CANNES - Uma das fundadoras do movimento punk na Londres dos anos 70, a estilista britânica Vivienne Westwood, 72, manifestou apoio aos protestos no Brasil. "As pessoas estão frustradas com o excesso de consumismo e a falta de valores mais profundos", disse à Folha. "É preciso ir para as ruas para mudar isso."
Mais cedo, a estilista arrancou aplausos calorosos da plateia do Festival Internacional de Criatividade de Cannes, ao dizer que a pobreza do mundo e os danos ambientais são causados pelo mercado financeiro e por um capitalismo descontrolado.
Autora do símbolo do movimento anarquista, o famoso círculo com a letra A, e hoje militante ambiental, Westwood disse que o excesso de preocupação com o consumo "é responsável pela estagnação do mundo em que vivemos".
Dividindo o palco com o diretor de criação da agência digital SapientNitro, Gaston Legorburu, Westwood disse que a saída para o mundo está na cultura, no conhecimento.
"Se você quer mudar a sua vida, tem que ir para galerias, ouvir música, ler livros; mas não o best seller do momento. É preciso ter cultura, se conectar com as ideias universais que formaram a humanidade no passado."
Westwood disse ainda que as pessoas não devem acreditar em governos e que devem ir para a rua protestar pelo que acreditam. "Lute por alguma coisa, se engaje, mesmo que seja uma causa local, pois o mundo está todo conectado."
Falando sobre o seu passado, Westwood, que foi namorada de Malcom McLaren, produtor da banda Sex Pistols, disse que o movimento punk foi, no fundo, "uma revolução de marketing". "Ajudou a vender muitos pinos de metal", disse. "E eu me cansei do punk rock quando vi que a única anarquista era eu. No fundo, os caras só queriam se divertir."
Ao final, Westwood deu um conselho aos criativos e responsáveis pela comunicação das marcas: "É preciso criar ideias que sejam reais e que levem em consideração o mundo ao redor e aquilo em que você acredita."