Depois da Caravana, o modernismo segundo JK

04/05/2014 às 13:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:25
 (APCBH/ ASCOM)

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Se a exposição de 1944 marcou a institucionalização do modernismo em Minas, mesmo que sob a artilharia dos conservadores, a centelha do movimento se deu 20 anos antes, quando um grupo de modernistas paulistas viajou ao Estado, entre os dias 15 e 30 de abril de 1924, para pesquisar o barroco – que consideravam a primeira expressão artística genuinamente brasileira, uma síntese do caráter nacional que buscavam.   Organizada por Mário de Andrade, participaram da Caravana Modernista Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, o poeta francês Blaise Cendrars, entre outros. Oswald batizou a aventura como “Viagem de descoberta do Brasil”, já que os modernistas visavam buscar os traços primordiais de uma cultura brasileira.   “Essa turma tinha o propósito de construir uma identidade nacional, buscar a brasilidade, porque a primeira república até então, era marcada pela cópia, pela absorção do estrangeiro e do elemento internacional”, explica o historiador, doutor em Ciências Sociais e autor do livro “JK desperta BH (1940–1945)”, Marcelo Cedro.   Na noite do dia 24 de abril, vindos de São João Del Rey, os modernistas deram entrada no Grande Hotel (onde hoje está o Edifício Maleta). Poucas horas depois, chegava por lá, o jovem poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, acompanhado por amigos da turma da Confeitaria Estrela (instalada a um quarteirão de distância do hotel): Pedro Nava, Martins de Almeida e Emílio Moura.   O encontro entre os pretensos vanguardistas mineiros e os já consagrados futuristas paulistas serviu para detonar o movimento em Minas, que teve centro na publicação A Revista – editada por Drummond, e que em apenas três edições marcou o nascimento oficial do modernismo e a consolidação da turma do Estrela como um grupo artístico de fato.   É fruto também dessa noite o poema de Mário de Andrade, “Noturno de Belo Horizonte”. Mas, o que de mais importante ficou para os jovens mineiros foi o conselho do poeta, de que misturassem futuristas e passadistas na revista planejada, e não cometessem seu próprio erro na revista paulistana Klaxon (radicalmente modernista) o que acabou por isolar o movimento e a colocá-lo sob o fogo cruzado dos conservadores de todos os matizes.   JK E A MODERNIZAÇÃO   Após a passagem da Caravana Modernista, intelectuais e artistas passaram a ocupar espaços independentes e desvinculados do tradicionalismo das galerias. Entre 1936 e 1939, inspiradas no requinte dos salões de arte de Paris, BH promoveu o “Salão Bar Brasil”: dezenas de exposições sob curadoria do professor de artes, Anibal Mattos.    Em 1940, ao tomar posse da prefeitura de BH, Juscelino Kubitschek não apenas cria uma administração inovadora que busca a modernização da cidade, como se cerca de intelectuais e artistas. “Esses, por sua vez, percebem que o poder público está empreendendo atividades artísticas e se aproximam igualmente”.    Para entender esse momento, é preciso pensar no período em que o Brasil vivia: o Estado Novo, governo de Getúlio Vargas. “Esse modernizar o Brasil, às vezes, não significava mudanças muito profundas. Ao contrário, as mudanças eram conservadoras. A racionalidade, industrialização, urbanização eram permitidas desde que a ordem fosse mantida. Nada de movimentos sociais, revoluções liberais, barricadas, nada disso. É nesse momento que JK se insere”.

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