Com nova exposição didática, Inhotim explora história da arte contemporânea

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
01/10/2015 às 07:25.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:54
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O Inhotim é um daqueles museus em que não é preciso se apegar a informações sobre autores, textos e contextos para curtir suas obras. Normalmente, basta experimentá-las. Mas a partir desta quinta (1º), o famoso espaço cultural de Brumadinho também fará um convite aos visitantes para uma exposição mais reflexiva sobre a história da arte.

Isso porque a mostra “Do Objeto para o Mundo”, que ficou em cartaz no Palácio das Artes da capital mineira e no Itaú Cultural, em São Paulo, chega ao Instituto que a concebeu. Trata-se de um grupo de obras históricas que fazem parte do acervo do Inhotim e permitem a ampliação do conhecimento sobre diferentes momentos e estéticas da arte contemporânea em diferentes partes do mundo.

Ali estão exemplos do neoconcretismo brasileiro, do processo que envolveu a contaminação do objeto de arte pela vida nos anos 1960, do movimento vanguardista japonês, além da performance e no uso do próprio corpo como experiência artística.

“É uma exposição que fala da história da arte, o que é uma novidade no Inhotim. Em todo percurso, trabalhos históricos estão em contato com contemporâneos”, afirma o diretor artístico do Instituto, Rodrigo Moura, reforçando a importância do diálogo de linguagens entre o histórico e a atualidade.

Novidades

Justamente nessa exposição em que há um foco maior sobre a reflexão e o estudo, há poucos textos nas paredes. Isso porque os visitantes são convidados a ler, com o celular, o QRcode disponível na parede, com informações sobre cada uma das obras.

Algumas delas não estavam no Palácio das Artes e enriquecem bastante o processo reflexivo de cada momento da exposição em que estão inseridas. Caso, por exemplo, de “Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Coca-Cola”, feito por Cildo Meireles em 1970. É um dos vários projetos do artista em que frases de cunho político eram colocadas em objetos de apelo popular postos em circulação – em plena ditadura militar.

Ou ainda “Coat Closet”, de 1973, em que Gordon Matta-Clark expõe o extrato de um piso e uma porta que eram de um armário de um edifício em processo de demolição.

O setor dedicado ao movimento Gutai ganha mais três sequências fotográficas (de Koji Enokura, Hitoshi Nomura e Jiró Takamatsu). Além de uma sala, a produção desse grupo também ganha os jardins, já que “Red”, feita por Tsuruko Yamazaki em 1956, foi armada na entrada da Galeria Fonte. Uma dica importante: é permitido entrar na estrutura vermelha em forma de cubo.

Para quem nunca foi ao Inhotim, talvez a mostra “Do Objeto para o Mundo” seja o pontapé inicial. É interessante observar ali o contexto histórico em que estão inseridos Lygia Pape, Helio Oiticica e Cildo Meireles, para depois curtir suas obras, que estão na lista das mais apreciadas do Inhotim.

Instalação mistura vídeo com colagens e desenhos

Quem visitar o Inhotim a partir desta quinta (1º) encontrará outra novidade. Na estrutura de 1.500 metros quadrados que antes era chamada de pavilhão “Cardiff & Miller”, por abrigar a maravilhosa obra auditiva “The Murder of Crows”, foi colocada outra criação que promete também chamar bastante a atenção dos visitantes.

Trata-se de “I Am Not Me, The Horse Is Not Mine”, videoinstalação feita pelo sul-africano William Kentridge em 2008, exibida pela primeira vez no instituto de Brumadinho.
Vale a pena parar para observar cuidadosamente cada uma das oito projeções, exibidas simultaneamente e em loop contínuo. Os vídeos foram feitos a partir de material de pesquisa do próprio artista enquanto ele preparava uma versão para a ópera “O Nariz”, de Dmitri Shostakovich, para a Metropolitan Opera, em Nova York.

“Enquanto pesquisava para a ópera, o artista foi estudar a história russa e a história da própria ópera (apresentada pela primeira vez em 1930, em São Petersburgo). Absorveu toda a euforia e ideias vanguardistas que faziam parte da Rússia naquele momento, como também tudo aquilo que estava se desgastando com a ascensão do Stalinismo”, explica o diretor artístico Rodrigo Moura.

Colagens

Kentridge utiliza imagens de arquivo para as projeções, incluindo performances ao piano do próprio Shostakovich. Com esse material em mãos, ele faz intervenções com técnicas que domina muito bem, como o desenho, a colagem e o stop motion. Uma sombra que remete a um nariz é sobreposta a imagens antigas de pessoas, dialogando com a ideia da ópera – baseada em um conto de Nikolai Gogol, em que o nariz de um oficial foge de seu rosto e assume uma patente superior à dele.

A imagem de um cavalo também aparece em vários momentos das projeções e ganha uma referência no título da obra. Isso acontece porque “I Am Not Me, The Horse Is Not Mine” (não sou eu, o cavalo não é meu, em tradução livre) é uma frase famosa na cultura russa, dita pelos que querem fugir de suas responsabilidades.

Assim como a obra de Cardiff & Miller, “I Am Not Me” será apresentada de forma temporária. A previsão é de que fique ali por dois anos. Mas tudo depende do feedback do público, já que “The Murder of Crows” acabou ficando por quatro anos.

Em breve

Essas não são as únicas novidades do Inhotim em 2015. Em novembro, será inaugurado o pavilhão dedicado às fotografias de Claudia Andujar, o primeiro a ser feito com financiamento de parceiros.

O Inhotim funciona de terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30,e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. Entrada: quarta-feira gratuita; terça e quinta: R$ 25; sexta, sábado, domingo e feriado: R$ 40. Informações em inhotim.org.br

Para celebrar a inauguração das novas exposições, o Inhotim recebe nesta quinta, às 15h, o show da banda paulista de afrobeat Bixiga 70. A apresentação acontece no palco montado no Magic Square

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