Com o bloco ‘Folia Hip-Hop’, a cultura urbana toma conta também do Carnaval

Jéssica Malta
20/02/2019 às 17:38.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:38
 (Marcela Ferreira Valina/Divulgação)

(Marcela Ferreira Valina/Divulgação)

É através das mãos de várias mulheres que a pulsante cena de hip-hop mineira ganha as ruas da capital durante a principal festa do ano: o Carnaval. A iniciativa, que coloca em cena o bloco “Folia Hip-Hop”, já tinha sido ensaiada no ano passado, quando colocou cerca de 10 mil pessoas embaixo do Viaduto Santa Tereza, local já tradicional por receber mensalmente o Duelo de MCs.

Mas, agora, sob a direção do Matriarcas Mob, o projeto ganha novo fôlego. Ocupando o mesmo espaço, o cortejo acontece no dia 3 de março, com shows do coletivo, cortejo e uma bateria formada por alunos do programa Projovem.

Embora os beats do rap possam parecer distantes das imagens carnavalescas que dominam o imaginário popular, a rapper mineira Tamara Franklin pontua que não há tanta distância entre os movimentos. “O Carnaval de Belo Horizonte surge nas ruas, como iniciativa de uma galera que é de periferia, das militâncias e movimentos sociais e isso tem uma identificação muito grande com o movimento hip-hop, que é uma cultura feita na rua, pela rua e para a rua”, pontua.

A própria presença do gênero na folia da capital não é uma novidade. “Muitos MCs já integravam alguns blocos. O que faltava mesmo era algo direcionado exclusivamente para o hip-hop. O bloco surge para suprir essa carência”, explica

Mas, além de suprir essa carência, o bloco surge com a missão importante de retratar, de forma mais fiel, a própria cultura da capital e da Região Metropolitana. “A cultura de Minas é muito marcada pela presença do hip-hop. Não conseguimos falar daqui sem falar dos duelos de MC e dos rolês que acontecem no Centro e na periferia. Conseguirmos assinalar isso também no Carnaval, que recebe tantos turistas. A presença do hip-hop é importante e é também uma forma de tornar a festa mais representativa da cultura mineira”, afirma.

O fortalecimento do bloco acontece, ainda, em um contexto importante para o cenário do rap do Estado, que tem se tornado referência no Brasil. “É um dos grandes momentos do hip-hop mineiro. Apesar de a cena ter sido sempre movimentada, mesmo quando estava ausente do centro, é um período de grande visibilidade para o movimento”, destaca a artista.

Feminino

A presença das mulheres no palco – e também na organização do bloco – é outro fator que reforça ainda mais a relevância da iniciativa. “É uma maneira de registrar a existência das mulheres na cena do hip-hop. Apesar de elas sempre terem existido, há mais registros de nomes masculinos. Então, é tudo como um grito para marcar e perpetuar essa história”, sublinha.

A afirmação da existência dessas mulheres acontece ainda em diálogo com o próprio contexto atual. “Estamos em um momento em que vemos as mulheres assumindo o protagonismo dentro da academia, da literatura. Com o hip-hop não seria diferente”, ressalta.

Além disso

Uma das expoentes do cenário feminino do hip-hop de Minas Gerais, a rapper mineira Tamara Franklin conta que sua relação com o movimento é longa. “Faço rap há aproximadamente 15 anos, mas sou inserida dentro dessa cultura desde os meus oito anos. Então, já faz 19 anos que estou aprendendo e sendo construída por ela”, explica.

Apesar da longeva relação com o movimento, ela conta que foi em 2015 que ganhou mais notoriedade, quando lançou o álbum “Anônima”, seu primeiro disco. “Agora, estou no corre de produzir um novo disco, que deve ser lançado em agosto ou setembro”, adianta.

No coletivo, a atuação também é recente – assim como a própria criação do Matriarcas Mob. “Estamos no início. A própria iniciativa tem se construído muito dentro do bloco. Essa é nossa primeira ação considerável, de maior porte. E isso tem moldado muito a identidade do coletivo a definição de definir nossos valores, de saber como vamos trabalhar e o que vamos priorizar”, diz.

“O coletivo tem um traço para além da arte e da cultura. Também temos mulheres empreendedoras”, pontua ela, ressaltando a importância de se colocar em cena as questões que implicam o universo feminino.
 


Serviço: Bloco Folia Hip-hop, domingo (3 de março), às 13h no Viaduto Santa Tereza. Gratuito.

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