Bandas e artistas mineiros de rock assinam manifesto contra o fascismo e a intolerância

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
24/10/2018 às 17:45.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:24
 (Divulgação )

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“O rock, em todas as suas variações, especialmente em um país tão miscigenado e culturalmente rico como o Brasil, traduz a inclusão, e não é, como muitos querem fazer acreditar, arte descolada da realidade, apolítica”. Esse é um dos trechos do “Manifesto Rock Contra o Fascismo”, lançado no último sábado, durante a Virada Pela Democracia, no Matriz Casa Cultural, icônico reduto roqueiro de Belo Horizonte. Assinado por mais de 20 bandas e artistas, o texto se posiciona em favor da liberdade de expressão e contra os discursos de ódio presentes nas discussões sobre eleição no país. 

“O rock, em todas as suas variações, especialmente em um país tão miscigenado e culturalmente rico como o Brasil, traduz a inclusão, e não é, como muitos querem fazer acreditar, arte descolada da realidade, apolítica”. Esse é um dos trechos do “Manifesto Rock Contra o Fascismo”, lançado no último sábado, durante a Virada Pela Democracia, no Matriz Casa Cultural, icônico reduto roqueiro de Belo Horizonte. Assinado por mais de 20 bandas e artistas, o texto se posiciona em favor da liberdade de expressão e contra os discursos de ódio presentes nas discussões sobre eleição no país. A ideia partiu do músico e poeta César Gilcevi, da banda Cadelas Magnéticas, tendo em vista fatos recentes como a reação adversa aos shows do ex-Pink Floyd Roger Waters no Brasil. “Constatamos que o rock estava se tornando símbolo de reacionarismo e fascismo, coisas que as bandas brasileiras sempre combateram. O choque da ida de um candidato abertamente racista ao segundo turno das eleições e de manifestações no show de Waters foram o auge”, explica. “Achei que tínhamos que mostrar que há bandas que mantêm o espírito contestador do estilo e que se posicionam a favor da democracia e dos direitos humanos”, diz.

Gilcevi, então, convidou para escrever o texto o cantor e produtor cultural Roger Deff, integrante da banda Julgamento, cuja trajetória transita entre o rap e o rock. “Apesar do nome, o manifesto não evidencia só o rock. O que está em jogo é a liberdade de expressão. O tal candidato já demonstrou completa ojeriza às artes e tem estimulado isso nos seus eleitores, criando uma onda de ódio ao pensamento artístico livre e crítico”, afirma o artista. “Numa eventual gestão desse sujeito, não há possibilidade da arte florescer com o apoio do Estado. Não vamos ter mais o Ministério da Cultura e, se tivermos, ele terá um forte viés ideológico de ultra-direita”, observa.

Origem transgressora 

Para Gilcevi, é importante ressaltar que as origens do rock remetem à transgressão dos menos favorecidas. “O rock foi criado por uma mulher negra filha de catadores de algodão, Sister Rosetta; um trombadinha, ladrão de carros, Chuck Berry; e por um homossexual, Little Richard. Ou seja, a voz primordial do rock é a voz dos excluídos”, afirma. Humberto Effe, da lendária banda carioca Picassos Falsos, faz coro. “O rock vai além do som. É uma atitude libertária, assim como outros gêneros da música negra, como o funk e o samba. A música sempre esteve ligada a um sentido de liberdade. E ela precisa dessa liberdade. O Estado não pode tutelar expressões e escolhas de cada um. A cultura é uma forma de o ser humano dizer o que é e o que ele quer ser”.

Mas o que explica, então, uma crescente conservadora entre o público roqueiro? “O rock acabou sendo muito consumido por uma fatia da classe média brasileira que se entende elite, mesmo não sendo. Essa classe média pegou para si o discurso do rock, sem entender a mensagem. Foram na onda de que o rock é música de bom gosto, inteligente, o que por si só já mostra um pensamento elitista”, defende Deff. “A sociedade brasileira está dividida e isso se reflete também na música. As pessoas foram ao show de um artista desde sempre militante contra o fascismo, que teve o pai morto por nazistas na Segunda Guerra Mundial, e exigiram dele uma posição apolítica e de música de entretenimento. Estarrecedor constatar que provavelmente nunca leram ou não entenderam nenhuma das letras dele”, completa Gilcevi. 

Bruna Vilela, da banda Mieta, defende que o subjetivo é político e que a arte tem, sim, o papel de provocar transformações sociais. “Somos uma banda com três mulheres, duas lésbicas e uma negra, bissexual. Então, a gente sente na pele agendas políticas ou pensamentos conservadores e fascistas que vão contra a nossa existência. É nossa responsabilidade se posicionar nesse tecido social enquanto artistas, porque o sangue jorrado de qualquer opressão social sempre respingará em nós”, afirma. “Por isso, o manifesto é importante. Precisamos mostrar que existimos e resistimos, e que vamos continuar vivendo a despeito de tudo o que está acontecendo”. 

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