Centenas de cinéfilos passaram a madrugada em uma maratona bem particular

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
27/07/2015 às 07:59.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:05
 (Paulo Lacerda)

(Paulo Lacerda)

Numa mostra dedicada ao cinema de terror da década de 80, os zumbis, evidentemente, são convidados de honra – ao lado de vampiros e seres fantasmagóricos. Mas a ideia de ver algumas das muitas histórias sobre “mortos-vivos” ganhou outro contexto após 12 horas de maratona no Cine Humberto Mauro, entre sexta-feira (24) e sábado (25).


Às 7 horas da manhã do dia 25, quando encerrou a sessão da quarta parte de “Sexta-Feira 13”, os rostos dos espectadores que vararam madrugada assistindo a um filme atrás do outro evidenciavam o cansaço. Olhos avermelhados ou semi-cerrados, eles caminhavam, em silêncio, para os jardins do Palácio das Artes, para degustar o café da manhã (suco, pão de queijo e sanduíche). O único ruído vinha de um rapaz com violão, cantando músicas do Guns’n’roses, e que passou a noite do lado de fora do cinema.


Com a previsão de lotação esgotada no Humberto Mauro, uma das saídas da gerência foi criar um segundo espaço, ao ar livre, para os que não conseguiram entrar. Muitos, porém, elegeram o local como o seu preferido e passaram a noite com cobertor e travesseiro.

“SINISTRO”


Caso do cineasta Max Freitas, que não arredou pé do Palácio das Artes desde às 21h de sexta. “Do lado de fora é mais gostoso e divertido”, explicou, ressaltando que o riso ajudou a espantar o sono. “Vários desses filmes, que já conhecia, hoje soam engraçados”.


Na verdade, o único momento “sinistro” foi a exibição de “Cemitério Maldito” (1989), que aborda a ressurreição de animais num cemitério feito por crianças que perderam seus bichos. “Aí a coisa ficou mais séria, ao envolver crianças”, disse Max, que não é novato em maratonas.


Ele também acompanhou a exibição madrugada a dentro dos filmes de Howard Hawks e Alfred Hitchcock, em 2014. “Como a lanchonete do Palácio fica aberta a noite toda, é só tomar um café ou um energético. Antes, é bom descansar e comer bem”, receita.


O hercúleo desafio de resistir ao chamado de Morfeu


O visual moderno imperou. Cabelos de todas as cores, penteados inusitados, roupas pretas e botas. Houve até quem decidisse afixar uma caixa vazia de ovos – daquelas, de isopor – sobre a cabeleira. Além dos habitués da Humberto Mauro, a maratona de filmes de terror atraiu um público novo ao espaço. “Sem perder de vista o cinema de repertório, estamos apostando em mostras que proporcionam uma diversidade maior de plateia”, comemorou o coordenador Bruno Hilário.

ESTRATAGEMAS


Fãs dos filmes ditos “horripilantes”, as amigas Laura Costa e Luiza Moreira, apenas lamentavam, no início da noite de sexta, o fato de alguns títulos terem a classificação de 18 anos. Mesmo com esse empecilho, e graças à oferta de outros filmes aos quais elas podiam assistir tranquilamente (digamos assim), elas conseguiram vencer o hercúleo desafio de pular uma noite de sono. Embora no dia seguinte, quando a reportagem do Hoje em Dia as reencontrou, Laura se queixasse de dor de estômago.


O motivo? As muitas guloseimas consumidas durante a madrugada, uma das fórmulas adotadas para driblar o chamado de Morfeu. Após o café da manhã, as amigas iriam embora, sem lamentar a inédita experiência. “Já tinha feito maratona de filmes em casa. Fora, foi a primeira vez e achei bem legal”, registrou Laura, que aprendeu a gostar de produções de três décadas atrás por influência dos irmãos e dos pais.


Luiza acabou dormindo durante “Sexta-Feira 13 – Parte II”, mas não foi a única a entregar os pontos. “Teve muita falação durante a sessão. As pessoas já tinham perdido o foco”, observou. O filme que mais agradou à dupla foi “A Hora do Pesadelo”, que abriu a programação de sábado, por volta de 0h30. E o pior – segundo elas – foi o italiano “Mansão do Inferno”, criticado por ter “uma história sem sentido”.

PROGRAMAÇÃO


Também foram exibidos, no Cine Humberto Mauro, as duas partes de “Uma Noite Alucinante”, de Sam Raimi, “O Iluminado”, de Stanley Kubrick, a minissérie “It: Uma Obra-prima do Medo”, de Tommy Lee Wallace; e quatro filmes da franquia “Sexta-Feira 13”. A maratona foi encerrada com “Brinquedo Assassino”, de Tom Holland.
Nos jardins, a programação foi diferente e incluiu “Hellraiser” e “Cemitério Maldito”.


As filas acabaram gerando a oportunidade de fazer amigos


Maíra Soares tinha acabado de conhecer, na fila para a sessão de “Mansão do Inferno”, as irmãs Jessica Bruna, Nathália Luiza e Larissa Duarte. Elas seriam sua companhia durante a longa jornada noite adentro. “Eu tinha vindo com a minha mãe antes, na Mostra, mas ela me odiou depois de ver ‘Cemitério Maldito’”, diz Maíra, com um certo exagero.


Para ela, o terror realizado na década de 80 tem muito a ensinar aos realizadores que trabalham hoje com o gênero. “Sempre gostei desse terror mais B, principalmente dos antigos, que têm uma abordagem diferente em suas histórias. Os mais novos parecem repetir as mesmas tramas”, comparou.

LOTAÇÃO ESGOTADA


Já as irmãs entrariam no Cine Humberto Mauro pela primeira vez, estimuladas pelo desafio anterior, quando assistiram a “A Hora do Pesa” e “Sexta-Feira 13”, no Parque Municipal, dentro do “Inverno das Artes”. Chamadas de “Terror no Parque”, as exibições ao ar livre também tiveram lotação esgotada.


“Foi duro, mas conseguimos. Espantamos o sono comendo muito, além de ter muito assunto nas filas”, afirmou Jessica. Nathália, a quem as irmãs se referiam como a mais dorminhoca, também passou pelo teste. “Na hora que a gente estava quase cochilando, uma cutucava a outra. Ver num cinema é diferente de na sala de casa”.

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