'Antígona' reúne grupo francês e atores mineiros

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
04/12/2015 às 07:35.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:12
 (Alain Dhomé)

(Alain Dhomé)

Os atores da companhia francesa Pitouch chegaram ao Brasil apenas um dia após os atentados de 13/11 em Paris. Desembarcaram pois, aturdidos, aterrorizados. Não bastasse, já estavam suficientemente informados sobre a tragédia de Mariana. Signatários de um teatro que foge em direção diametralmente oposta à zona de conforto, eles, juntamente a dois atores belo-horizontinos, acharam por bem agregar esses acontecimentos à montagem que terá première mundial nesta sexta (4), na cidade.
 
O título da empreitada – “Antígona” – poderia até já entregar o ouro. Só que não. A tragédia de Sófocles, aqui, entra como base de um texto que, desde sua gênese, já se propunha a se filiar ao chamado “teatro de provocação”. Tanto que entra em cena o subtítulo: “Outra vez tenho vontade de bater em alguém...”.
 
“Tudo o que aconteceu (Paris, Mariana) só fortaleceu o que a gente queria dizer sobre o homem ser o lobo do homem”, diz Jefferson da Fonseca Coutinho, um dos atores mineiros envolvidos na montagem.
 
“A gente já trabalhava sobre a lista de mortos da ditadura no Chile, na Argentina, e acrescentamos a isso os mortos em Mariana, em Paris. O fato é que há no mundo, hoje, uma ignorância, uma idiotização em massa de pessoas que agem em nome de uma crença ou do poder econômico”, dispara Jefferson, revelando a vontade (“enorme”) do grupo de fazer com que o comichão que visam provocar “chegue ao coração do público”.
 
Havana, 2013
 
O embrião de toda essa história localiza-se em Havana, em 2013. De passagem por lá, Jefferson conheceu o Pitouch. E ficou simplesmente encantado “com a ideia do teatro como ferramenta de provocação, com a qual sempre me identifiquei”.
 
Em 2014, o grupo veio a BH na grade do Festival de Teatro Palco & Rua, o FIT, iniciativa na qual Jefferson atuava como curador. “Aí tive a certeza que valeria a pena, como artista, ensejar um trabalho em conjunto. Mais tarde, estive em Paris e amadurecemos a ideia de trazê-los ao Brasil, o que acabou demandando um esforço enorme”, diz ele.
 
O texto trata de questões como meio ambiente, família (“a hipocrisia ao estar junto”, detalha Jefferson) e o ideal de perfeição que é vendido (“o querer sempre ser melhor e ter mais, melhor e ter mais, melhor e ter mais... essa competição estúpida à qual o sistema te induz”).
 
Serviço
 
“Antígona – Outra vez tenho vontade de bater em alguém...” – Desta sexta (4) ao dia 6/12 e de 10 a 12/12, às 20h, no Centro de Referência da Moda, CRModa (rua da Bahia, 1149, tel: 31-3277-4384). R$ 40 e R$ 20 (meia). Venda on-line: sympla.com.br. Classificação: Livre

A peça, que critica o consumo exacerbado, denuncia o ódio e a intolerância e explora a diversidade, também traz, no elenco, a mineira Ana Cândida Cardoso.
 

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