Artistas usam linguagem de sinais para aproximar público do teatro e da música

Elemara Duarte - Hoje em Dia
12/03/2015 às 08:55.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:19
 (João Caldas Filho/ DIVULGAÇÃO)

(João Caldas Filho/ DIVULGAÇÃO)

É com uma mãozinha de Antonio Fagundes que os belo-horizontinos terão a chance de refletir sobre a vida de quem não escuta em vários sentidos. O ator traz à capital, nesta sexta-feira (13) e sábado, a primeira experiência dele junto ao público surdo-mudo. Muito mais que abordar a deficiência, a peça “Tribos” trata da inclusão – só que na prática. A segunda sessão terá uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras), iniciativa que aos poucos ganha espaço também junto a outras manifestações artísticas.

Na comédia, “Billy”, interpretado por Bruno Fagundes, filho do ator veterano, é surdo. Nasceu em uma família intelectualizada, mas os parentes não aceitam a situação.

Antonio explica que a peça trata justamente dessa incomunicabilidade, da “surdez do mundo”, do preconceito. Enfim, da falta do amor. “Não é humor negro. É uma comédia perversa. Acontece quando a pessoa se pega e diz: ‘Mas estou rindo disso?’”, resume, ao Hoje em Dia, sobre as reflexões que “Tribos” provoca.

O texto da inglesa Nina Raine foi garimpado pelo filho dele em uma apresentação fora do Brasil. “Há anos fazemos teatro e ainda não pensávamos na comunidade surda e cega”, afirma Antônio.

PORTA-VOZ

“A demanda por intérprete de Libras em eventos culturais é uma questão global de acesso e de direito da comunidade surda”, diz Mirian Caxilé, a intérprete de “Tribos”. Segundo ela, a procura por profissionais tem aumentado no Brasil, em especial nos últimos quatro anos. Mirian já traduziu até musicais.

Ao contrário do que alguns possam imaginar, o trabalho não “esfria” a arte. “Há uma técnica de tradução que chamamos de ‘sub-rogar’, em que passamos o texto com a mesma intensidade do que está sendo falado”, diz Mirian.

Até agora, a montagem da família Fagundes já emocionou mais de 200 mil pessoas. Após o espetáculo, o elenco volta ao palco para um bate-papo com o público.

Comédia “Tribos”, sexta e sábado, às 21h30, no Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, Belo Horizonte. Ingressos: R$ 70 e R$ 35 (meia)

 

Cantora interpreta de A-ha a Madonna com voz e Libras

Em Belo Horizonte, a linguagem dos surdos inspira a cantora Márcia Mazala, seja para se comunicar seja para incorporar uma sutil coreografia à interpretação que faz. Ela volta a se apresentar em 20 de março, no Normal Lounge Bar (rua Barão de Cocais, 22, Horto), a partir das 20h.

“Tenho muita necessidade de me comunicar. Aprendi em uma comunidade evangélica, ainda criança”, lembra a cantora, que também trabalha como analista de sistemas.

Márcia não faz a tradução em 100% das canções – apenas trechos, um refrão, ou, melhor, quando a inspiração mandar.

Os trejeitos chamam atenção de quem conhece as Libras. Fora isso, é algo curioso para os demais que ouvem e falam. “Em quatro horas de show, faço os gestos para trechos de músicas do Michael Jackson, Madonna, A-ha, Marcelo Jeneci, Marisa Monte e outros”.


 

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