Carlos Bolívia: disco em doses homeopáticas, regadas a cumbia e carimbó

Jéssica Malta
15/07/2019 às 08:45.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:32
 (Área de Serviço/Divulgação)

(Área de Serviço/Divulgação)

Em abril, o cantor, guitarrista e compositor boliviano-mineiro Carlos Bolívia começou a empreitada que daria forma ao primeiro disco solo dele: “Carlos Bolívia e os Médicos Cubanos”. Lançando uma música por mês, o músico encerra a caminhada amanhã, com o lançamento de “O Que Tem Para Hoje”, quinta e última faixa que compõe o álbum.

“Escolhi fazer essa temporada de lançamentos para dar um espaço melhor para trabalhar cada música. Como sou um artista independente e não tenho meios econômicos para promover tanto as minhas músicas, acho que um lançamento pouco a pouco ajuda a construir um público e dialogar com ele também”, pondera o artista. 

Conhecido pelo trabalho na banda mineira Djalma Não Entende de Política e na Orquestra Atípica de Lhamas, Bolívia conta que o disco surgiu pelo desejo de explorar outros caminhos musicais. “Fui guardando e amadurecendo as ideias e no trabalho solo pude bancar algumas coisas, algo que tivesse mais a minha cara”, diz.

Definindo o novo trabalho como um laboratório, Bolívia fez do trabalho solo um espaço de experimentação de sonoridades e ideias. “Pude experimentar várias coisas sem precisar ter uma identidade muito própria”. 

No disco, o músico faz um passeio por suas referências e influências. “Tem músicas que trazem uma influência britânica. É uma viagem que começa com uma cumbia, uma música de origem cubana, e termina com o carimbó, que é um gênero irmão da cumbia. De alguma maneira eu saio das minhas origens, passeio por outras referências, e volto no tropical”, explica.

A guitarra, instrumento tocado pelo artista, também ganha destaque no disco e é explorada de diferentes maneiras. “Com o tempo fui encontrando escolas de guitarra que me tocaram muito, como a guitarra mais latina, a paraense, a peruana. No disco eu pude brincar com isso. Em todas as músicas a guitarra é um instrumento que fica muito na cara”, pontua. 
Influências

A atualidade foi a grande inspiração de Bolívia ao longo da produção do trabalho. “O disco tem muita influência dos meus contemporâneos. Tento ver o que as pessoas estão produzindo agora e aprender com a própria cena”, afirma o músico. 

Dentro do cenário atual da capital, ele destaca a influência do potente Carnaval de Belo Horizonte. “É uma cena que está muito rica. Aprendo muito com as pessoas. Eu tenho uma vontade de estar conectado às minhas influências históricas, mas fazendo um diálogo de pensar com os meus contemporâneos”, sublinha.

Mas não foi apenas produção artística que influenciou o trabalho do músico. Nas composições, Bolívia reflete o cenário sociopolítico do país, com músicas inspiradas em acontecimentos como o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, que deu origem à música “Valsa de Março”. 

“As músicas foram quase todas compostas em 2018, um ano que foi muito conturbado, de eleições. A gente viveu muita instabilidade e ela parece só aumentar. Então, o disco reflete esse momento em que a gente está meio sem direção”, acredita. 

Apesar de tratar do momento do país, Bolívia afirma que as canções não fazem uma doutrinação. “Em uma arte que se pretende política. O mais importante não é defender um ponto de vista, mas sim mostrar que os nossos afetos, que aquilo que nos emociona, é político. Se estamos comovidos com uma situação do nosso país, isso tem a ver com a nossa afetividade e sensibilidade. O papel dessa arte é esse: estimular a sensibilidade das pessoas”, pontua. 
 

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