'Cemitério Maldito' estreia seguindo a onda de refilmagens e novas adaptações literárias

Paulo Henrique Silva
07/05/2019 às 09:20.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:32
 (Divulgação/Paramount)

(Divulgação/Paramount)

 Em 2017, foi “It – A Coisa”. Agora é a vez de “Cemitério Maldito”, com estreia nesta quinta-feira nos cinemas. Ambos são filmes de terror que estão num mesmo pacote: refilmagens ou novas adaptações de livros que já ganharam versões cinematográficas, apostando no sucesso que fizeram no passado.

Curiosamente, as duas obras são baseadas em publicações de Stephen King, um dos mestres da literatura de terror atual, que revive agora a mesma onda ocorrida nas décadas de 70 e 80, com filmes elogiados como “Carrie, a Estranha”, “O Iluminado”, “A Hora da Zona Morta” e “Christine, o Carro Assassino”.

“Acredito que as refilmagens são pensadas para uma parcela de espectadores jovens que simplesmente não teve acesso aos filmes originais ou que tem certa dificuldade em assimilar efeitos ou quaisquer características técnicas que hoje possam ser consideradas obsoletas”, observa Beatriz Saldanha, editora da revista “Les Diaboliques”.

Atualidade

Para a especialista no gênero horror, há vários fatores que podem prejudicar a verossimilhança de um filme aos olhos do público atual, desde o realismo como o sangue é mostrado e a confecção dos monstros até características de comportamento dos personagens e objetos tecnológicos como celular e computadores.

Ela destaca que as refilmagens do gênero não são exatamente algo novo, citando o caso da produtora inglesa Hammer, que, a partir do fim dos anos 50, se valeu de várias histórias clássicas de monstros, como Drácula e Frankenstein, filmadas pelo estúdio Universal duas décadas antes, em preto e branco.

O que a Hammer fez foi colocá-las dentro de um contexto mais atual. Ainda que fossem ambientadas em castelos e cenários góticos, traziam elementos super modernos: cores vivas, erotismo, violência e ação. Hoje o raciocínio é o mesmo”, salienta Beatriz.</CW> 
A crítica de cinema destaca que, na maioria, o fã de horror “é um escavador incansável, que ignora barreiras de época ou nacionalidade. O que faz com que filmes realizados há muitos anos permaneçam relevantes e cultuados até hoje”.

Crise criativa
Gabriel Carneiro, crítico especialista no gênero e diretor e roteirista do curta-metragem “Morte e Morte de Johnny Zombie”, acredita que a onda de refilmagens e afins faz parte de uma grande crise criativa, não só dos produtores hollywoodianos, como do consumidor de entretenimento como um todo. 

“Não é à toa que as refilmagens, continuações e adaptações de outros universos (como os quadrinhos) sejam sistematicamente as maiores bilheterias. Me parece que o público só quer ir ao cinema, hoje em dia, para ver algo que lhe parece certo, que não tenha risco. E a indústria é cômoda: só arrisca se realmente precisa”, analisa. 

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"Cemitério Maldito" é uma adaptação do livro de Stephen King, cuja primeira versão foi lançada em 1989

 Filmes mais recentes buscam acentuar a questão do realismo visual

Gabriel Carneiro destaca que o cinema fantástico como um todo vive, há duas décadas, uma busca insana por um suposto realismo visual, com muitos efeitos especiais de ponta que tentam mimetizar o que aceitamos como parte de nosso mundo. 

Necessidade que levou a indústria a interromper sagas como “A Hora do Pesadelo” e “Sexta-Feira 13” para “passar a limpo” filmes que foram, relativamente, lançados há pouco tempo, em especial os das décadas de 70 e 80.

“Nesta época, os filmes de horror tendiam a ser bens sujos, de baixo orçamento, meio brutos em acabamento, viscerais, mas artesanais. Os dos anos 1980, no entanto, já trazem uma grande dose de humor, um rir do ridículo”, registra Carneiro, citando “A Morte do Demônio”, “A Hora do Espanto” e “A Casa do Espanto”.

Estilos e abordagens que, na avaliação do crítico, parecem ser inadmissíveis nos dias de hoje. “Esses remakes são quase todos bem adequados a uma estética industrial, com efeitos de ponta, um verniz realista e quase totalmente desprovidos de humor – como se para o horror ser eficaz não pudesse ter humor”.

Lugar comum

Um exemplo é “A Morte do Demônio” (2013), de Fede Alvarez, que, de acordo com Carneiro, foi feito para simular uma realidade em uma cabana que pode ser realmente assombrada. “Não há receio de ser gore, tem muito sangue, mas é um filme bem sério e pouco se distingue do cinema de horror hollywoodiano em geral. É bem lugar-comum. Ou seja, há uma repaginação de tom e estilo para histórias com as quais o público já está familiarizado”, lamenta.

Beatriz Saldanha percebe que, em alguns casos, a nova produção só se vale da fama e do culto do filme original, não acrescentando nada de novo. Em outros, uma atualização se faz necessária. 

“Com ‘It’ é praticamente consenso que a refilmagem teve muito a acrescentar. Isso porque o filme original (uma minissérie para TV) é muito falho, desinteressante e datado, e não chegou a novas plateias”, sublinha.
 

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