Autores se deixam guiar pela música de Tom Jobim

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
18/01/2015 às 13:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:42
 (Rocco)

(Rocco)

Nem é uma data, digamos assim, “redonda”, como a que balizou, mês passado, os 20 anos de morte de Antônio Carlos Jobim. Mas, no próximo dia 25, os apreciadores da boa música adorariam que o eterno maestro ainda estivesse aqui, entre nós, para saudar – talvez na sua mesa cativa na Plataforma, em meio a seu séquito de amigos – seus 88 anos. Em outro escaninho que não o da música, Tom Jobim acaba de ganhar uma reverência muito particular: “Vou Te Contar – 20 Histórias ao Som de Tom Jobim” (Editora Rocco, 208 páginas, R$ 34,50), livro que surgiu a partir de um desafio.   Autores de norte a sul do país, de nomes consagrados a estreantes, selecionaram uma canção no baú das 36 composições de autoria exclusiva dele, de Tom Jobim para, a partir dessa escolha, criar uma história. A organização da empreitada coube à escritora Celina Portocarrero.   No time dos ditos autores consagrados está, por exemplo, o mineiro Silviano Santiago, que marcou seu “x” em “Cai a Tarde”. Em seu texto, ele entrelaça o amor – norte inconteste da música de Jobim – à culpa, numa história que tem como cenário o Leblon.   Na verdade, ambos os sentimentos seriam, segundo Santiago, inerentes à condição humana, “assim como as impressões digitais e o movimento espontâneo do olhar em direção à mãe”. Para o personagem (que abandona seu quitinete em Copacabana para viver um grande amor), contra a culpa que atazana na hora crepuscular “não há ralo que se fecha, não há jato de mata-inseto e muito menos frutas maduras que se escondam na geladeira”. “Na velhice, o remorso é a novidade de que quero me desvencilhar”.   Além de Silviano, Minas está representada por Branca Maria de Paula. A conterrânea de Sebastião Salgado faz de “Querida” o ponto de partida de um personagem masculino, que habita as trevas até o advento Nereida, numa caminhada que perpassa trechos clássicos da letra e cita Ulisses, “aquele que peleja”, e Penélope, “aquela que espera”.   E bem, sabe a já antológica seleção feita em 2012 pela revista “Granta”, referente aos 20 melhores jovens escritores brasileiros? Bem, um dos expoentes ressaltados pela prestigiosa publicação, o carioca Vinicius Jatobá, comparece, aqui, com texto desenvolvido a partir daquela que é indubitavelmente uma das mais célebres composições de Jobim, “Águas de Março”. Jatobá, surpreendentemente, conseguiu dar vazão à sua prosa poética em apenas duas páginas, que demandam leitura de um fôlego só, como acena a ausência de parágrafo.   O projeto gráfico da publicação é um chamariz e tanto, com direito a fotos em P&B alusivas aos temas aqui explorados.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por