(TEREZA QUEIROZ/DIVULGAÇÃO)
Para gravar as trilhas sonoras da websérie “#Quarentemas”, o compositor Tatta Spalla teve que improvisar, na sala de seu sítio, uma cabaninha com cobertor e cabo de vassoura. Um expediente pouco comum, mas que aproximou o artista do conteúdo do programa, que fala justamente de formas de lidar com a pandemia.
O sítio em Nova Lima foi a maneira que Spalla encontrou para proteger a família. Sem poder contar com um estúdio de som, ele passou pelos vários cômodos da casa em busca de um “cantinho” em que pudesse abafar os barulhos do ambiente, valendo-se de caixas de ovos e papelão. Mas nem sempre foi possível.
“Eu usava o que tinha nas mãos. Com mudança chegando em meio a este caos todo, cada dia eu ficava num lugar diferente. Não é um ambiente normal de gravação, em que eu pudesse me fechar. Às vezes, quando ia ouvir o que fiz, tinha um som diferente e era uma cigarra ou cachorro que latia no vizinho”, relata Spalla.
Todo o material feito nestas “condições especiais” acaba de ser disponibilizado nas plataformas digitais. O público poderá conferir 25 canções presentes nos 20 primeiros episódios que integram a websérie. “Este processo do fazer foi muito interessante, porque cada ambiente tinha uma particularidade”, analisa.
Ele lembra do dia em que o apito da panela de pressão virou o som de naves alienígenas. “Estava compondo e cozinhando um feijão quando um dos diretores, o Eder Santos, me ligou. No meio da conversa, ele chamou atenção para o som da panela. Eu acabei usando aquela sonoridade como textura na gravação inteira”, revela.
Em outro episódio, protagonizado por Teuda Bara, o objeto inusitado foi um cinto. “Imaginei um sertão e a mãe dando uma sova no garoto. Tive a ideia de surrá-lo na parede e deu o maior pé, tornando-se uma coisa cinematográfica”, registra Spalla, que dedica a música a Sérgio Ricardo, compositor de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), falecido no ano passado.
Spalla observa que, se estivesse num estúdio de som profissional, não teria criado tantas experimentações. “Se, por um lado, tem a questão de não poder usar tecnologia a seu favor, por outro, vamos criando coisas novas com o que tem”, assinala o compositor, que conta com quatro álbuns gravados, sendo o último gravado e lançado na Europa.
O artista destaca que boa parte das trilhas foi baseada apenas em apontamentos dos diretores, sem ter acesso ao material filmado. “Vi alguns poucos episódios (antes de compor), mas confesso que o norte dos diretores ajudou mais. Não sou de ficar elocubrando em cima da imagem. Dou, no máximo, uma olhada e solto a rédea”, explica.
Com um volume 2 das trilhas de “#Quarentemas” previsto para breve, ele comemora o resultado, sublinhando a possibilidade de transitar por estilos inéditos em sua carreira. “Foi um trabalho de pesquisa muito interessante. Fiz desde música grega a punk. Nunca tinha composto chorinho na minha vida e fiz um para a série”, anima-se.