Avanço da pandemia mantém produção cinematográfica suspensa em Minas Gerais

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
16/01/2021 às 22:18.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:56
 (NETFLIX/DIVULGAÇÃO)

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Apesar de Minas Gerais já contar com protocolos sanitários para a realização de filmagens, confeccionados pelos poderes públicos juntamente com a classe cinematográfica, nenhuma produção em live action foi iniciada no Estado durante a pandemia, represando vários projetos que deveriam estar prontos em 2021 e 2022.

“Determinadas produções são praticamente impossíveis de serem feitas, quando há mais de três atores e cinco figurantes em cena ou sequências de contato físico”, registra Guilherme Fiúza, diretor de “O Menino no Espelho” e atualmente na presidência do Sindicato da Indústria Audiovisual de Minas Gerais (Sindav).

Integrante das comissões de elaboração dos protocolos de filmagem para o Estado e para a capital mineira, o cineasta salienta outro ponto determinante para o não retorno imediato aos sets: os custos. Segundo ele, a compra de equipamentos de proteção individual (EPIs) e os prazos mais longos elevam bastante os valores de produção.

“A produtividade cai muito, com o trabalho acontecendo de forma mais lenta. Num estudo muito básico, é muito difícil apontar um percentual só do que chamo de custo Covid”, observa.  O protocolo, destaca Fiúza, foi elaborado de acordo com cada fase de restrições, indicando o que poderia ou não ser feito.

Além disso, uma cidade pode sofrer um aumento do número de casos a ponto de as autoridades públicas determinarem a suspensão de todas as atividades não essenciais, aumentando os custos. Segundo ele, produções menores são as mais afetadas, com os custos envolvendo testes e EPIs pesando mais no orçamento final.

Por mais que os protocolos estabeleçam critérios de segurança, com filmagens reduzidas de 12 para dez horas, é impossível controlar o que os profissionais fazem fora do set. “Um técnico pode ir para casa, um churrasco ou festa e se infectar, voltando a trabalhar no dia seguinte. Tudo isso gera uma insegurança profunda”, analisa.

Todas estas questões se aplicam a filmes que exigem atores no set. Produções como animações e documentários que usam muito material de arquivo são exceções. O trabalho do longa “Chef Jack”, dirigido por Fiúza, não foi afetado por se tratar justamente de um desenho, em que o processo pode ser feito de forma remota.

“Cada técnico foi colocado em sua casa, com computador e acesso ao servidor. Por conta disso, não atrasamos um dia sequer no nosso cronograma, mesmo durante a pandemia”, destaca. A expectativa é de que “Chef Jack” se torne o primeiro longa de animação da história do cinema mineiro.PARAMOUNT/DIVULGAÇÃO / N/A

Tom Cruise reclamou de falhas de protocolo durante as filmagens de "Missão: Impoossível 7" na Itália

Polo de Cinema de Cataguases espera vacina para retomar atividades

Um dos centros de produção audiovisual mais ativos de Minas Gerais, o Polo de Cinema de Cataguases, na Zona da Mata, está completamente parado.

“Do ponto de vista de produção, todos filmes de 2020 e início de 2021 estão paralisados. Nenhum entrou em produção”, lamenta o diretor executivo Cesar Piva.

O Polo chegou a criar um laboratório com profissionais de saúde e arquitetura, para viabilizar a produção do média-metragem “O Saci”, de Bruno Benec, mas a ideia acabou sendo abortada.

“Era a menor produção que tínhamos, mas com o agravamento da Covid, passamos para este ano, pós-vacina”, registra Piva.

O documentário “Ary”, sobre o compositor mineiro Ary Barroso, conseguiu avançar um pouco, ao realizar as locuções nos primeiros dias de janeiro.

A saída encontrada pelo diretor André Weller foi gravar a voz de Lima Duarte no prédio do ator, em Indaiatuba, interior de São Paulo.

Um dos vizinhos de Duarte é o cantor Sergio Guizé, que tem um estúdio de som em casa. As gravações levaram dois dias, seguindo os protocolos de segurança.

“Por ser um documentário que terá muita imagem de arquivo, conseguimos fazer alguma coisa com equipes muito pequenas”, ressalta.

Também pesou na paralisação a questão dos custos, especialmente devido ao prolongamento das filmagens.

“Fica tudo mais caro. Pelos nossos estudos, as filmagens teriam uma duração 50% maior, o que significa uma equipe toda mobilizada por mais tempo”, aponta.

A questão da segurança é outro entrave, pois boa parte dos projetos envolve cenas com público e nas ruas, para aproveitar as características da cidade.

“Não são produções de estúdio. A nossa marca são as locações, com participação da comunidade. Um telefilme, ‘Comadres’, foi adiado duas vezes por envolver 60% de velhinhos”, revela.

Mesmo com a vacinação, Piva acredita que o sistema de trabalho será modificado, com as filmagens sendo feitas ainda sob condições específicas.

Até mesmo filmes prontos do Polo estão sofrendo com a paralisação, já que muitas salas de exibição no país estão impedidas de funcionar.

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