"Cake – Uma razão para viver” trata da dor da perda

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
03/08/2015 às 07:41.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:11
 (Califórnia/Divulgação)

(Califórnia/Divulgação)

Claire, a personagem de Jennifer Aniston em “Cake – Uma Razão para Viver”, já nas locadoras, é um dos mais difíceis de compor, porque a identificação não se processa a partir dela, mas pelos outros que estão em sua órbita. É uma espécie de rebatimento, passando pela ótica dos coadjuvantes para se chegar à essência da protagonista.

Gostamos de Claire mais pelo esforço de sua secretária mexicana (Adriana Barraza) e de um amigo (Sam Worthington) que, como ela, sofreu uma grande perda familiar. Vítima de um acidente de carro que matou o seu filho e a deixou com graves problemas na coluna, é o oposto do escritor Jean-Dominique Bauby.

Enquanto o francês de “O Escafandro e a Borboleta” retira simpatia e força de viver de seu imobilismo (uma doença rara lhe priva de todos os movimentos), Claire permanece quase todo o filme intolerante, antipática e até mesmo má, sem se preocupar com o outro, egoisticamente vivendo para distribuir sua amargura a quem se aproxima.

Há, sim, uma sequência nos minutos finais, quando entra em cena uma jovem ladra, que Claire busca um olhar de afeto para o ser humano, mas ela é completamente dispensável porque a personagem já tinha se redimido no contato com os outros, revelando-se frágil, sofrida e confusa com tantos remédios para dor.

Tanto o amigo quanto a secretária parecem se antecipar aos movimentos e pensamentos de Claire. Estão sempre um passo antes, estendendo a mão para quebrar a redoma que criou para si. Além disso, há o fantasma de uma mulher, bela, jovem e que revela uma morte sem propósito, se atentarmos para o bom coração do marido.

E Jennifer está muito bem, exibindo uma perspectiva fraturada, de quem tem um corpo e mente machucados pela vida. Talvez a narrativa do diretor Daniel Barnz faça concessões demais, não querendo pesar a mão ao lidar com o tema da morte, mas a cena em que Claire tenta ajustar a cadeira do carro, que vivia deitada, dispensa muitos diálogos.

Com a tecnologia digital, uma parte do processo fotográfico se perdeu: a impressão direta dos rolos de negativos do que os profissionais chamavam de “folha de contato”, ferramenta indispensável para a edição e arquivamento do material fotografado.

Parte de uma série de três volumes, o documentário “Contatos – A Grande Tradição do Fotojornalismo”, lançado pelo Instituto Moreira Salles, relembra os principais registros fotográficos a partir desse material, ajudando a reconstruir o processo criativo.

“Ao armazenar cada passo ao longo do caminho que conduz a determinada imagem, ela dá a sensação de que estamos ao lado do fotógrafo e vemos através de seus olhos”, destaca o crítico de cinema José Carlos Avellar no livreto que acompanha o DVD.

Para Avellar, a folha de contato permite perceber como uma cena foi reparada pelo fotógrafo, trabalhando com afinco para chegar à imagem bem-sucedida ou beneficiado por um “instante decisivo”.

No filme, vários fotógrafos importantes, como Henri Cartier-Bresson, Willian Klein, Raymond Depadon, José Koudelka e Robert Doisneau, discutem seus métodos de trabalho como quem organiza um livro de memórias ou retorna ao local fotografado com a ajuda destes blocos de notas visuais.

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