Arnaldo Baptista reestreia "Sarau: O Benedito?" ao lado de seu piano de cauda

Hoje em Dia
29/07/2014 às 08:03.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:33
 (Beto Figueiroa/O Santo)

(Beto Figueiroa/O Santo)

É subjetivo dizer que Arnaldo Baptista é o maior ícone do rock brasileiro. Certeza é que, dentre vários artistas emblemáticos, ele é, sim, o mais transgressor. De cabeça pensante dos Mutantes, banda que revolucionou a música nacional, a artista plástico, Arnaldo também é um amante dos amplificadores valvulados e “estudioso de elementos científicos”, como gosta de dizer.   De fala doce e sensibilidade singular, Arnaldo tem motivos de sobra para festejar. Os sete discos dos Mutantes serão relançados nesta terça-feira (29), em um box comemorativo que ainda traz gravações demo e canções raras. ‘Lóki’, seu primeiro disco solo, acaba de completar 40 anos e continua sendo festejado pela crítica e saboreado por antigos e novos fãs.   Não bastasse, ele já trabalha nas composições do quinto disco da carreira solo, “Esphera”, e volta a BH no próximo dia 3, no palco do Cine Theatro Brasil, para apresentar o “Sarau: O Benedito?”, apenas com um piano de cauda – e quase 70 músicas no repertório.   “O show, quase à capela, é uma aventura pra saber o quanto eu alcanço com o teclado. Assim o piano encontra mais respaldo. É uma coisa que abrange a totalidade no sentido pessoal. Voltar a tocar piano foi como uma segunda infância para mim. Após meu acidente (em 1982) tive que reaprender a falar. Talvez isso se reflita na minha música, um lado mais infantil. Ou talvez por eu ser meio palhaço mesmo”, brinca. A relação de Arnaldo com o instrumento vem da influência da família. Ele conta que, quando criança, em vez de brincar de cowboy, ficava em casa conhecendo os tons e dissonâncias do piano da mãe.   Afeto que favoreceu a aproximação com outros instrumentos, que, hoje, ele leva em paralelo à rotina de artista plástico – lado esse que também estará no show. Os desenhos e pinturas de Arnaldo Baptista, que compõem o vídeo-cenário, ajudam a dar um toque intimista ao sarau. “Com meus desenhos, as pessoas podem ver o Arnaldo de guerra”.   A intuição de Arnaldo e a reação da plateia fazem com que o set list seja escolhido na hora, embora canções emblemáticas como “Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki?”, “Não Estou nem Aí”, “Jesus Come Back to Earth” e “Balada do Louco” já façam parte da apresentação. De resto, Arnaldo toca o que der na telha.   Com PH   Outra novidade no repertório é a inclusão de músicas do novo álbum, “Esphera”, sobre o qual Arnaldo faz questão de ressaltar a grafia com “ph” necessária ao duplo significado da palavra. “São dois lados; a espera que temos na vida, de aguardar lados bons e ruins e a esfera no sentido de energia, na esperança que tenho que a ciência sorria para a gente”.   O álbum já conta com 14 faixas e algumas, como ‘I Don’t Care’ e ‘Walking in the Sky’ estarão no show. Hoje aos 66 anos, Arnaldo ainda vive entre a linha de ciência, misticismo e tecnologia, elementos que para ele fazem todo o sentido. “Esse lado de física quântica, disco voadores, vou levando adiante, em paralelo ao infantil. Tenho muito essa coisa de ‘Eram os Deuses Astronautas’, nas músicas e desenhos. Quer saber? Pink Floyd explica!”.     Quarenta anos de um disco icônico, ‘ Lóki’   Um álbum com a energia do rock, mas sem guitarras. Assim é “Lóki”, primeiro disco solo de Arnaldo Baptista que comemora 40 anos ainda reverberando influências nas novas gerações da música brasileira. Considerado um dos melhores discos da década de 1970, o trabalho traz dez faixas que flagram um artista inspirado e melancólico em suas várias facetas; do rock ao samba, da bossa nova ao jazz.   “Lóki foi uma experiência sobre o quanto eu conseguia fazer sozinho. Estava em uma época de transição. Saí da casa de meus pais, me separei da Rita e sai dos Mutantes. Na época, ouvia muitos trios de bossa nova e me aventurei nesse sentido transcendental”, diz.   Sobre a gravação, Arnaldo conta que aquela foi “uma época esquisita”. Produzido por Roberto Menescal, Lóki contou com participações de Liminha e Dinho Leme, dos Mutantes – no baixo e bateria, respectivamente – que, na gravação, não aprovaram o resultado. “Deixem o disco assim, tem que soar espontâneo”, relembra Arnaldo, sobre o diálogo com os ex-companheiros.   E ficou como Arnaldo quis. “Entendi que, dentro de mim, havia uma coisa que fazia sentido. Coloquei isso no álbum e deu certo. Lóki virou ‘luck’ para mim”. Ao mesmo tempo que expurgava seus demônios no disco, como o amor visceral por Rita Lee, a solidão pelo abandono dos amigos e a saída da banda, Arnaldo flertava com a ciência e o misticismo, experiência que pode ser ouvida em ‘Será Que Eu Vou Virar Bolor?’, música que abre o disco.

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