Cultura machista está no cerne do filme 'Repense o Elogio'

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
14/11/2018 às 17:48.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:50
 (Maria Farinha Filmes/Divulgação)

(Maria Farinha Filmes/Divulgação)

 “O que significa chamar uma menina de princesa – e só de princesa?”, indaga Estela Renner, diretora que assina o documentário “Repense o Elogio”, um dos 70 filmes que serão exibidos na 12ª edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos, com início amanhã no Sesc Palladium. “Não tem problema nenhum chamá-la assim, mas essas palavras estão ligadas a um tipo de comportamento”. Comportamento esse que aponta para um modelo de sociedade patriarcal, que enaltece os atributos físicos da mulher, enquanto o homem é reverenciado por qualidades intelectuais. “Quando você faz essa diferenciação, está dizendo que ela tem de ser bonita e delicada e não ter atitudes agressivas (não que a gente tenha que estimular isso), devendo deixar para o príncipe salvá-la”. Para Estela, que antes havia realizado “O Começo da Vida”, documentário sobre os primeiros mil dias de um recém-nascido, o que deve ser estimulado é que todos, tantos meninos quanto meninas, lutem por seus direitos, sem permitir que ninguém os machuque. “Temos que ensinar, sim, a lutarem para serem respeitados, autônomos e cidadãos do mundo”, registra. 

Na programação, obras que abordam vários tipos de violação de direitos, desde a liberdade de expressão à questão do gênero e da raça

 O filme nasceu da preocupação de uma marca de cosméticos sobre como atributos distintos para homens e mulheres poderiam se refletir no futuro das crianças. “Quando a gente fala de educação, sem querer acaba se olhando muito para os pais, quando deveríamos estar falando de cultura. Vivemos uma cultura machista onde está todo mundo inserido – eu, você, os pais, as escolas, as marcas, as corporações, o governo”. Estela lembra que o modelo patriarcal está presente nos três livros mais lidos e seguidos (a Bíblia, o Corão e o Torá), escritos pelo ponto de vista masculino, em que a mulher aparece em posição de submissão. “Isso está refletido em cada detalhe da nossa cultura, desde o jeito como a gente anda ao que se veste, passando por produtos audiovisuais, cartazes e marcas que construímos”. Sem exibir depoimentos de especialistas, o filme busca “fazer um decalque da cultura mesmo, pelo menos uma tentativa, já que não daria para entrevistar pessoas do Brasil inteiro”. Estela acompanhou famílias com filhos dos dois sexos, para saber se estes tinham “recebido a mesma educação, investigando um pouquinho mais o que leva uma criança a falar ‘menina lava a louça e menino salva (as meninas)’”. Os comentários negativos que o filme recebeu nas redes sociais são, possivelmente, fruto dessa realidade distorcida. “Vieram de pessoas que não assistiram nem três segundos do trailer ou do filme – essa é uma informação que veio dos sites. Se o assistir inteiro, perceberá que não tem absolutamente nada que fere ou que desrespeita. Ele só fala que meninos e meninas deveriam ter direitos iguais”, assinala. Mostra de Cinema e Direitos Humanos – De amanhã até quarta-feira. No Sesc Palladium (Rua Augusto de Lima, 420). Veja programação completa em facebook.com/mostracinemabelohorizonte/

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