemas “Marmelada” ela assina com o poeta Bruno Brum – um colega da geração que está se firmando por aqui.     SERVIÇO Lançamento do livro “Xadrez”, neste sábado (20), às 11h30, na Livraria e Editora Scriptum (rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi) Tel.: (31) 3223-1789

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