"Dentro de Casa", de François Ozon, estreia nas telonas

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
26/04/2013 às 11:28.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:11

Em "Dentro de Casa", uma das principais estreias desta sexta-feira (26) nos cinemas, François Ozon volta a se interessar pelo lado sedutor e perigoso da literatura, em que a realidade sucumbe ardilosamente à imaginação, envolvendo seus protagonistas numa armadilha narrativa.

É o mesmo mote de "Swimming Pool – À Beira da Piscina", lançado pelo diretor francês há exatamente dez anos. Nos dois casos, Ozon trabalha o roteiro de forma a, com o "consentimento" dos personagens, transportá-los gradualmente para uma outra dimensão, em que a fantasia é desejada.

Na produção mais recente, a história parte da ótica de um professor de literatura (Fabrice Luchini) cansado de ler redações insípidas numa escola conservadora. Ele vive o mal-estar de uma sociedade que não dá valor à arte, patente na maneira como critica os trabalhos contemporâneos da galeria da esposa (Kristin Scott-Thomas).

Manipulação

Germain está longe de ser o herói injustiçado vivido por Robin Williams em "Sociedade dos Poetas Mortos" (1989), como o espectador poderá comprovar. Na verdade, ele não é um agente da ação, aquele que transformará a realidade a seu redor. Apesar de seu jeito dominador e culto, acaba se deixando manipular por um belo garoto.

É o mesmo caminho trilhado por "Swimming Pool", em que uma escritora tem sua rotina abalada pela linda filha de sua editora. Há uma tensão sexual em ambos, mais explícita no filme de 2003. O fascínio despertado no professor, porém, está vinculado a redações que, além de bem escritas, provocam uma imaginação até então adormecida nele.

Os dois estabelecem um jogo perigoso, em que o desdobramento da história no papel está atrelado a acontecimentos reais (ingrediente também presente em "Swimming Pool"). Quanto mais essa relação entre realidade e imaginação se torna perigosa, mais eles se veem fascinados por ela.

Poder narrativo

O garoto transfere para o professor a sua curiosidade pela vida privada, especialmente pelo o que acontece na casa de um colega de família aparentemente feliz. Ao "invadir" esse território para melhor apreendê-lo, o aluno passa a ditar os rumos da história. Se ela é verdadeira ou não, pouco importará.

Para Germain, o fundamental é perceber o quão fascinante é o poder da narração e como nos vemos presos a uma boa trama. Até mesmo quando se torna participante ativo da história, algo que lhe gerará muita dor de cabeça na escola, o professor não deixará que ela se interrompa. Para o bem da arte.

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