Curta-metragem de terror mineiro inova na linguagem do gênero

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
29/08/2021 às 16:33.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:46
 (QU4RTO STUDIO/DIVULGAÇÃO)

(QU4RTO STUDIO/DIVULGAÇÃO)

Para quem acabou de assistir ao curta-metragem de terror “AzulScuro”, a primeira questão dos diretores mineiros Evandro Caixeta  João Gilberto Lara é saber se a experiência foi realizada num aparelho de celular, na contramão de cineastas que preferem que suas obras sejam vistas em telas maiores.

“Ver no celular é outra coisa, muito mais imersivo. Pedimos às pessoas para que vejam na vertical porque é algo que nunca vimos. A gente entende que o terror sempre flerta com o experimentalismo. No caso de ‘AzulScuro’, o espectador se conecta com uma história que está na palma da mão”, justifica Lara.

A ligação se dá principalmente  com a protagonista que está contando a história, com o público acompanhando a navegação dela no aparelho. “A diferença é que não usando apenas a câmera dele, mas sim como linguagem, valendo-se de seus recursos e aplicativos, como whatsapp e  instagram”, reforça Caixeta.

Entre as referências da dupla estão as chamadas produções “found footage”, que buscam reproduzir filmagens caseiras para criar uma sensação de maior realismo. Exemplos desse sub-gênero são “A Bruxa de Blair” (1999), “REC” (2007) e “Atividade Paranormal” (2007).

“Quando resolvemos entrar no cinema, após dez anos de produtora, pesquisamos muito e chegamos à conclusão que faríamos terror, que amamos. O gênero pode ser feito com baixo orçamento  e qualidade, como ‘A Bruxa de Blair’, que impactou mundialmente”, salienta Caixeta.

Eles refinaram ainda mais essa escolha, fazendo com a narrativa transcorresse completamente na tela de um celular, inspirando-se nos projetos do realizador cazaquistanês Timur Bekmambtov, que, no lugar de câmeras tradicionais, recorre ao ponto de vista de webcams  e celulares.

“Imaginamos que o celular seria um meio muito bom para promover essa interação, principalmente no Brasil, onde a gente fica muito mais tempo no celular do que no computador. Temos muita familiaridade com o aparelho”, explica Lara. Os diretores desconhecem outros filmes de terror feitos inteiramente com câmera de celular.

A história de uma garota (Larissa Bocchino) que, ao chegar em casa, no dia em que se completa um ano da morte da irmã, começa a receber mensagens misteriosas conquistou as plateias de festivais. “AzulScuro” ganhou o prêmio de melhor filme do júri popular do Fantaspoa, em Porto Alegre.

No Canadá, além da seleção para o Fantasia Festival, foram brindados com a inclusão do curta na mesma sessão de “#Baleia Azul”, produzido por Bekmambetov. “Não imaginávamos isso nem nos nossos melhores sonhos. É a mesma sensação que um jovem ator deve ter ao contracenar com Fernanda Montenegro”, compara Lara.

Além de continuar a investir no terror, a dupla não abre mão da linguagem do celular nos próximos filmes. “A gente acredita muito no poder do gênero fantástico. Temos o plano de lançar mais três, todos eles transitando entre o terror, o suspense e a ficção científica”, adianta Lara.

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