CCBB completa três anos e já é um dos principais redutos culturais de BH

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemda.com.br
23/08/2016 às 20:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:31
 (WESLEY RODRIGUES)

(WESLEY RODRIGUES)

São três anos como casa da arte, destino muito diferente do idealizado para o prédio da Praça da Liberdade erguido em 1930 para abrigar a Secretaria de Segurança e Assistência Pública do Estado. Mas quem passa diante do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Belo Horizonte dificilmente consegue imaginar, hoje, vocação melhor para o espaço, que se consolidou como um dos principais redutos culturais da capital e, neste aniversário, presenteia a cidade com uma programação inspirada na mostra “Mondrian e o Movimento De Stijl”, já em cartaz. 

A festa começa no sábado e tem como atração mais esperada a esquete “Mondrian: da Cor ao Jazz”. Encenado pelo Educativo do centro cultural, o espetáculo estreia no dia 27 e retrata um encontro entre Greta Heijbroek, noiva do pintor Piet Mondrian (1872-1944), Adeline Beaumont, uma cantora parisiense, e o artista nova-iorquino Harry Holtzmann.

Serão abordadas passagens da vida do artista plástico, inclusive os anos em Amsterdã, Paris e Nova Iorque. Também no sábado, o curador desta exposição, Pieter Tjabbes, vai conduzir um bate-papo sobre as influências do neoplasticismo na arquitetura e no design.

MÚLTIPLO
Para o gerente do CCBB-BH, Carlos Nagib, o público de 1,7 milhão de visitantes em três anos comprova o sucesso do espaço, creditado à diversidade dos projetos em artes plásticas e cênicas, música e cinema. Ao todo, 1.016 empregos diretos foram gerados.

“O trabalho do Educativo também é extremamente importante, especialmente com as crianças, porque deixa um legado, formando um novo público”, acrescenta.

“Apesar do momento financeiro difícil, nos estruturamos para manter o nível da programação, Carlos Nagib, gerente geral do CCBB-BH

Ajudam a atrair e cativar o público a entrada gratuita para as exposições, como a mostra “Kandinsky – Tudo Começa Num Ponto”, atual recorde de visitação do local.

Já os demais espetáculos têm ingressos com valores abaixo dos praticados pelo mercado. Assim, os belo-horizontinos tiveram a oportunidade de ver, a preços populares, grandes montagens teatrais como “Hora Amarela”, com Deborah Evelyn, e “Cássia Eller, o Musical”. Mais duas apostas serão feitas ainda este ano: a mostra “ComCiência”, da artista plástica australiana Patrícia Piccinini, a partir de 12/10, e a peça “Gata em Telhado de Zinco Quente”, com Bárbara Paz, de 21/10 a 28/11.

 Eugênio Moraes/Arquivo / N/A

KANDINSKY – Mostra dedicada ao artista plástico russo atraiu 129.791 visitantes em 2015. A média foi de 2.163 espectadores por dia

Desafio é diversificar o público, atraindo visitantes da periferia

Apesar do bem-sucedido caminho traçado até o momento, o gerente do CCBB-BH, Carlos Nagib, reconhece que ainda há desafios a serem vencidos. Um deles é atrair os moradores da periferia da capital. 

“Estamos testando alguns movimentos para nos aproximar desse público, como o contato com associações de bairro. Também queremos dar a oportunidade de os alunos de escolas da periferia, que já visitaram o centro cultural, voltarem com os pais aos fins de semana”, diz.

Faz parte dos planos, ainda, aproveitar os dois andares do prédio que se encontram desocupados. Até o fim do ano deverá ser aberta a licitação dos projetos. Em 2017, a expectativa é a de que saia o edital das obras.Anna Ftg/Divulgação / N/ACARLOS BRACHER – Exatas 107.429 pessoas prestigiaram trabalhos do mineiro em 2015

Marca
Na maioria das últimas grandes exposições, a interatividade esteve presente e parece cada vez mais se configurar como uma marca do CCBB-BH. 
Nagib assume que a ferramenta tem ajudado bastante a conquistar os visitantes, mas faz a ressalva: “é um canal de informação e entretenimento que conecta as pessoas, mas não substitui as obras”.

O biomédico Igor Lemos, de 31 anos, é uma prova da fala do gerente geral. Atraído pela gigantesca cadeira – reprodução da famosa criação de Gerrit Rietveld, parte da mostra “Mondrian e o Movimento De Stijl” – instalada no hall de entrada, ele não resistiu e acabou vendo toda a exposição. “Não conhecia Mondrian e nem outros artistas do movimento, mas passei aqui em frente e resolvi entrar. Sempre visito as mostras”.N/A / N/A

MOSTRA COLETIVA –” Ciclo – criar com o que temos” foi outro sucesso de público: 113.957 frequentadores entre novembro de 2014 e janeiro de 2015

Credibilidade do espaço e artistas de peso ajudam a ‘fidelizar’ frequentadores

O trabalho e a força do nome do CCBB-BH dão credibilidade ao centro cultural e ajudam a atrair muitas pessoas ao local. É o caso das amigas Iara Teixeira, de 62 anos, e Marysa Almeida Horta, de 79. 

Elas destacam o fato de o CCBB-BH trazer frequentemente grandes nomes das artes plásticas nacionais e internacionais ainda não vistos na capital mineira.

“É o (aparelho cultural) mais atualizado (de BH), o que mais traz coisas novas e importantes, como, por exemplo, nomes do circuito europeu. Sempre passo para ver o que tem na programação e não costumo perder nada”, diz Iara. 

As irmãs Luiza Assunção, de 24 anos, e Giulia Marisa, de 16, também são frequentadoras assíduas do espaço. As duas ficaram curiosas para ir à mostra depois de ver uma série de fotos postadas nas redes sociais por amigos tiradas na exposição. 

“Passei a visitar museus por causa da Luiza; ela sempre me convida para esses programas. Acabei quebrando o preconceito, porque consigo (com os recursos interativos) entender melhor a obra”, diz Giulia, que é estudante.

“Adoro arte e já visitei centros culturais no exterior, que usam bastante a interação nos espaços. Acho que o CCBB é um dos que mais têm feito isso por aqui”, opina Luiza, bacharel em Direito.

Receita que dá certo

A mostra “Mondrian e o Movimento de Stijl” tem tudo para bater recorde de visitas dos projetos de artes plásticas feitos no espaço. Até o dia 15 de agosto, a exposição recebeu 65.243 pessoas. A média diária de visitantes até agora é de 2.718 – superando “Kandinsky – Tudo Começa Num Ponto”, dona do título de maior público até o momento. “Kandinsky...” ficou exposta no CCBB-BH por dois meses no ano passado, teve 2.163 visitantes por dia, somando 129.791 visitas. “Mondrian” tem até o dia 26 de setembro, quando sai de cartaz, para superar a marca.

O curador de “Mondrian...” Pieter Tjabbes, credita o sucesso da exposição a quatro fatores. O primeiro deles é o crescimento natural de pessoas que têm incluído o CCBB-BH no roteiro de visitação. O segundo é a capacidade de abrangência de públicos diferentes. “É um programa familiar e para todos, porque pensamos nele de forma didática, ao incluir momentos de desconcentração. Para as crianças, há brincadeiras especiais, de cunho educativo. As atividades fazem com que o público aprenda brincando sobre composição e a pensar espacialmente”, exemplifica.

“Há 15 anos, era impensável BH receber mostras como as de Mondrian e Kandinsky”, Pieter Tjabbes, curador

Outro atrativo são as linguagens presentes no trabalho de "Mondrian e do Movimento de Stijl" que, apesar de terem sido criadas há quase 100 anos, têm uma “estética bem clara e muito contemporânea”, nas palavras de Tjabbes. “O fato de reunir várias artes, como pintura, arquitetura, design, fotografia e móveis, faz com que cada um ache algo em especial de seu interesse. As pessoas gostam muito disso e muitas acabam voltando e convidando familiares e amigos para conhecer a exposição também”, afirma.

A “cereja do bolo”, contudo, é a oportunidade de tirar selfies e fotos diferentes na mostra. “Sempre incluímos lugares onde é possível tirar selfies. O público gosta muito. Além disso, é uma forma de publicidade gratuita, porque, mesmo não tendo o costume de visitar museus e centros culturais, as pessoas são convidadas a participar de uma foto legal e acabam gostando do programa. Essa ferramenta é importante para atingir novos públicos”, considera o curador.

De Belo Horizonte, a exposição segue para o CCBB do Rio de Janeiro. “Mesmo quem não tem o hábito de ir a museus, não vai se decepcionar. Tem filmes e documentários muitos legais, então, não é preciso ter conhecimento da histporia da arte para apreciá-la. A exposição não é para especialistas; é para todos”, garante o curador.

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