Bons ventos trazem Daúde de volta ao formato disco

Hoje em Dia
25/05/2014 às 09:34.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:43
 (Christian Gaul/divulgação)

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Daúde frisa que, dentro de sua realidade, se considera, sim, ativista e política. “Não dá para você ficar por fora das coisas que acontecem ao seu redor”, diz a cantora baiana, radicada já há muito no Rio de Janeiro, diante da pergunta: “Por que resolveu gravar Josephine Baker?”. “Admiro muito ela. A forma como colaborou contra o racismo, ela foi muito guerreira. Lembra (a sul-africana) Miriam Makeba (1932–2008, da qual Daúde gravou, tempos atrás, “Pata Pata”), a mesma história de vida... Mulheres políticas, ativistas”.   A música em questão é “J’ai Deux Amours”, lançada originalmente em 1930 pela francesa (de origem norte-americana), que integra o disco “Código Daúde” (Lab 344), a nova investida da moça. A cereja do bolo é que a gravação contou com a presença do “francês mais do que apaixonado pelo Brasil” Nicolas Krassik (e de seu violino).   No cômputo geral, Daúde coloca sua elogiada voz a serviço de músicas de suas reminiscências, as que a “codificaram”, justificando o título do disco. “Canções de ouvir tanto, de ter contato com compositores... Foi uma seleção natural”. Músicas que tocaram sua alma, compostas por gente pela qual ela nutre “profundo respeito”. “Mas o primeiro passo para a seleção é a emoção, me ver cantando essas músicas”, diz, toda sincera.   Do embornal memorialístico, ela destaca “Barco Negro” e “Babalu”. “‘Babalu’ remete muito à minha mãe cantando, já ‘Barco’ era do repertório do meu pai. Eu sempre me lembrava dessas músicas, de ouvir na infância”.   “Babalu” ficou imortalizada na voz de Ângela Maria, em 1958. A música, porém, é de 1939, de Margarita Lecuona. Mas um outro destaque do CD é “Sobradinho”, de Sá & Guarabira, registrada com um coral de crianças. “O disco foi gravado numa escola de musica (Musimundi) e, lá, há um estúdio de gravação, e umas crianças que fazem coral. A interação foi maravilhosa, as crianças adoraram. Elas também pensaram e sentiram a realidade social que a musica traz (em seu bojo<)”.   ‘Pode acontecer uma guerra que não vou deixar de ser artista’   “Código Daúde” sucede “Neguinha Eu Te Amo”, de dez anos atrás. Sim, um longo hiato. Mas Daúde não saiu de cena, na verdade. “Só do disco e da mídia”, reconhece ela. “A indústria entrou em declínio, foi uma adequação a esse momento”, explica.    De qualquer maneira, a moça situa: Sou artista, não sou celebridade. A mídia é importante. Mas não deixei de fazer shows, de estar em contato com músicos, e de produzir”.    Aliás, ela lembra que se não tivesse se mantido na música, não teria conseguido fazer o disco. “Não parei de trabalhar com música. Pode acontecer uma guerra que nunca vou deixar de ser artista”, brada, para emendar, na sequência: “Talvez deixe de lançar CD”, ri.   Mas Daúde reconhece: um CD físico é como um documento. “Não é só porque está no iTunes que (o disco) vai ter saída. Há uma adequação, é um processo também para quem compra”. Por outro lado, ela enfatiza: nunca se sentiu parte de uma indústria. “Entrei no mercado pelo talento. A indústria não é responsável pelo meu nome. Mas, por fazer um trabalho independente, também não significa que seja aquém da indústria... Dá para fazer trabalhos muito bem produzidos”.    Outras pérolas do disco são “Que Bandeira” (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Mariozinho Rocha), “Cala a Boca, Menino” (Dorival Caymmi) ou “Falso Amor Sincero”, de (e com) Nelson Sargento. Ou mesmo a música do Los Hermanos, “O Vento”.    O plus dessas leituras? “As referências do meu tempo. Ouço tudo, de música clássica à eletrônica. Cada canção (do CD) é uma ferramenta. A música do Marcos Valle tem toda a essência dele. É a marca dos artistas que me serve. Imprimo com minha etiqueta mas tento manter a particularidade de cada um”, conclui. 

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