Cinéfilo de carteirinha segue à procura da "tradução perfeita"

Elemara Duarte - Hoje em Dia
06/05/2013 às 11:00.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:26

Sabe aquele título algo estranho que é dado a um filme estrangeiro? Pois bem, o professor de inglês e tradutor Iuri Abreu reuniu e analisou a "bizarria" de 300 deles no livro "Perdidos na Tradução" (Editora Belas-Letras). Folheando a obra, algumas risadas são inevitáveis. Bem como a identificação com os filmes que o autor gaúcho aponta. A maioria é de sucessos na telona, mas que já foram exibidos também na TV. A introdução é do ator e diretor José Wilker.

Atualmente morando no Canadá, onde estuda, Iuri respondeu ao Hoje em Dia apontando exemplos que permeiam a publicação. "Cada um tem a Gêmea que Merece", protagonizado por Adam Sandler, por exemplo, era "Jack and Jill", no original.

Ainda neste capítulo, batizado de "Liberdade Total", Abreu destaca o filme "A Maldição dos Mortos-Vivos" – o título original era "The Serpent and the Rainbow". Em tradução livre, "a serpente e o arco-íris". Mas... para um filme de terror? "Arco-íris não mete medo nem em bebê de colo", brinca o tradutor.

E não é preciso ser fluente em qualquer outro idioma que não o português para se atrever nas análises. Na tentativa de explicar o que é "Moulin Rouge" (o famoso cabaré parisiense), um subtítulo intrometido foi incluído na tradução "Moulin Rouge – Amor em Vermelho". "Mas é só analisar outros títulos – ‘Titanic’, por exemplo –, para ver que isso não existe", defende o autor.

Porco triunfante

O professor assistiu a praticamente todos os filmes sobre os quais fala na obra. A pesquisa, vale lembrar, foi feita por sites como o do Internet Movie Database, mas também incluiu a consulta a jornais. Iuri anotava os títulos que chamavam a atenção, por serem engraçados, curiosos, bizarros, poéticos ou criativos. "E eles não param de surgir, como comprova o recente ‘Meu Namorado é um Zumbi’ (corpos quentes, na tradução literal)", pondera.

Mesmo que não mude a metodologia na tradução dos títulos de filmes estrangeiros, "Perdidos na Tradução" é garantia de boas gargalhadas. E serve como fonte para mensurar a repercussão dos títulos de alguns filmes. "A Revolução dos Bichos", baseado na obra de George Orwell, era "Animal Farm" no inglês. Em Portugal, virou "O Porco Triunfante". "E isso não é piada", garante o autor.

Em alguns casos, a alteração se justifica, sim

"René Magritte desenhou um cachimbo e afirmou: ‘Isto não é um cachimbo’. Marcel Duchamp pendurou um urinol numa parede e o chamou de ‘A Fonte’. Dar nome às coisas é tarefa bem complicada", compara José Wilker, na introdução do livro de Abreu. Mas afinal, quais critérios são usados para optar por essa ou aquela tradução de um título?

Iuri diz que a escolha fica a cargo da distribuidora, e não do tão atacado tradutor. "Minha análise mostrou que o principal objetivo é tratar o filme como um produto e criar um título que o venda". A intenção, acrescenta, é, sempre que possível, criar um título chamativo, revelando algo sobre o enredo.

"Quando a tradução literal funciona, não há porque alterá-la. Mas existem casos em que uma adaptação se justifica". Há títulos que contêm uma referência cultural muito específica, como em "Assassinato na Casa Branca", que no original, é "Murder at 1600", número da Casa Branca, em Washington. Ou mesmo, um nome próprio de difícil pronúncia: "Curtindo a Vida Adoidado", se traduzido ao pé da letra, ficaria "A Folga de Ferris Bueller". Aí, complica.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por