Cartola chega em livro com dezenas de fotos raras

Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
29/01/2013 às 12:01.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:22
 (Arquivo Centro Cultural Cartola/ Divulgação)

(Arquivo Centro Cultural Cartola/ Divulgação)

Cartola volta à cena de braço dado com Dona Zica. O compositor chega por meio da fotobiografia "Divino Cartola - Uma Vida em Verde e Rosa" (Editora Casa da Palavra), publicação que será lançada nacionalmente em dia bem propício: 6 de fevereiro, no centenário de nascimento dela. "Zica foi o grande amor da vida de Cartola", assegura o autor, Denilson Monteiro.

O livro é o terceiro da série lançada pela Casa da Palavra. Nela, já foram relembrados os nomes de Noel Rosa e Pixinguinha em raro material fotográfico. Monteiro diz que encontrou mais de 300 fotos, sendo que o suprassumo desse material, com a metade das fotos, está no livro.

Muitas dessas imagens foram disponibilizadas pela neta adotiva de Cartola, Nilcemar Nogueira. Outras, pelo filho de Vinicius de Moraes, o fotógrafo Pedro de Moraes, que ainda não tinham sido divulgadas. Há também imagens de agência de jornais, não usadas em publicações.

O compositor de "As Rosas não Falam" nasceu em outubro de 1908 como Angenor de Oliveira e morreu em novembro de 1980. "Mas Cartola está cada vez mais vivo com as novas gerações", expõe Monteiro. Esse legado é composto pelas canções que Cartola fez; imagens de alguns originais escritos à mão também estão no livro. Há canções escritas até em pedaços de papel de pão.

Fotografias curiosas mostram Cartola em barracos no Morro da Mangueira, nos anos 1940, vestindo terno branco. Ou mesmo, passagens lendárias no famoso restaurante Zicartola, no Rio, nos anos 1960, considerado "a primeira casa de samba do Brasil". O empreendimento era administrado pelo casal. Ismael Silva, Dorival Caymmi, Tom Jobim e Nara Leão estão entre os convivas. O empreendimento era um "point" de artistas, mas fechou por causa de dívidas.

O convite de casamento do casal Zica e Cartola é um dos achados mais delicados da publicação. Nele, os noivos direcionam os convidados para comer a "tradicional fatia do bolo nupcial", no restaurante Zicartola. "Os dois tinham uma fusão de alma e de aura", pontua Nilcemar Nogueira.

"Zica foi a mulher companheira, amiga de todas as horas. Era uma mulher de trabalhar bastante, de ajudar muito o Cartola. Ele já estava prestes a morrer vítima do alcoolismo e ela estava sempre perto incentivando-o a compor e a voltar a ser ‘o Cartola da Mangueira’, como ela falava", conta o autor.

A fotobiografia inclui CD com 11 músicas do artista gravadas no último show dele. Cartola deixou quatro discos e participações em discos de outros artistas.

Família lançará canções inéditas de Cartola em 2014

Guardiã da memória dos avós, Nilcemar Nogueira, neta de sangue de Eusébia Silva do Nascimento, a Dona Zica, e "de coração" de Cartola, planeja para meados de 2014, o lançamento de CD com 20 composições inéditas do avô.

Enquanto isso, ela se dedica à exposição em homenagem ao centenário da avó, no Centro Cultural Cartola, no Rio, em cartaz até dezembro deste ano. Dona Zica morreu em 2003 e dedicou toda sua vida à "verde-e-rosa".

Além disso, Nilcemar escreve livro sobre o processo de criação de Cartola. "Muitas vezes acompanhei isso, passando a limpo na datilografia as letras que ele compunha".

Cartola era estéril, mas assumiu vários filhos de outros casamentos de suas mulheres. Poucos anos antes de morrer, em consequência de um câncer, o músico saiu do morro, em busca de mais sossego. Nesta época, mudou-se para o bairro de Jacarepaguá. "Vieram ele, Zica e a Nilcemar, que era como uma secretária dele, era a pessoa em quem ele confiava", diz o biógrafo.

"Eu cuidava da agenda artística, dirigia o carro para meus avós", lembra Nilcemar Nogueira, hoje, coordenadora de Projetos Especiais do Centro Cultural. O local fica ao lado do Palácio do Samba - sede da Mangueira. Em 1928, Cartola foi um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira.

Nilcemar conta que a casa dos avós virou um ponto turístico. "De madrugada batia gente na porta querendo conhecer meu avô. Ele recebia cartas do Brasil todo. Algumas apenas com a descrição ‘Cartola-Mangueira’. E chegava", diverte-se.

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