Bibliotecária usa a criatividade para despertar o interesse de alunos pela cultura afro-brasileira

Elemara Duarte - Hoje em Dia
20/11/2014 às 08:26.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:05
 (Frederico Haikal/ Hoje em Dia )

(Frederico Haikal/ Hoje em Dia )

Não obstante o nome (cuja pronúncia remete ao inglês maybe, que significa “talvez”), com a auxiliar de biblioteca Meibe Rodrigues não há dúvidas, só certezas. E uma delas é: não é preciso esperar por uma data como a desta quinta – Dia da Consciência Negra – para trabalhar a miscigenada cultura brasileira. Assim ela vem fazendo desde setembro, quando começou a espalhar dezenas de plaquetas de papel pela Escola Municipal Oswaldo Cruz, no bairro Jardim América, Região Oeste de BH.   “Onde está Carolina Maria de Jesus?”, “Procura-se Carolina...” Alunos, pais e funcionários começaram a se preocupar com o anúncio aparentemente trágico. “Meibe, quem é essa menina que sumiu?”. Isso, porque sempre há casos de adolescentes que desaparecem no bairro. “Vi essa tal de Carolina no metrô”, garantiu um aluno. Até a polícia bateu no portão da escola querendo “pegar mais informações” sobre a sumida.    Com a mobilização, foi preciso abrir o jogo. Meibe pediu à orientadora da Informática, Viviane Delmaschio, para auxiliar os curiosos nas buscas on-line sobre aquele nome. Depois, separou alguns livros de Carolina e os deixou bem aparentes na biblioteca – enfim, as pistas concretas.   Mistério solucionado!    E a “tal de” Carolina começou a ser conhecida por todos. Negra, mineira, mas radicada em São Paulo, favelada, catadora de reciclados e uma originalíssima escritora que morreu em 1977, e cujo centenário de nascimento é lembrado neste ano. “Uma coisa que sempre me incomodou é por que lembramos da consciência negra apenas no dia 20 de novembro? Resolvi fazer isso por meio da obra da Carolina”.   Meibe diz que, além dos projetos artísticos que coloca em prática na escola, as ações passam pelo comportamento. “Vai na atitude, no jeito de vestir. Outro dia, uma aluna perguntou porque eu não passo prancha no cabelo. Disse que gosto dele assim mesmo, black”. Por outro lado, lembra, há alunos que dizem que o cabelo de Meibe “parece algodão”.   “Sofri ‘trancismo’!”, aproveita a deixa, o aluno Gustavo de Almeida e suas bem-trabalhadas tranças rastafári, enquanto ouvia a entrevista. Juntamente com os colegas Diana Franco de Souza e Pedro Leonardo dos Santos, eles trabalham em um perfil no Facebook – o “Trio do Traço” – no qual, hoje, vão fazer um dia para tratar de racismo e bullying, por meio de ilustrações da própria lavra.   Além do trio, outros alunos também gostaram da mobilização. “Ela achou um sapato para a filha no lixo!”, comenta Davi Martins da Cruz Gomes. “É o que a gente vê nas ruas”, completa Eduarda Rodrigues de Souza. Ambos, alunos da 6ª Série, do 7º Ano. Carolina nasceu numa favela e escreveu um clássico – “Quarto de Despejo” – hoje traduzido em vários idiomas. “Mesmo morando em uma comunidade, mostro a eles que é possível mudar qualquer situação por meio da leitura”, diz Meibe.    Sugerido pelo poeta, professor e ativista gaúcho Oliveira Silveira (1941-2009), o Dia da Consciência Negra entrou para o calendário oficial do país em 2011. Trata-se da data da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares – provavelmente a maior e mais duradoura comunidade de escravos fugidos do período colonial. Hoje, o local abriga o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.    DICAS DA MEIBE   - “Quarto de Despejo – Diário de Uma Favelada”, de Carolina Maria de Jesus.  - “Que Cor É a Minha Cor?”, Martha Rodrigues, com desenhos de Rubem Filho (Mazza Edições). Infantil. Com carisma, mostra as diversificadas origens do povo brasileiro. - “Meus Contos Africanos”, seleção de Nelson Mandela (Editora Martins Fontes). Infantojuvenil.  - “Bailes: Soul, Samba-rock, Hip Hop e Identidade em São Paulo”, org. Marcio Barbosa e Esmeralda Ribeiro (Quilombhoje Literatura). Artigos sobre tradicionais bailes negros em SP.

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