Apito de panela de pressão está entre os sons inusitados da trilha de websérie mineira

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
20/01/2021 às 19:05.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:58
 (TEREZA QUEIROZ/DIVULGAÇÃO)

(TEREZA QUEIROZ/DIVULGAÇÃO)

Para gravar as trilhas sonoras da websérie “#Quarentemas”, o compositor Tatta Spalla teve que improvisar, na sala de seu sítio, uma cabaninha com cobertor e cabo de vassoura. Um expediente pouco comum, mas que aproximou o artista do conteúdo do programa, que fala justamente de formas de lidar com a pandemia. 

O sítio em Nova Lima foi a maneira que Spalla encontrou para proteger a família. Sem poder contar com um estúdio de som, ele passou pelos vários cômodos da casa em busca de um “cantinho” em que pudesse abafar os barulhos do ambiente, valendo-se de caixas de ovos e papelão. Mas nem sempre foi possível.

“Eu usava o que tinha nas mãos. Com mudança chegando em meio a este caos todo, cada dia eu ficava num lugar diferente. Não é um ambiente normal de gravação, em que eu pudesse me fechar. Às vezes, quando ia ouvir o que fiz, tinha um som diferente e era uma cigarra ou cachorro que latia no vizinho”, relata Spalla.

Todo o material feito nestas “condições especiais” acaba de ser disponibilizado nas plataformas digitais. O público poderá conferir 25 canções presentes nos 20 primeiros episódios que integram a websérie. “Este processo do fazer foi muito interessante, porque cada ambiente tinha uma particularidade”, analisa.

Débora Falabella protagoniza o 18º episódio da websérie, que irá ao ar hoje, às 20h, nas redes sociais do projeto. Foi gravado no período em que ela estava em Ushuaia, na Argentina

Ele lembra do dia em que o apito da panela de pressão virou o som de naves alienígenas. “Estava compondo e cozinhando um feijão quando um dos diretores, o Eder Santos, me ligou. No meio da conversa, ele chamou atenção para o som da panela. Eu acabei usando aquela sonoridade como textura na gravação inteira”, revela.

Em outro episódio, protagonizado por Teuda Bara, o objeto inusitado foi um cinto. “Imaginei um sertão e a mãe dando uma sova no garoto. Tive a ideia de surrá-lo na parede e deu o maior pé, tornando-se uma coisa cinematográfica”, registra Spalla, que dedica a música a Sérgio Ricardo, compositor de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), falecido no ano passado.

Spalla observa que, se estivesse num estúdio de som profissional, não teria criado tantas experimentações. “Se, por um lado, tem a questão de não poder usar tecnologia a seu favor, por outro, vamos criando coisas novas com o que tem”, assinala o compositor, que conta com quatro álbuns gravados, sendo o último gravado e lançado na Europa.

O artista destaca que boa parte das trilhas foi baseada apenas em apontamentos dos diretores, sem ter acesso ao material filmado. “Vi alguns poucos episódios (antes de compor), mas confesso que o norte dos diretores ajudou mais. Não sou de ficar elocubrando em cima da imagem. Dou, no máximo, uma olhada e solto a rédea”, explica.

Com um volume 2 das trilhas de “#Quarentemas” previsto para breve, ele comemora o resultado, sublinhando a possibilidade de transitar por estilos inéditos em sua carreira. “Foi um trabalho de pesquisa muito interessante. Fiz desde música grega a punk. Nunca tinha composto chorinho na minha vida e fiz um para a série”, anima-se. 

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