Cineasta Kiko Goifman comemora o Brasil na Alemanha

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
08/07/2014 às 08:20.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:18
 (Álbum de família)

(Álbum de família)

Kiko Goifman comemorou a passagem do Brasil para as semifinais, contra a Alemanha, com muita gritaria, roupas em verde e amarelo e cercado de amigos e familiares. Seria um cenário normal em época de Copa do Mundo se o cineasta mineiro não estivesse exatamente no covil do inimigo.

Na cidade dos atuais campeões mundiais de clube (o Bayern, base também da seleção alemã) ele acompanha a exibição de seu mais recente filme, “Periscópio”, no Festival de Munique. Goifman levou a esposa Claudia e o filho Pedro. Na hora do jogo do Brasil contra a Colômbia, na última sexta, foram para um bar – todos devidamente paramentados e munidos da bandeira do Brasil (foto acima).

“Assistimos (a partida) em um bar tradicional alemão, comendo salsichas e pratos locais. Como gritamos muito, a todo momento chamávamos atenção. Impossível saber se pelo barulho ou porque seremos adversários”, observa o realizador de Belo Horizonte, em entrevista ao Hoje em Dia.

Com a contusão de Neymar, que o tirou da Copa, Goifman registra que o semblante dos adversários desta terça-feira (8) é de alívio. “Eles falam do Neymar o dia inteiro, o tempo todo. Com a seriedade alemã, mas com alívio. Na TV não passa outra coisa”, comenta.

Pouco antes de a bola rolar contra os colombianos, Goifman ficou diante da porta do hotel com uma bandeira do Brasil. “Um rapaz bêbado ficou ao meu lado cantando o hino da Alemanha bem alto”, relata. O episódio não assustou Goifman, que preferiu enaltecer a “coragem” do jovem torcedor.

Alguns amigos, cineastas alemães confessam uma certa vergonha de usar trajes nacionalistas ainda nesta terça, principalmente em Munique, pelo seu passado”, assinala Goifman, referindo-se ao fato de a cidade ter sido moradia de Adolf Hitler e palco de uma tentativa de golpe de Estado, em 1923, pelo Partido Nazista.


Atleticano e na torcida para Bernard ocupar o lugar de Neymar logo mais (“Ele é o único reserva que pode ser ousado, partir pra cima e esquentar o jogo”, avisa), Goifman assistirá ao confronto no avião, de volta para casa. “E com muita raiva disso. Mas acho que vamos ganhar. Não vejo o time alemão tão forte, apesar dos vários craques”, aposta.

5 FILMES

... para ficar por dentro do futebol alemão


WE ARE THE CHAMPIONS (2012)
Direção: Sepp Maier
O lendário goleiro realiza documentário sobre os bastidores da conquista da Copa do Mundo de 1990


LIÇÕES DE UM SONHO (2011)
Direção: Sebastian Grober
Baseado em fatos reais, o filme conta a história do professor Konrad Koch, que lutou para introduzir o futebol na Alemanha de cultura nacionalista do século 19


O MILAGRE DE BERNA (2003)
Direção: Sönke Wortmann
Sob a perspectiva de um garoto, o filme aborda como a conquista da Alemanha na Copa de 1954 ajudou a retomar o orgulho da nação, esfacelada após a Segunda Guerra


O FUTEBOL É NOSSA VIDA (1999)
Direção: Tommy Wigand
Quatro fanáticos torcedores do Schalke 04 se desesperam porque o astro argentino do time está numa má fase

ONZE DIABOS (1927)
Direção: Zoltan Korda
Num pequeno clube, trabalhadores jogam futebol, liderados pelo atacante Tommy, mas esse recebe uma proposta para se transferir para um time grande

ALÉM DISSO

Diretor de premiados filmes como “33” e “Filmefobia”, Kiko Goifman enfoca, em “Periscópio”, a relação de dois homens num apartamento. Eric, vivido por Jean-Claude Bernardet, está doente e humilha seu secretário e enfermeiro, Élvio (João Miguel). Pautada por provocações, a relação se deteriora a ponto de ficarem a um passo de se matarem.

No Festival de Munique, encerrado no sábado com a presença de convidados como a atriz francesa Isabelle Huppert e o diretor americano Walter Hill, o filme teve a sua primeira exibição no exterior. “Foi incrível. Sessões cheias sempre seguidas de debates. No sábado, meu debate terminou quando já era meia noite e meia! Num sábado à noite!”, vibra Goifman.

Chucrute para comemorar ou lamentar

Em Belo Horizonte, uma das concentrações “inimigas”, durante a partida do Brasil contra Alemanha e no pós-jogo (para comemorar ou lamentar), será o restaurante Neckartal (rua Leopoldina, 43, bairro Santo Antônio).

Referência da cultura alemã na cidade, o local ganhou o “estômago” não só de alemães e seus descendentes que residem na capital como também de quem está acompanhando a Copa.

“Desde o início dos jogos eles vêm para cá. Há muitos turistas alemães em BH hospedados em casas do pessoal da colônia”, observa Vivian Emma Boger, proprietária do Neckartal.

Profissionais da rede alemã de TV ZDF também são aguardados nesta terça-feira (8). Eles já são clientes dos pães alemães vendidos no espaço e fabricados pela empresa HB, administrada pela família de Vivian.

“Toda semana enviamos de 20 a 30 quilos de pães e embutidos para a sede da emissora durante a Copa, no Rio de Janeiro”, registra o irmão Erich Boger, responsável pela fábrica aberta em 1972.

EM CIMA DO MURO

O Neckartal funciona há três anos como restaurante. “Antes era uma delicatessen, com cinco mesas para almoço. Como a demanda aumentou, invertemos, priorizando o restaurante”, registra Vivian.

Apesar de serem descendentes de alemães, os irmãos adotam o lema “que vença o melhor” para o jogo no Mineirão. “Nascemos no Brasil, embora estejamos muito ligados à cultura alemã”, justifica Vivian.

Ela calcula um número de 200 alemães na cidade. A maioria de seus clientes é formada por descendentes brasileiros e por viajantes que se apaixonaram pela comida do país europeu.

Colônia unida

“O lado gostoso dessa Copa do Mundo no Brasil é que está unindo a colônia alemã de novo. Devido ao nosso corre-corre, chegamos a ficar anos sem nos ver”, destaca Vivian.

Um brasileiro infiltrado na toca da torcida adversária

Descendente de alemães e presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira deve bater ponto nesta terça-feira (8) no Neckartal após a partida no Mineirão.

Mas não estará lá exatamente para dividir seus sentimentos com os alemães. Ele não esconde que sua grande paixão é o Brasil.

“Sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor. Irei lá porque eles são muito divertidos. Além disso, o segundo time do coração deles é o Brasil”, avisa.

O problema na casa de Lima Pereira não é rivalidade entre brasileiros e alemães e sim entre patrícios, já que sua esposa, Beth, é portuguesa. “Nesse caso, a família se divide”.

Fluente em alemão, o presidente da Casa Fiat registra que os alemães que estão em BH estão muito comedidos em relação ao jogo desta terça.

“Falam em vitória, mas com um placar de 1 a 0. Para os brasileiros, a vitória é sempre com goleada, como um 4 a 0”, compara.
 

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