Bibliotecas de Belo Horizonte ainda são importantes espaços de convivência

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
16/10/2016 às 09:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:14
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Sophia é sempre solícita, distribuindo folders para os visitantes da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Para os que nunca tinham frequentado o local antes, é ela quem faz as devidas apresentações, indicando livros que já passaram pelo seu crivo.

Sophia não é funcionária da “endoteca”, como ela chama a biblioteca localizada na Praça da Estação. Aliás, pela pouca idade (4 anos), nem poderia. Essa menininha fã de livros é um exemplo de como um lugar “onde se deposita livro” pode se tornar uma segunda casa.

Mesmo num tempo em que tudo parece ao alcance de um clique, as bibliotecas continuam atraindo pessoas. E não só para o empréstimo de livros. “Muitos vêm aqui para usufruir de um espaço de convivência”, diz Fabíola Farias.

Responsável pelo Departamento de Coordenação de Bibliotecas e Promoção da Leitura da Prefeitura de BH, Fabíola cita outro exemplo, o de um senhor que está à frente dela exatamente no momento em que fala com a equipe do Hoje em Dia. “Ele vem aqui todo dia, ficando até as 19h para ler os jornais”.

 Emoção
Fabíola sabe que aquele senhor mora no bairro Renascença, assim como um pouco da história de outros tantos visitantes. “São muitas as histórias das bibliotecas e dos leitores: algumas engraçadas, outras comoventes e umas poucas bastante preocupantes”, registra.

Na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa não é diferente. Uma senhora foi ao espaço da Praça da Liberdade apenas para encontrar o livro com que ela estudou na infância – “As Mais Belas Histórias” – lembrado apenas como “aquele que tem na capa uma bruxinha voando”.

“Quando achou o livro, ela se emocionou. Passou a mão na capa e começou a chorar, repetindo: ‘É este mesmo... é este mesmo!’. Confesso que me emocionei junto com ela”, lembra Eliane Gladyr da Silva, coordenadora do setor de coleções especiais da Luiz de Bessa.

Diretora da biblioteca estadual, Alessandra Gino se recorda de “um garoto de uns 10 anos que veio aqui mais de uma semana pesquisar sobre Vital Brasil. Todos os dias procurava um aspecto diferente da vida desse importante médico e pesquisador brasileiro”. 

Intrigada, uma funcionária se aproximou e perguntou a razão de tanto interesse pelo médico. “A resposta dele foi simples: ‘Porque ele me inspira’”, recorda Alessandra. “Depois fui descobrir que o menino estuda em uma escola para crianças superdotadas”, completa Eliane.Lucas Prates Diretora da Luiz de Bessa, Alessandra Gino já presenciou casos curiosos na biblioteca

 Curiosidade
Os casos foram se espalhando entre os bibliotecários. Um deles é o de um menino do bairro Serra que ficou muito conhecido ao diariamente entrar na biblioteca do Centro Cultural Vila Marçola e, com problemas de alfabetização, pedir para os funcionários lerem histórias para ele.

A mudança da Biblioteca Infantil e Juvenil, que ficava na rua Carangola, no Santo Antônio, proporcionou uma maior interação com o público.

“Aumentou e diversificou. Como o prédio é grande e há esse espaço aberto em frente, as pessoas entram por curiosidade e viram leitoras”, registra Fabíola.

 Incentivo dado pela mãe desperta em menina gosto pela leitura

 Lucas Prates Luiz de Bessa – Biblioteca no entorno da Praça da Liberdade também serve de ponto de encontro de estudantes


Denise Parreiras trabalhou como estagiária da Biblioteca Infantil e Juvenil. O tempo passou, ela se tornou professora de educação infantil e resolveu apresentar à filha Sophia Gabrielle o lugar “onde a mamãe trabalhou”.

Hoje a biblioteca se tornou “propriedade” de Sophia. “Ela é apaixonada pelo lugar. Conhece todo mundo. Minha função é só levá-la lá. Para quem chega, ela mostra os livros que mais gostou de ler”, observa Denise.

Para se ter a exata medida da interação de Sophia com a biblioteca, num dia que ela foi à Praça da Estação e encontrou o espaço fechado, ficou “transtornada”. Na visita seguinte, foi perguntando “onde estava todo mundo”, abraçando quem via pelo caminho.

“Essa relação com a biblioteca fez muito bem a ela, despertando o gosto pela leitura. Muitas vezes é quem pede para contar a história para a gente”, destaca Denise, que lamenta não ter feito o mesmo com o filho mais velho. “Ele já tem mais dificuldade com a leitura”.

 Primeira vez
Com 18 anos, o estudante Pedro Henrique Machado aproveitou a semana sem aula para ir, pela primeira vez, à Biblioteca Estadual Luiz de Bessa, junto com a colega Gabriela Terra Zago. “Gostei demais, principalmente do ambiente, que favorece a concentração nos afazeres”, elogia.

A explicação para nunca ter visitado uma das principais bibliotecas de BH está na falta de tempo. “Moro no bairro Tupi e estudo de manhã, fazendo pré-vestibular, e, à noite, cursando o Cefet”, justifica Pedro Henrique, que pretende fazer a carteirinha na Luiz de Bessa.

“A biblioteca do Cefet está de greve e estou procurando alguns livros de referência para estudar. Minha intenção é buscá-los nas bibliotecas públicas da cidade. Alguns dos que preciso estão aqui”, sublinha o estudante.


Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte (Praça da Estação, s/nº) – Terça a sexta (9 às 19h). Sábado (9 às 14h). Para pegar livros e gibis emprestados, basta se cadastrar na Biblioteca, apresentando documento de identidade e comprovante de residência. Para menores de 12 anos, é necessária a presença de um responsável.

Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Rua da Bahia, 1.889) – Segunda, terça, quarta e sexta (8 às 18h). Quinta (8 às 20h). Sábado (8 às 12h). Para fazer a carteira: documento com foto, comprovante de endereço recente em seu nome e que tenha passado pelo Correio, contribuição de R$ 3. Para menores de 16 anos, é necessária a presença pai ou responsável ou de autorização assinada por eles. 

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