Consultores ensinam como escapar da "saia justa" nas redes sociais

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
05/10/2014 às 08:37.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:28
 (Arte Hoje em Dia)

(Arte Hoje em Dia)

Certas brincadeiras ditas “do fundo do baú” têm o estranho hábito de, vez ou outra, voltar à tona – talvez só para provar aos incrédulos que, de fato, pouca coisa se cria – principalmente em tempos em que a palavra revival é aplicada com recorrência. Dos muitos exemplos que poderiam ser citados, não há como não mencionar as chamadas “correntes”. Atire a primeira pedra quem nunca entrou em uma igreja e se deparou com um monte de fotocópias de orações que traziam, ao fim, uma frase do tipo “repasse para 10 pessoas ou...”? Sim, algumas correntes podem conter ameaças.   “Se não cumpríssemos (a corrente), até bilhete da Mega-Sena corríamos o risco de perder. O texto contava história de gente que perdeu emprego, a casa, a família e até o cachorro. Enquanto não se cumprisse, a corrente a vida se transformava numa tragédia grega. Todo mundo morria de medo e eu passava longe desses bilhetes”, recorda, aos risos, o fotógrafo Eduardo Alonso, 47 anos.   Mas não eram só as correntes religiosas que tiravam o sono das pessoas. Existiam também as indecorosas listinhas na sala de aula. Nelas, os próprios colegas tinham que eleger o “garoto mais legal”, a “menina mais bonita”, a “pessoa mais chata”, entre outros tantos.   “Quando a lista caía na sua mão, você era obrigado a responder. E era um sofrimento danado, não tinha jeito de disfarçar a letra. Todos nós conhecíamos a grafia de todo mundo. Era uma confusão, porque aquilo era a fofoca publicada”, conta, também rindo, a historiadora Helena Canazart, de 33 anos. Hoje, com todo o vigor das rede sociais, brincadeiras desse tipo tendem a piorar – e constranger com um poder ainda mais destruidor.   Quando menos se espera, lá estamos nós, aos moldes do personagem dono da loja de vinis de “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby, a fazer listas de livros, filmes, músicas, bandas, séries....   Bem, tudo isso se junta a um amontoado de solicitações para jogos, convites para festas que nunca iremos, páginas que dificilmente iríamos curtir voluntariamente... Mas, como negar a um pedido da mãe da namorada?   Para escapar da saia justa sem ser punido virtualmente ou, mais grave ainda, da vida real de entes queridos, existem, claro, opções: a primeira é não ter Facebook, enfrentando de cabeça erguida as críticas. A segunda, entrar na brincadeira. E, por último, recusar os convites com a classe de um lorde inglês. Para facilitar a vida de todos, o Hoje em Dia conversou com especialistas que ensinaram como escapulir das “roubadas” dos tempos modernos.   Uma lista para chamar de sua   Ao abrir sua página no Facebook, você descobre que existem 37 novas notificações: sete delas são para jogar Castle Ville, outras 12 são convites para festas de pessoas que você nunca viu pessoalmente, cinco são para curtir páginas de assuntos que não te dizem respeito, três são cutucadas da namorada que você acabou de deixar em casa e as outras dez são para participar de uma nova mania nas redes sociais: listas que você precisa fazer contando seus filmes, músicas, lugares e livros favoritos.   Tudo bem se você é um cinéfilo ou um leitor compulsivo. Se está de férias e adora cumprir tarefas que, para você, são moleza. “Mas se você não quer participar, não entre. A vida tem obrigações demais e a internet, especialmente o Facebook, tem o intuito de ser prazeroso, divertido”, comenta a especialista em redes sociais– Janaína Andrade.   “A grande questão em relação a esse fenômeno de brincadeiras, listas e correntes que circulam na internet é a fuga. Porque tudo o que as pessoas tentam fazer desesperadamente é se encontrar umas com as outras. E conhecer umas às outras. E se elas não têm coragem para isso, ficam se satisfazendo virtualmente e, muitas vezes, menosprezam a materialidade. Existem jogos onde se pode ser um guitarrista fantástico e eles são ótimos, mas tente tocar uma guitarra de verdade ou amar na vida real. É certamente bem mais difícil, mas materialmente é muito mais divertido”, afirma o consultor comportamental Breno Soares.   Bloqueio   Janaína destaca que, para fugir de convites como os citados, o internauta pode contar com várias ferramentas que o próprio Facebook dispõe em sua configuração. “Nele, é possível bloquear jogos, convites e até pessoas da sua página. Sempre que receber um convite para jogos, por exemplo você tem a opção de recusar”.   “Quando o convite trata de listas, a situação fica mais complexa, porque elas são muito pessoais. As marcações são feitas, na maior parte das vezes, por pessoas bem próximas. Uma amiga no trabalho perdeu um dia inteiro fazendo uma lista de discos incríveis para conhecer, porque o cunhado a tinha marcado na brincadeira”, comenta Breno.   Nesses casos, Janaína orienta ao internauta entrar em contato, por mensagem na própria rede, e dizer que, logo que tiver um tempinho livre, vai responder a brincadeira.   “Se a pessoa insistir e mandar uma nova marcação você precisa dizer a verdade: seja porque não gosta, que está sem tempo ou não sabe responder. Deixar a pessoa no vácuo é a pior saída, porque daí surgem os mal-entendidos”, completa ela.   Seja franco   “Se o amigo é próximo de verdade, seja franco. Muitas vezes, esses constrangimentos e saias justas só acontecem porque não estabelecemos limites. Existem pessoas que colocam, em seus murais, ‘não me convidem para jogos virtuais, mas me chame para uma pelada’. Isso é genial. É fabuloso quando você consegue ser realmente verdadeiro na internet, porque ela te possibilita todas as máscaras”.   Agora, se você faz parte dos que, por acaso, fez uma dessas brincadeiras com alguém, fique tranquilo e não se martirize. “A tendência de todas as coisas, inclusive as virtuais, é buscar a pessoalidade. É bom saber um pouco mais sobre um amigo que mora longe, curtir uma página indicada pela sogra. Tudo isso depende de um clique e, incrivelmente, pode mudar alguns parâmetros na vida real”, aponta Breno.

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