Comédia romântica "Qualquer Gato Vira-Lata 2” se perde em equívocos

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
11/01/2016 às 08:30.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:58
 (Divulgação)

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Gênero do cinema nacional mais bem-sucedido nas bilheterias, a comédia romântica começa a dar sinais de saturação, com a repetição de situações, especialmente no caso de continuações, como as de “Meu Passado me Condena”, “De Pernas pro Ar” e “Qualquer Gato Vira-Lata”, essa lançada recentemente no mercado de DVD.

Não é culpa do gênero, que já contou com grandes mestres na sua condução, responsáveis por injetarem novos ingredientes, mesmo quando o final não pode abrir mão de um casal reconciliado e feliz. Entre os roteiristas brasileiros parece que não há outra possibilidade de se criar momentos de humor que não seja simplesmente trocando de cenário.

Em “Qualquer Gato Vira-Lata 2”, que tem como origem uma peça escrita por Juca de Oliveira, de fortes relações com o clássico francês “Cyrano de Bergerac”, as teorias – geralmente machistas – sobre a melhor forma de convivência entre homem e mulher são reprisadas com a diferença de que o Rio de Janeiro, palco anterior, é trocado por um resort mexicano.

Como em seus congêneres, o truque é gastar meia hora de narrativa com a viagem, que servirá como grande teste para o amor do casal. É a reprodução de um conceito que diz que, quando estamos longe de nossa zona de conforto, não há nada para distrair ou esconder, tornando as reações mais naturais e próximas do que seria a personalidade das pessoas.

O suspense e o horror já exploraram essa sensação, como uma expressão de culpa por suas intenções libidinosas (os passeios de adolescentes pelo lago Crystal eram devidamente “punidos” pelo serial killer Jason Voorhees, em “Sexta-Feira 13”), mas nas comédias a mudança de endereço tem por objetivo botar seus personagens em situações-limite.

Na maioria das vezes, o que prevalece é o caos, com o lugar sendo ruidosamente descontruído em suas tradições e valores, como a família de “Férias Frustradas”. As brincadeiras são reveladoras da incapacidade do americano médio, por exemplo, em se adequar a um outro estilo de vida e de seu desconhecimento sobre o que está fora de seu país.

Em outros filmes, a cultura local acaba prevalecendo, inicialmente a contragosto dos protagonistas, e fazendo parte das decisões e caminhos da narrativa. Um exemplo recente é “Minha Querida Dama”, esse mais um drama do que uma comédia, em que um americano terá que deixar de lado a sua arrogância e pragmatismo para interagir com seus anfitriões europeus.

Na produção brasileira, encabeçada por Cleo Pires e Malvino Salvador, pouco se explora esse fator cultural. Os personagens parecem pouco afetados por esse deslocamento, como prova os dois amigos surfistas e idiotas que compram as passagens por telefone e logo estão entre os hóspedes, como se tivessem ido de um bairro a outro do Rio.

Essa percepção se estende aos outros personagens e ao próprio humor do filme, que não dá a mínima atenção ao rico material ao seu redor, aproveitando mal a dificuldade de comunicação e o comportamento diferente em outro país. E quando se tenta dialogar com esses aspectos, o resultado é bastante ruim, limitado às aparições de um grupo de mariachis.

Em outro filão muito recorrente nas comédias, a partir das farsas e dos desencontros ocorridos em hotéis, a comicidade se instala com mais facilidade, mas também bem aquém do que poderia gerar. É o caso da mãe de Malvino, que aproveita a viagem para levar pretendentes ao seu quarto, que rendem algumas da melhores sequências do longa.

Desse encontro entre hotéis e lugares estranhos surgiram alguns dos melhores filmes do subgênero, como “Avanti... Amantes à Italiana!” (1972), com um Jack Lemmon atordoado com a latinidade, e “Charada”, em que Cary Grant e Audrey Hepburn praticamente não saem do hotel em que estão hospedados, na França, lidando com os curiosos costumes da Cidade Luz.

Nesses dois exemplos, há muita malícia e trocadilhos, com diálogos divertidos que conduzem o espectador a, quase sem perceber, acreditar que estão diante do casal ideal. Diferentemente do que acontece com Cleo Pires e Malvino, que não exibem qualquer química. Resta a brincadeira com Fábio Júnior, pai (na ficção e na vida real) que aparece para dar algumas dicas sobre casamento.

Assista ao trailer do filme:

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