Black Sabbath e Edgar Allan Poe dominam o Barreiro

Elemara Duarte - Hoje em Dia
04/07/2014 às 12:47.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:15
 (Divulgação)

(Divulgação)

Heavy metal e literatura combinam, sim! A mistura "intertextual" tem sido feliz e vêm transformado as tardes do Centro Cultural Vila Santa Rita, na Região do Barreiro. Tudo porque o bibliotecário Diego Carlos da Silva D'Ávila - fã declarado do estilo musical - vem ministrando oficinas gratuitas para jovens na qual são debatidos os dois ingredientes culturais. Nesta sexta (4), às 13h, bem antes do jogo do Brasil pela Copa do Mundo, ele ministra a oficina "Black Poe Sabbath". Nela, serão buscadas semelhanças temáticas entre a canção da banda Black Sabbath e de um conto do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849).

A empreitada simples e educativa começou no início do ano com uma série de oficinas sobre da revista em quadrinhos "The Walking Dead", também tema de uma série televisiva. Os jovens que frequentam o Centro Cultural, vidrados em histórias de terror, ingressaram no clube de leitura criado por D'Ávila, onde era debatida a versão em livro com a história "The Walking Dead: A Ascenção do Governador". "Cada semana, um capítulo. Vimos que o livro cita bastante a cultura pop, como filmes, desenhos e também escritores de terror. Em um deles, o livro citava Edgar Allan Poe", lembra o bibliotecário.

D'Ávila, honrando a própria profissão, já conhecia a história do misterioso Poe. "Falei sobre como ele desenvolvia os contos e os poemas", explica. Interessado na proposta, um dos integrantes do grupo lamentou que na biblioteca da escola dele não possuía livros do autor norte-americano. Como no acervo da biblioteca do Centro Cultural os tem, essa foi a deixa para que o bibliotecário criasse o "mix" cultural da oficina.

E onde a banda do Reino Unido entra nisso? "As letras do Black Sabbath não tem citação direta ao Allan Poe, mas as temáticas das letras da banda vão ao encontro com o texto do escritor: medo, angústia, frustração, paranoias, mundo sombrio", compara. O bibliotecário sugeriu o estudo e os participantes gostaram da ideia. Assim, uma primeira oficina experimental foi feita.

Nesta sexta, em uma hora de oficina, os "metaleiros-literatos" vão ouvir trechos das aterrorizantes histórias de Poe, comentá-las e depois, como sobremesa: metal. "Teremos a leitura do poema 'O Corvo', mas numa edição em quadrinhos, o que chama atenção mais ainda dos participantes. Fecharemos a oficina com duas músicas: "Paranoid", do segundo disco do Black Sabbath, e uma faixa da banda alemã Grave Digger (banda de heavy metal originada em 1980), com a música 'The Raven', ou na tradução, 'o corvo'. Esta, sim, diretamente inspirada no conto de Poe", explica D'Ávila, que já gravou as faixas em um CD.

Ficção, realidade e... medo!

O assunto é curioso, calibra o poder interpretativo, dá conhecimento de mundo e das culturas diversas que o compõem. Mas como separar realidade de ficção? D'Ávila está atento a isso e diz que esta é apenas uma das oficinas com misturas de música e literatura que pretende promover.

"No encontro, trabalhamos a questão da intertextualidade. O que é isso? É a relação entre textos diversos. Edgar Allan Poe e Black Sabbath se encontram na questão do medo. E adolescente gosta do desafio do medo. Na medida em que vou discorrendo sobre o conto, vou separando que tudo isso é história, tudo trabalho da imaginação".

Por enquanto, as oficinas de D'Ávila estão "na praia" do heavy metal. "Mas logo, vamos começar a fazer outros cruzamentos inusitados, mas também esperados, como: Lou Reed e Rimbaud; David Bowie e George Orwell. E de música brasileira também como Torquato Neto com Titãs", exemplifica o bibliotecário, que se diz um apaixonado por rock, "por excelência". Mas, que tal funk com os textos do autor do livro "Cidade de Deus", Paulo Lins? Ou Drummond com Barão Vermelho? "É por aí... A cabeça fervilha", concorda.

Oficina Black Poe Sabbath. Hoje, às 13h. No Centro Cultural Vila Santa Rita (rua Ana Rafael dos Santos, 149, Vila Santa Rita, BH). Informações: (31) 3277-1519

SAIBA MAIS

Trecho do poema "O Corvo", tradução de 1924 atribuída a Fernando Pessoa

"Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
'Uma visita', eu me disse, 'está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais'..."

Black Sabbath canta "Paranoid"

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por