Artistas em BH abrem as portas de casa para o público

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
29/09/2014 às 07:17.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:23
 (Samuel Costa/Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

Guardiã de grandes obras e cidade escolhida por importantes nomes das artes visuais, Belo Horizonte se transforma, a cada ano, em palco de espaços, experiências e ações que têm como intuito aproximarpúblico e crítica dos artistas.

Das práticas que vem sendo adotadas por muita gente está a transformação da própria casa em galeria um espaço para acolher amigos, expor obras e
discutir arte.

“Posso assegurar que fui pioneiro na criação de galeria pessoal e residencial no mundo. Em 1990 abri a primeira em Ouro Preto e, em 1992. Seguindo esse conceito, abri outro espaço em Tiradentes que, aliás, existe até hoje”, afirma o pintor Oscar Araripe, que acaba de inaugurar no bairro Anchieta, zona sul de BH, sua primeira Home Gallery.

“A grande diferença é que em Tiradentes são duas casas bem grandes e a gente mora nos fundos. Além disso, as duas ficam abertas para o público. Em BH é diferente neste aspecto: será uma galeria mais íntima e familiar”.

O artista explica que a galeria domiciliar é uma experiência que reverbera o lado da gentileza. “Como aqui a galeria fica em um prédio residencial, será necessário que as visitas sejam previamente combinadas”.

O espaço conta com 16 telas na parede e outras 20 projetadas em uma tela. O revezamento é rápido já que muitos trabalhos são vendidos rapidamente.

Outro nome que transformou a residência em espaço aberto para visitação é o artista plástico, Glauco Moraes. O espaço, batizado “Casa Dourada” está localizado no São Bento, na zona sul.

Lá estão dispostas 52 obras da própria lavra do artista (onde são exploradas figuras humanas com muitas cores), além de trabalhos de Inimá de Paula, Yara Tupinambá, Petrônio Bax, Jarbas Juarez, Pedro Mota, Daniel Bilac e Fernando Lucchesi, entre outros, que fazem parte do acervo pessoal de Glauco. Ao todo, o artista conta que tem 150 obras Espalhadas pelas paredes da casa e o público terá acesso a todos os cômodos da casa, exceto, nos ambientes íntimos.

“Há muito tempo queria fazer uma ‘casa-galeria’ porque moro em uma casa que fica numa avenida bem movimentada. Bem iluminada e segura, preparada justamente para morar, pintar, ter o ateliê e expor obras. É uma casa-galeria para mostrar a arte de Minas”.

Arte que se mostra em casa

O artista plástico Fernando Pacheco transformou a própria casa em um centro cultural. Desde o início do mês, o chamado “Centro de Arte Fernando Pacheco” recebe exposições, performances teatrais, literatura e música mineira.

Uma tentativa de implantar um espaço de convivência e diálogo entre as diversas artes e pessoas. Segundo ele, a ideia surgiu de suas exposições mundo afora.
“Observei iniciativas similares em países que visitei, como a China, Nova Zelândia, Taiwan”, enumera.

“Acredito que o Centro não precisava ser destinado apenas às artes visuais, e sim a promoção da convivência com todas as artes, passando pela música,
literatura e o teatro”, observa.

Pacheco afirma ainda que quer reforçar o lastro cultural da Pampulha, contornada por obras de Niemeyer e Burle Marx. “Muitos dos meus colegas abriram ateliês
pelos lados de Nova Lima, mas a Pampulha é um cartão cultural”, avalia.

Depois de 40 anos de trajetória, o artista revela que o Centro é uma forma de devolver um pouco do que recebeu da capital mineira. “Sou de São João del-Rei,
mas vim para cá ainda criança e sempre morei aqui. Essa ação é uma maneira de poder retribuir, estando Juntos a pessoas de teatro, da música, da literatura. E semear, na Pampulha, um pouco mais de arte”.

Assim como Pacheco, Glauco Moraes também quer aproximar a arte do belo-horizontino. Mais ainda: “Quero quebrar esse pedestal no qual está a arte”, afirma o artista nascido na Guiana Francesa e apaixonado por gatos da raça Sphyns (sem pelos, como o usado por Lady Gaga no clipe de “Bad Romance”). Longe de toda pompa, mas com talento a perder de vista, o mineiro de Ponte Nova, Eduardo Fonseca, também faz da casa seu ateliê, um espaço instalado no bairro Floresta, região Leste de Belo Horizonte, e que está sempre aberto para receber amigos e amantes da arte.

“É onde recebo quem aparece pro cafezinho da tarde ou dar uma espiada na produção”, comenta ele justificando que a iniciativa nasce para quebrar a rotina.

“Como trabalho em casa preciso estar sempre tentando fazer as coisas diferentes, quebrando as regras do dia. Se não fazemos isso a rotina vai nos deixando cinza, não que eu não goste do cinza, mas é morno. E as coisas precisam ser mais quentes ou frias pra fazer a engrenagem funcionar”, ensina.

A iniciativa de abrir o espaço de criação, inclusive, começa a despontar na região. “Estão surgindo muitos ateliers coletivos ou artistas se mudando pro Santa Tereza e arredores, e isso acaba contribuindo para o contato da turma. Algumas vezes, nas horas de tédio, acabo indo pra casa de um ou de outro pra fazer a cerimônia do cafezinho da tarde também”.

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