Carrinho de pipoca vira mini museu e emociona público no FLI-BH

Elemara Duarte - Hoje em Dia
26/06/2015 às 13:40.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:39
 (Netun Lima/ Divulgação FLI-BH)

(Netun Lima/ Divulgação FLI-BH)

Se o visitante não vai ao museu, o museu vai ao visitante. Pelo menos o "Muquifoca" vai. E junto dele vão ainda uma mini-biblioteca e uma lojinha de souvenirs.

Parece que cabe meio mundo no "Muquifu no Carrinho de Pipoca". Afinal, é esta a intenção desta original iniciativa da equipe do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos, o "Muquifu".

A instituição surgiu em 2012, no Aglomerado Santa Lúcia/Morro do Papagaio, Região Centro-Sul de BH, e foi idealizada pelo Padre Mauro Luiz da Silva. O entusiasmado religioso colocou o plano em prática com ajuda da comunidade em vários sentidos - principalmente com as próprias histórias de vidas dessas pessoas.

"Nossa proposta é criar meios para que os favelados sejam protagonistas das ações de tutela e preservação deste patrimônio material e imaterial", explicou o padre.

E é deste valioso e peculiar patrimônio que é feito o museu. Histórias alegres, tristes, de superação, de humor, de arte... Já a parte material é composta por algum objeto que fez parte destes enredos muito íntimos dos moradores.

"É assim que estamos fazendo a nova museologia", avisa um dos coordenadores voluntários do Muquifu, o funcionário público Augusto de Paula (foto ao lado).

Hoje, o museu possui mais três sedes em comunidades de BH. Na verdade, agora, são cinco sedes.

E o Muquifoca, não conta?

Conta, sim! Agora o carrinho está estacionado na entrada do Teatro Francisco Nunes. Até domingo (28), ele dará boas-vindas ao público do Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (FLI-BH). Boas-vindas, bons "causos" e, de vez em quando para justificar a missão original do veículo, uma pipoquinha quente.

Assim, graças ao cheiro que sai da panela e às vivas cores do pequeno acervo é que o coordenador vê os visitantes chegarem. Aí, uma moça pergunta o que significam as bonecas Barbie penduradas sob o guarda-sol. Elas estão vestidas com vários estilos de uniformes de empregadas domésticas e com roupa de mucama.

"Empregada doméstica é a profissão feminina mais representativa da comunidade. Então, com o museu, as moradoras pediram para que fosse contada a história desta profissão", diz Augusto de Paula.

E por que vestir uma Barbie loira assim? "É uma crítica", diz o coordenador, como se quisesse sugerir que "para bom entendedor, meia palavra basta".

Detalhes históricos

Como nas sedes físicas, cada detalhe do pequeno museu ambulante tem um significado. O guarda-sol tem as cores das casas da comunidade. Já as bonecas de pano, explica Augusto, foram feitas por Dona Generosa, uma antiga moradora que criava modelos personalizados destes brinquedos, de acordo com as feições das próprias clientes.

Hoje são oferecidos cursos sobre como fazer estas bonecas para as mulheres que vivem no entorno das sedes. Algumas peças desta produção artesanal também estão à venda na lojinha do Muquifu e do Muquifoca, a partir R$ 20.

E este burrinho de cerâmica de patas coladas? Senta, que lá vem mais história... E é triste. A irmã do dono da peça foi quem contou ao Museu sobre a origem de mais este objeto.

"Ela disse que o irmão trabalhou em uma casa de família dos 12 aos 18 anos. Trabalho infantil, na verdade. Mas aos 18 decidiu sair de lá. Então, a dona da casa deu o burrinho com as patas quebradas para ele. Vai ver que ela estava querendo chamá-lo de 'burro de carga'".

Mas o jovem levou o burrinho, colou as patas e saiu pelo mundo. Anos depois, esta irmã dele, moradora de uma das comunidades, doou a peça ao Muquifu.

Pipoca museológica

O "museu no carrinho de pipoca" foi idealizado pelo professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Mário Chagas, com quem Augusto de Paula teve aulas. Um belo dia, o professor citou a ideia em sala e o aluno ficou com a sugestão na mente.

Tempos depois, em BH, Augusto soube de um carrinho que enferrujava em um terreno baldio. Localizado o proprietário, o equipamento foi negociado por R$ 50. Coisa simbólica.

Então o levaram à comunidade para adaptações: um trato na pintura, estantes para os livros, uma pequena seleção no acervo com as histórias de luta e alegria... E está pronto o museu mais inusitado das galáxias! Agora, no FLI-BH, com estreia em pleno "Chico" Nunes.

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