Cantora lírica Elizeth Gomes relembra trajetória e fala da conquista dos negros em óperas

Thiago Prata
@ThiagoPrata7
23/06/2020 às 11:28.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:50
 (Divulgação)

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Com o intuito de melhorar suas técnicas vocais, ainda na adolescência, quando cantava na igreja, a mineira Elizeth Gomes ingressou numa escola de canto do Palácio das Artes. “Tive a oportunidade de conhecer o canto lírico”, relembra. “Após três anos (de aprendizado) assisti pela primeira vez a uma ópera e fiquei encantada. Perguntei ao meu professor o que eu precisava fazer para cantar tão bem. Ele me disse para estudar muito e me incentivou. Aceitei então o desafio de me tornar uma cantora lírica”, complementa. Mal sabia que naquele momento, por volta de seus 18 anos de idade, ela começaria a fazer história.

Convidada da live “Dando Corda” desta quarta-feira, às 21h30 (no Instagram @orquestrasesiminasmusicoop), Elizeth, hoje aos 59 anos, não imaginava, lá nos primórdios de sua trajetória, haver óperas e papeis exclusivos para negros. “Na ópera ‘Aida’ (Giuseppe Verdi) mesmo, há vários papeis. Nós, como negros, podemos penetrar esses espaços”, comenta ela, que, por sinal, chamou atenção justamente pelo trabalho em “Aida”, seu primeiro papel como protagonista em uma ópera.

“Me lembro que estava indo embora para São Paulo, pois havia passado no Coral da Osesp, quando me chamaram para a audição de ‘Aida’. Só que eu também ganhei o papel de Leonora, em ‘La Fuerza del Destino’, no Teatro Municipal de São Paulo. Dois convites na mesma data. O pessoal de BH então me ofereceu o dobro do cachê que eu receberia em São Paulo, e acabei fazendo o papel da Aida, o qual foi um sucesso muito grande”, recorda.Paulo Lacerda/Fundação Clóvis Salgado

Elizeth já cantou em igrejas e com Milton Nascimento, antes de trilhar os caminhos da ópera no Brasil e no exterior

Dali em diante, Elizeth acumulou papeis em peças do quilate de “La Traviata”, inclusive se apresentando em teatros na Itália – também se apresentou em outras ocasiões em Portugal, Espanha, Suíça e países da América do Sul, entre outros. “Depois que a gente adquire grandes papeis, as pessoas nem veem a cor da gente. Tem preconceito? Tem. Mas acho que podemos mudar isso. A partir do momento que consegue um papel, você se prepara para chegar lá. É acreditar que a gente pode”, ressalta.

Elizeth, aliás, virou uma ‘mentora’ para o sobrinho David Marcondes. “Ele é um dos maiores barítonos do Brasil, já cantou na Itália, no Japão... Já fez o ‘Barbeiro de Servilha”, comenta ela, sempre ávida a colaborar na formação de novos talentos: “Quero sempre produzir e ajudar a área a crescer. Abrir oportunidades a brasileiros e continuar nessa luta”.Divulgação

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