Artistas indígenas do Peru pintam chão do entorno da Praça Raul Soares; ação faz parte do Cura

Da Redação
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26/10/2021 às 15:28.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:07
 (Eliana Sangay/Divulgação)

(Eliana Sangay/Divulgação)

Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas do povo Shipibo (Peru), pintarão nesta sexta-feira (29) o chão da Av. Amazonas, no entorno da praça Raul Soares, região Central de BH. O trabalho faz parte da programação da sexta edição do Cura – Circuito Urbano de Arte. Pela primeira vez no circuito, uma obra será pintada ininterruptamente, 24 horas por dia.

Os Shipibo-Konibo são uma etnia que vive às margens do rio Ucayali, nome que o rio Amazonas recebe na floresta peruana. Por aqui, Sadith e Ronin fazem sua pintura-ritual evocando suas raízes, língua, costumes e conhecimentos de cura. 

Uma marca forte da identidade shipiba são os kenés (já declarados como patrimônio cultural do Peru), bordado mítico de padrões geométricos e labirínticos, inspirado pela cultura do chá de Ayahuasca. Nas cerimônias de beberagem desta receita milenar, preparada com o cozimento de plantas amazônicas, os xamãs Shipibo entoam seus ícaros, canções medicinais e curativas, e visualizam em suas mentes as formas e os desenhos que, depois, serão bordados em tecidos, ponto a ponto. 

Os Shipibo são artistas ancestrais, suas técnicas e rituais são passados de geração em geração, articulando o conhecimento da biodiversidade, das artes, das práticas e plantas com poder de cura. “Com muita alegria e satisfação difundimos nossa cultura, através dos murais que criamos. Nos murais estampamos o conhecimento de nossos ancestrais, desenhos com padrões geométricos de energia, desenhos que falam da constelação do universo, plantas medicinais, o poder de nossos animais como guardiões de nossa selva”, diz Ronin Koshi, também ativista e líder indígena. 

Vivência 

De sábado (30) até terça-feira (2), o CURA promoverá uma vivência na praça de presença marajoara, em que o chão é entendido como sagrado, território dos mortos, da comunidade, de onde sai o alimento, de onde sai a cura, por onde correm os rios. 

A vivência será guiada pela cozinheira, artista e pensadora indígena Tainá Marajoara, numa criação coletiva com outras três mulheres (Mayô Pataxó, Patrícia Brito e Silvia Herval). Um encontro que será, ao mesmo tempo, fruto de um processo artístico e de intenções, encantarias e espiritualidade.

Estarão presentes quatro alimentos-chave (farinha de mandioca, tucumã, pimentas e beijus), que são um pouco do gosto da floresta. 

Durante a vivência guiada, haverá um espalhar de sementes nas pedras portuguesas. “A gente quer atuar num processo de contracolonização, florescer no chão (ainda que simbolicamente) jenipapo, tucumã, urucum... entendendo que a pedra da colonização precisa sair do nosso caminho e, com ele, este sistema de pisotear, de cimentar nossa memória, nossa história, nossa identidade. Será um gesto simbólico com poesia-criação-inspiração, que é base de construção dessa vivência, um gesto de replantar para que o território floresça entre as pedras portuguesas, da colonização, que insistem em ser atiradas sobre nós”, diz Tainá Marajoara. 

Confira a programação do Cura para os próximos dias:

Até 2 de novembro:

  • Pintura de Empena pelo artista Ed-Mun (MG)  - Edifício Paula Ferreira  - Praça Raul Soares, 265  
  • Pintura de Empena por Kassia Rare Karaja Hunikuin com Coletivo Mahku - Movimento dos artistas Huni Kuin (AC) - Edifício Levy - Av. Amazonas, 718

De sexta a segunda:  

  • Pintura-ritual - Chão da Av. Amazonas, ao redor da Praça Raul Soares - Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo (Peru)

De sábado a 2 de novembro:  

  • Vivência guiada por Tainá Marajoara (PA), com Patrícia Brito (MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG)
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