A investida em histórias baseadas na mitologia começou no universo infantojuvenil, com Harry Potter e Percy Jackson, depois passou para produções de ação (“Fúria de Titãs”) e, com o sucesso do filão, ampliou o seu leque, apostando também nos contos de fada e nos enredos bíblicos.

Recém-lançado em DVD pela Paramount, “Noé” mostra que o resgate desse gênero, de grande sucesso nas décadas de 50 e 60, tem os mesmos elementos dessa onda mitológica no cinema. A começar pela redefinição do personagem central, agora humanizado. Os produtores descobriram que o público não quer mensagens edificantes.

VIOLÊNCIA

Por isso as tramas cada vez mais se aproximam da realidade. No caso do filme de Darren Aronofsky, o acento está na briga do filho Cam com o pai, interpretado por Russel Crowe, e, principalmente, a violência usada pelo patriarca para cumprir sua missão, atacando qualquer pessoa que tente invadir a arca.

No lugar do sentimento de maravilhamento e aprendizado bíblico, o filme não se importa em criar polêmica, distorcendo os fatos relatados no Antigo Testamento e ousando ao colocar o espectador em dúvida sobre as decisões de Noé. O tom é assustador e não fará ninguém ficar com a sua fé renovada.

A arca é como avião pronto para decolar de uma área em conflito, com todos ao redor querendo na marra o seu lugar, nos fazendo lembrar imediatamente do desespero que toma conta dos passageiros do Titanic. Já Noé é apresentado como um fanático religioso disposto até mesmo a sacrificar seu neto.

A grande diferença aqui é que, ao invés de olhar para um passado reconfortante, Aronofsky parece dizer que os acontecimentos são atuais, refletindo a insegurança dominante no mundo, que precisaria urgentemente de um novo expurgo para se salvar.


 

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