Criola lança mão do grafite contra os estereótipos sobre o negro

Pedro Artur- Hoje em Dia
20/11/2014 às 08:32.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:05
 (ATHOS SOUZA/Divulgação)

(ATHOS SOUZA/Divulgação)

Tainá Lima sempre desafiou tabus, tendo que conviver, às vezes, com a intolerância racial. Menina da comunidade do Morro São Lucas, estudou em uma unidade da rede particular, graças a uma bolsa. Lá sofreu constrangimentos, escutou provocações enviesadas, como “vá pentear seu cabelo”, “seu cabelo é ruim”, mas seguiu em frente. Adolescente entrou para o movimento hip hop. Agora, aos 24 anos, tornou-se grafiteira e mora com a avó, no bairro Santa Efigênia. A arte, ela utiliza como engajamento, para a valorização da cultura e da mulher negra.   Esse caminho traçado – muitas vezes na luta contra a baixa autoestima que queriam lhe impingir – não foi fácil. Mas, nem por isso, dobrou seu espírito de “guerreira africana”. “Na verdade, descobri que isso estava dentro de mim, por causa do hip hop. Em meus trabalhos, procuro contrapor a parcela da mídia que ainda representa o padrão de beleza da mulher brasileira como se fosse europeu, de cabelo liso, nariz fino e olho azul”, dispara Tainá, cujos grafites estão espalhados por bairros como Taquaril e Santa Efigênia. A série mais recente – “Orí – a Raiz Negra que Sustenta é a Mesma que Floresce” – retrata duas mulheres negras, e pode ser vista na rua dos Timbiras, 1.645, entre a rua da Bahia e a av. Álvares Cabral, no Centro.    Para Tainá – que adotou o nome artístico de “Criola” – o trabalho visa tentar despertar a consciência negra, além de lutar contra os estereótipos enraizados na sociedade brasileira sobre a mulher negra, especialmente relativas à sua sexualidade.    “É preciso sair desse lugar comum puxando pelo lado da sexualidade, da favela. A mulher negra não é só empregada doméstica, também pode ser a autora da sua própria história. Onde estudei, quando era menina, não tinha nem colega nem professor negro. Então, quero, com meus trabalhos, que a criança (negra) se sinta representada. O grafite exerce esse papel de contestação”, ensina Criola, que se forma no final deste ano, no curso de Design de Moda, na Escola de Belas Artes da UFMG.   De geração em geração   Há 12 anos Belo Horizonte é palco de uma das importantes celebrações em torno da cultura africana – sobretudo a de congado. Desde 2002, a capital hospeda o “Festejo do Tambor Mineiro”, que, neste ano, aconteceu no dia 17 de agosto.   Para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, o Hoje em Dia selecionou imagens do fotógrafo Eugênio Moraes feitas na ocasião. Durante o encontro, estiveram reunidas 12 guardas seguidoras da tradição africana, além de apresentações musicais que incluíram os talentosos Sérgio Pererê e Maurício Tizumba. Como acontece todos os anos, o som dos tambores ecoou pelas ruas do bairro Prado, na região Oeste da cidade.   Com roupas a caráter, esbanjando cores e leveza, as guardas e os grupos percussivos aproveitaram, ainda, para apoiar as Festas das Irmandades do Rosário. Conhecidos como “Guardas de Congado”, os grupos representam diferentes áreas de Belo Horizonte, da Região Metropolitana e do interior de Minas. A tradição de origem africana é mantida e repassada às novas gerações graças ao envolvimento religioso e cultural da população.    “Festas como essa simbolizam nossa resistência. Se durante muito tempo nossa cultura foi massacrada, hoje estamos aqui representando nossos antepassados, reunindo as mais diversas classes que, como nós, comemoram a cultura”, disse o músico, cantor e compositor Maurício Tizumba, idealizador do evento.   Dia da Consciência Negra é lembrado   - PROGRAMAÇÃO TEMÁTICA NA UFMG A Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG, no Campus Pampulha, recebe a Semana da Consciência Negra, com o tema “De Fora Para Dentro: Resistências Além da Universidade”. O evento vai até esta sexta-feira (21). Informações no facebook.com/events/ 751905688180697/    - DEBATE SOBRE MODA AFRO EM UBERLÂNDIA A designer de moda Makota Kizandembu Kiamaza ministra palestra e oficina sobre moda afro no 1º Encontro de Ogans, Ekedis e Artistas de Terreiro, vai desta sexta a domingo (23), em Uberlândia. Makota é especialista na arte do turbante e das amarrações em tecido e compõe a roda de conversa sobre o tema “Moda Afro: A Construção da Identidade Visual da Juventude Negra a Partir da Simbologia dos Orixás”. O debate será no domingo, às 9h, na Casa da Cultura Graças do Axé (av. Cesário Crosara, 4187. Bairro Roosevelt). Makota é também coordenadora executiva da Associação Nacional da Moda Afro-Brasileira.   - 5º PRÊMIO ZUMBI NO PALÁCIO DAS ARTES A programação de debates do 5º Prêmio Zumbi de Cultura 2014 continua até o dia 28 deste mês, das 14h às 22h. Na próxima terça-feira (25), a agenda acontece na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Centro), com o tema “O Artista na Arte Contemporânea com sua Tradição”. Estão previstos debates, shows e a Mostra CineAfroBH.    - PRÊMIO ZUMBI NA FUNARTE E NO CRMODA Na quarta-feira (26), a partir das 14h, a programação do Prêmio será na Funarte MG (rua Januária, 68, Floresta), com o tema “Rede, Juventude e Diversidade Cultural”, e terá debates e a exposição “Moda, Cabelo e Artigos Diversos”.  Na sexta-feira (28), o evento começa às 19h30, no Centro de Referência da Moda (rua da Bahia, 1149, Centro), com o tema sobre o empreendedorismo nas artes negras.    O encerramento terá performances e desfile.

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