Chacal: "Não tenho tesão para bienal"

Elemara Duarte - Hoje em Dia
15/11/2014 às 22:35.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:01
 (Leo Lara/ Divulgação)

(Leo Lara/ Divulgação)

O poeta Chacal chegou à terceira apresentação neste sábado (15), na programação do Circuito Literário Praça da Liberdade, que termina nesse domingo (16). Depois de dois recitais, pela manhã e à tarde, ele chega ao Espaço Sarau, na alameda central da praça, para fazer o que mais lhe apraz: falar de poesia.

São 63 anos de idade e 44 anos de literatura, de música e de criatividade sob um chapéu amarelo e um grosso casaco para enfrentar o frio que arrebata a capital mineira. O carioca conversa com jovens - muitos jovens - e gente madura. Confere som e sequência musical com os integrantes do grupo Sarau Goma, de Minas Gerais, com quem dividiu, sem brios, o microfone pela atenção da noite.

Nem parece, mas ali está um dos ícones da Poesia Marginal e da Geração Mimeógrafo, dos anos 1970. Ali está também o dono de sábios "chega pra lá" na caretice social e política do país e isso ele faz questão de manter até hoje.

Chacal é autor de 14 livros - o primeiro deles intitulado "Muito Prazer, Ricardo" (de 1971, cuja primeira edição foram 100 cópias feitas em mimeógrafo) e o mais recente "Murundum" (2012, pela Companhia de Letras) e no próximo ano comemora 25 anos do sarau multimídia Centro de Experimentação Poética, o "CEP 20.000", e prepara um espetáculo e um livro sobre a apresentação em que interage com novos talentos da literatura.

Hoje, o poeta descarta bienais e prefere os encontros mais intimistas dos saraus e recitais que faz por todo país. Exemplo disso acontece no próximo dia 27 de novembro, quando retorna para Belo Horizonte, no Sesc Palladium para participar do lançamento da coleção "Leve Um Livro", do poeta Bruno Brum. "Sinto-me muito querido aqui em BH. Acho que vocês gostam deste meu espírito meio encrenqueiro, fora do mercado. Eu também adoro isso", admite.

Atualizado, Chacal usa as redes sociais, especialmente o Facebook, para fazer poesia quase que diariamente. Poesia é trabalho, sim.

Entrevista com Chacal

Três apresentações em um dia? Você está parecendo um cantor de funk. A agenda desse pessoal que é assim: três quatro shows diários...
É... (Risos) Antigamente banda de rock também era assim. Eles fazem baile. Deve cansar para eles, mas dá dinheiro. Mas não é o meu caso.

Aqui, na Feira de Publicações Independentes (que terminou no sábado e onde Chacal realizou o sarau), vários jovens autores mostram os livros deles feitos de forma personalizada, mais ou menos como a sua geração fez nos anos 1970. O que representa para você ser recebido aqui?
Isso demonstra que as editoras da chamada Indústria Cultural estão se esgotando. Elas não conseguem se renovar e atrair poetas novos pois visam sempre o mercado, a coisa do lucro, sempre com imposições, que é muito ruim. Mas os jovens precisam mostrar o que sabem e gostam de fazer de forma livre. Hoje em dia, faço pela duas formas. Tenho livro pela Companhia das Letras, mas tenho as minhas caixinhas, meus posts.

Com mais de quarenta anos de profissão e já reconhecido, você ainda depende de marketing?
Eu sou um marqueteiro de mim mesmo. Mas o meu marketing é ir para o Facebook, que é o lugar que eu mais gosto de frequentar, e publicar meus poemas e projetos. O marketing das grandes editoras - ir para as mesas de grandes bienais, fazer noites de autógrafos - isso não me interessa. Acho "fake", falso, chato. Eu não tenho tesão para bienal. Eu tenho tesão em vir para cá, participar de saraus. É mais político.

Sarau não é comercial...
O sarau é um comício em potencial. É um encontro que se abre para a liberdade de expressão.

Daqui mais 40 anos, como você gostaria de ser lembrado?
Como um poeta. Um poeta militante. Não um poeta da torre de marfim da linguagem, mas um poeta que está batalhando por ter um país melhor e para que as pessoas vivam mais verdadeiramente, menos robotizadas.

...E com mais poesia.
É isso aí!
 

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