Centro de BH ganha novo espaço cultural que já traz mostras e projeto de residência artística

Clarissa Carvalhaes
ccarvalhaes@hojeemdia.com.br
26/08/2016 às 20:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:34
 (Montagem/Clarissa Carvalhaes)

(Montagem/Clarissa Carvalhaes)

Fica no Centro de Belo Horizonte o mais recente espaço de divulgação, exposição e criação artística. 

Há uma semana foi inaugurada a Casa DotArt, uma galeria que abriga, por ora, as exposições individuais dos artistas Roberto Freitas, Álvaro Seixas e Jhafis Quintero.

Apesar dos trabalhos tratarem de temas ímpares, eles têm em comum a facilidade de apresentar-se ao observador sem armadilhas e empecilhos comuns que a arte contemporânea têm o hábito de empregar.

Antes, no entanto, de apresentar as obras em cartaz, vale destacar que a galeria é resultado de uma parceria com a Revista Ernesto

Além de abrigar exposições, o lugar, composto por oito salas, se propõe a ser também espaço para residências artísticas, possibilitando que criadores ultrapassem as fronteiras e pensem arte bem ali, no coração da cidade, transformando a galeria em atelier.

Aos interessados: o programa de residência começa só em 2017. A DotArt fica na rua São Paulo, 249, 11º andar.

​Com entrada gratuita, o espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 11 às 16h, mas as visitas só podem ser feitas após agendamento no e-mail agendamentocasadotart@dotart.com.br.
 

Álvaro Seixas (Brasil)

O desleixo na apresentação dos desenhos de Álvaro Seixas reflete, de certo modo, a proposta do artista: criticar o sistema de arte sem poupar nem mesmo a própria produção.

Por isso, cada um dos desenhos está disposto nas paredes como se tivessem sido arrancados de um caderno e improvisados, sem grandes pretensões, dentro de uma mostra.

A acidez bem-humorada assume também outras superfícies e suportes. Está, por exemplo, no Instagram de Seixas e reforça com presteza a relação/contestação do artista com o mercado de arte, sobretudo, o brasileiro.

"Estes desenhos buscam fugir do clichê - imposto por si próprio ou pelo meio de arte - do jovem ou promissor pintor abstrato", resume. 

Nesse sentido, seus desenhos, que na maioria das vezes associam texto e imagem, não são meros estudos visuais para suas pinturas ou instalações, mas embates poéticos e conceituais com a ideia de arte e sua relação com o mundo.Clarissa Carvalhaes / N/A

Trabalhos de Ávaro Seixas são construídos com acidez e crítica ao sistema artístico ou a própria produção 

Roberto Freitas (Argentina)

​O segundo trabalho em cartaz na Casa é a instalação "Três", de Roberto Freitas.

Ao projeto, o artista dedicou três anos de pesquisa (entre 2012 e 2015), rendendo uma série de desenhos, uma pintura e várias versões de esculturas onde foram utilizadas técnicas de marcenaria, mecânica, vídeo e eletrônica digital.

A obra é resultado do interesse do argentino por arte cinética. Tendo como referência Abraham Palatnik e Jean Tinguely (1925-1991), Freitas passou a debruçar-se sobre o tema ao qual dedicou 12 anos de estudo. 

"No início, comecei a trabalhar muito com vídeo, me apropriava de coisas prontas e as modificava. Depois comecei a fazer os objetos", explica.

O resultado, entre outros, é um ringue onde duas caixas semelhantes à máquinas-caixote (aquelas utilizadas por fotógrafos lambe-lambe) duelam de forma divertida e quase lírica.

Sobre o boxe, modalidade escolhida pelo artista para apresentação do trabalho, Freitas recorda:

"Passei meses treinando, comecei a ficar com corpo e daí professor me deixou um dia ir para o ringue lutar com um menino de 12 anos. Esse garoto me deu um pau que você não imagina. Eu apanhei até meu professor nos separar e falar: 'ok, vamos parar com essa palhaçada'. Desde então, decidi ficar só com as esculturas".

A seguir você confere o trecho de um dos vídeos produzidos pelo artista que também está em cartaz na DotArt:

  

Jhafis Quintero (Panamá)

O artista panamense Jhafis Quintero apresenta um trabalho fortemente influenciado por experiências vividas durante um regime de prisão.

Sim, sua carreira artística teve início durante regime de reclusão e foi lá que ele encontrou na arte uma maneira de nutrir e re-canalizar o apetite pela transgressão.

Sua prática artística deriva de uma extensa experiência no mundo do encarceramento, como o silêncio e a insegurança, mas também da imaginação e da criatividade como formas de buscar uma espécie de escape do ambiente prisional.Clarissa Carvalhaes / N/A

Alertas de Quintero: "não confie em nada nunca. A amizade tem preço" (à esquerda) e "Lembre-se que o céu não é gratuito para você e para todos os seres humanos, a liberdade é sempre condicionante" (à direita)

 No trabalho apresentado Quintero revela uma percepção particular da passagem do tempo e suas implicações para um corpo imerso neste espaço de reclusão.

De forma extremamente didática e poética, o artista ensina como sobreviver dentro (e fora) da prisão. Uma visão acerca dos limites físicos e mentais do encarceramento e uma constante reflexão sobre a morte na vida dos detentos.

Entre os trabalhos selecionados está Spiders (Aranhas – 2014), em que, através das rachaduras no concreto, uma parte do corpo de um prisioneiro escapa da arquitetura institucional de confinamento e vai de encontro ao outro lado, como uma espécie de última tentativa de preservar a sua humanidade.

Outra obra é "We only exist when we communicate" (Só existe "Nós" quando nos comunicamos – 2010), inspirado no chamado "confinamento solitário".

Nele, Quintero expõe a prisão como uma alegoria da nossa necessidade absoluta e do nosso medo infinito de interagir com o outro. E é exatamente esse último trabalho que você confere a seguir: 

 Serviço
Exposições de Álvaro Seixas, Roberto Freitas e Jhafis Quintero
Casa DotArt (rua São Paulo, 249, 11º andar, Centro). Telefone: (31) 3261-3910
Segunda a sexta-feira, das 11 às 16h, sob agendamento no e-mail agendamentocasadotart@dotart.com.br
Até dia 1/10. Entrada gratuita

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