Clássicos das décadas de 30 e 40 ganham tela do Cine Humberto Mauro

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
06/03/2015 às 07:55.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:15
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

Quando se fala em época de ouro do cinema, logo vêm à mente os clássicos americanos das décadas de 30 e 40, como “E o Vento Levou...” e “Casablanca”, que até hoje têm fãs que sabem os diálogos de cor. Mas esse mapa da mina não se restringiu à terra do Tio Sam: o solo japonês, por exemplo, também foi dos mais férteis em matéria de celuloides preciosos, como comprova uma mostra especial com início nesta sexta-feira (6), no Cine Humberto Mauro, em Belo Horizonte.

Dessa safra surgiram realizadores que contribuíram não só para o desenvolvimento do cinema, como também, do ponto de vista histórico, foram testemunhas das transformações socioeconômicas do Japão do pós-guerra.

O curador da mostra, Bruno Hilário, destaca que a aproximação com o Ocidente impôs mudanças profundas na sociedade nipônica, como o reconhecimento da importância da mulher, a modernidade se contrapondo à tradição e o trauma da bomba atômica, jogada pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki, em 1945.

Enquanto a recém-implantada televisão tirava, em várias partes do mundo, espectadores das salas, no Japão a frequência aumentou consideravelmente, saltando de 845 locais de exibição, em 1945, para mais de 6 mil nos anos 50.

“A produção de filmes também cresceu, chegando a suplantar Hollywood, em quantidade”, registra Hilário, que contou com o apoio da Fundação Japão e do Consulado Geral Honorário do Japão em Belo Horizonte.

Serão apresentados até o dia 26, com entrada franca, 19 obras de diretores reverenciados como Yasuhiro Ozu, Kenji Mizoguchi, Akira Kurosawa e Shoei Imamura.

Os nomes complicados podem representar pouco para quem não é cinéfilo, mas cada um deles traçou um olhar interessante sobre o que estava acontecendo na época.

“Mesmo quando retrata o Japão feudal nos dramas históricos, Mizoguchi estava falando, na verdade, sobre o homem do tempo dele”, analisa.

Nos filmes, o foco estava nas mulheres. Mas, segundo os biógrafos, não era uma questão de gosto, e sim uma imposição do estúdio, pois outros diretores da companhia escolhiam os homens como protagonistas.

Dois filmes, aperitivo para mostra de Kurosawa


Maior expoente do cinema japonês no Ocidente, Akira Kurosawa está representado na mostra por apenas dois filmes: “A Luta Solitária” (1945) e “Juventude sem Arrependimento” (1946).

A intenção da gerência do Cine Humberto Mauro é fazer uma segunda parte no próximo semestre, que teria como eixo a filmografia de Kurosawa, autor de obras-primas como “Rashomon” (1950) e “Os Sete Samurais” (1954).

Na primeira parte, o foco é Yasuhiro Ozu e Kenji Mizoguchi. Se o espectador preferir, ele poderá ver os filmes de cada um deles em ordem cronológica, durante dois dias.

Cinco longas de Ozu serão apresentados neste sábado (7) e domingo. No caso de Mizoguchi, seis filmes selecionados passarão nos próximos dias 10 e 11.

Em quase todos eles observa-se um cinema que explora os efeitos da guerra de uma forma menos ressentida.

Um exemplo é “De Onde se Avistam as Chaminés” (1953), de Heinosuke Gosho, em que o marido reclama do fato de a mulher se assustar demais com os barulhos. “É uma forma de dizer: a vida segue”, comenta o curador.
 

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