RECIFE - O corpo do cantor cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos, 72, foi enterrado nesta quinta em Paulista, no Grande Recife, às 18h43, sob uma chuva de pétalas de rosas, parte de um grande show de despedida que começou já no velório.
O artista pernambucano morreu anteontem, em São Paulo, em consequência de um câncer de pulmão, contra o qual lutava há seis anos.
Vários amigos que foram à Assembleia Legislativa de Pernambuco, onde o corpo foi velado, empunharam sanfonas e cantaram clássicos como "De Volta Pro Aconchego" e "Eu Só Quero um Xodó". Emocionados, participaram da última homenagem cantores como Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alcimar Monteiro, Cezzinha, Cristina Amaral, Nando Cordel, Genival Lacerda e Israel Filho. O músico Camarão, 73, chorou abraçado à sanfona. "Não tem palavras para traduzir o quanto ele é amado pelo povo", disse Elba.
Até o padre que celebrou a cerimônia durante o velório se rendeu às homenagens e cantou "Ave Maria Sertaneja", de Luiz Gonzaga. Centenas de fãs chegaram ainda de madrugada e puderam acompanhar o velório durante sete horas. Enquanto a fila seguia, o público fotografava e exibia discos de Dominguinhos. Os fãs paravam apenas para acompanhar o coral que cantava as músicas que imortalizaram o sanfoneiro. No fim da tarde, o caixão com o corpo de Dominguinhos seguiu num caminhão do Corpo de Bombeiros em cortejo até o cemitério.
Na entrada do cemitério, cerca de cem pessoas receberam o caixão com mais forró e baião. Dominguinhos deixou dois filhos, Mauro Moraes, 53, filho do primeiro casamento, e Liv Moraes, filha do último.
Local polêmico
Numa entrevista antiga à Rádio Jornal, Dominguinhos afirmou desejar ser enterrado em Garanhuns, a 209 km da capital pernambucana. "Se por acaso tu morrer, tu vai para Garanhuns, Santo Amaro (bairro do Recife onde se localiza um cemitério homônimo) ou fica por São Paulo?", perguntou o radialista Geraldo Freire. "Ave Maria, eu sempre falo de Garanhuns", respondeu Dominguinhos.
Até ontem não havia definição de onde Dominguinhos seria enterrado. Guadalupe Mendonça, mãe de uma das filhas do músico, Liv Moraes, e que tinha procuração para tratar dos assuntos dele, havia anunciado que o enterro seria no Recife. No entanto, após a entrevista à Rádio Jornal voltar à tona, Liv disse que o local estava indefinido por causa de "um conflito".
Gilvany Brasileiro, advogada de Guadalupe, havia dito à reportagem que o conflito era que Liv não tinha conhecimento desse desejo do pai de ser enterrado em Garanhuns e que gostaria de escutar a gravação para considerar o enterro na cidade. Segundo ela, Liv tinha dito que, nos últimos anos, Dominguinhos não tinha manifestado esse desejo, e ela queria entender se é algo muito antigo e se deveria ser levado em consideração.
No velório ocorrido em São Paulo, na quarta, Mauro Moraes, filho mais velho do cantor, pediu à advogada de Guadalupe que o deixasse participar das decisões sobre o enterro do pai. "Descobri hoje que ele queria ser enterrado em Garanhuns. Temos de respeitar seu desejo. Por favor, eu sou filho dele", disse.