Casarão que abriga o CRAV é restaurado e pode se tornar o Museu da Imagem e do Som

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
16/07/2014 às 07:25.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:24
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

A memória audiovisual de Belo Horizonte volta a ter endereço certo a partir desta sexta-feira (18), quando será reaberto, no antigo casarão localizado no número 560 da Avenida Álvares Cabral, o Centro de Referência Audiovisual (CRAV), fechado há um ano e meio para ganhar “cara nova”.   Além das intervenções realizadas para preservar as características originais do edifício de estilo eclético, construído na década de 20, a restauração também tem um caráter simbólico: a renovação de um antigo sonho da Prefeitura Municipal em transformar o espaço no Museu da Imagem e do Som (MIS).   E quem reitera esse desejo é o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira. Presente à visita guiada para jornalistas, na manhã dessa terça-feira (15), ele afirmou que o investimento de R$ 150 mil “é o primeiro passo para (a concretização do) o MIS”, o que pode acontecer ainda nessa gestão.   Oliveira adianta que o museu terá um equipamento descentralizado, formado por um tripé que teria, além da sede do CRAV, dois saudosos cinemas de rua da cidade: o Cine Santa Tereza, no bairro de mesmo nome, e o Cine Pathé, na região da Savassi, que receberão as mostras do MIS mineiro.   “O CRAV ficará responsável pela guarda, recuperação e pesquisa dos filmes, além de receber exposições. Mas, em relação ao Pathé, ainda estamos em tratativas com o Patrimônio Cultural para que, junto aos seus proprietários, haja um cinema no edifício que será construído no local”, registra.     Números ainda tímidos   Enquanto o novo museu começa a tomar forma, o CRAV tem outra grande missão pela frente: tornar-se conhecido do grande público. Os números de visitação ainda são tímidos se comparados a outros espaços municipais, como o Museu de Arte da Pampulha e o Museu Abílio Barreto.   De acordo com Gilvan Rodrigues, gestor do CRAV, 860 pessoas frequentaram ou acompanharam os programas realizados no casarão em 2012. Esse número saltou para oito mil, no ano passado, porque a instituição levou suas atividades para outros locais, como centros culturais e praças.   “Temos um material muito rico e nosso objetivo é mostrar isso a Belo Horizonte”, avisa Rodrigues. O acervo dispõe atualmente de 60 mil itens, sendo 40 mil de filmes nos mais variados suportes, reunidos desde 1995, quando o CRAV entrou em funcionamento, num edifício da Serra.     Tudo bem com a fachada, mas o acervo ainda padece   O processo de revitalização do Centro de Referência do Audiovisual (CRAV) contemplou especialmente a parte arquitetônica, como pintura da fachada e novo piso, mas um velho problema ainda parece longe de ser resolvido: a restauração do acervo.   O coordenador Gilvan Rodrigues admite que não há recursos ou projetos em andamento para esse trabalho, que é uma das principais metas de qualquer cinemateca no mundo. O acervo ainda passa por um moroso processo de identificação.   O CRAV dispõe de duas técnicas especializadas e três estagiários que, até o momento, só processaram 49% dos rolos e material videográfico (Betacam, u-matic, VHS, DVD, entre outros). Elas observam o estado de conservação e o conteúdo.   “O filme foi processado quando já passou pela enroladeira (mesa de revisão dos filmes) e a gente sabe qual assunto está ali, mesmo que não tenhamos uma descrição completa. Em seguida vem a catalogação para pesquisa”, explica técnica de preservação do CRAV, Isabel Beirigo.   O tempo é inimigo nesses casos, podendo significar a perda de filmes preciosos. Isabel calcula que entre 10% e 15% das obras estariam em condições críticas, depositadas numa das quatro salas climatizadas.   Os filmes mais danificados (ou “avinagrados”, termo usado entre os especialistas) precisam ser encaminhados para a Cinemateca de São Paulo, referência no Brasil para a restauração de filmes. “Mas não temos recursos. Não ainda”, lamenta Isabel.   Rodrigues assinala “a nossa ideia é captar recursos para digitalizá-los, dentro de um processo de renovação, sem descartar essa parte primária, que ficará guardada”. Investimento na recuperação de película só após o inventário do acervo.   Luciana Feres, diretora de Políticas Museológicas da Fundação Municipal de Cultura, não entrou na questão de novos recursos para o CRAV, mas louvou “o esforço para que ele se torne um bem público e apropriado pela população de Belo Horizonte”.   Ela destaca que, com a grande frequência nos museus da cidade, durante a Copa do Mundo, ficou evidente que “a população está ávida por programação cultural. E é hoje o que mais desejamos”, frisa Luciana.   A reabertura do CRAV será marcada por uma programação especial durante o “Noturno nos Museus de Belo Horizonte”, a partir de sexta-feira, dia 18. Uma das atrações é a exposição “Tony Vieira: um Cineasta Mineiro”, que celebra a trajetória do ator e diretor de faroestes e policiais.   No mesmo dia haverá apresentação, às 21h, de uma série de curtas, documentários e cinejornais, além de duas intervenções.     BH recebe recursos da Ancine   O presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira, anunciou, durante a recepção à imprensa, que Belo Horizonte foi escolhida pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) para, ao lado de outras oito capitais, receber recursos de fomento ao audiovisual, como realização de cursos para áreas específicas – figurino, direção de arte, iluminação, entre outros.   “Paralelamente à restauração do CRAV, estamos trabalhando uma política para o audiovisual, como a realização de editais setoriais, conforme sugerido em reunião pública ocorrida há dois meses. Agora vamos liberar de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões diretamente para o audiovisual”, adianta.

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