Em 99,9% dos filmes, o espectador não precisa conhecer os bastidores da produção para entender o que está se passando na tela. A narrativa já fala por si. “Na Praia à Noite Sozinha”, que estreia hoje nos cinemas, faz parte dos outros 0,01%.

A história de um polêmico romance entre o diretor e a atriz de um longa-metragem sul-coreano não teria a mesma leitura se não soubéssemos que o casal em questão é o cineasta e a protagonista de “Na Praia”, que revivem, de maneira ficcional, o que aconteceu.

A trama deixa de ser um melancólico caso de amor que não deu certo para se tornar uma resposta ao circo armado por jornais e pela sociedade, ao saberem do envolvimento de um diretor casado (Hong Sangsoo) com a atriz de seu filme (Kim Manhee).

Os dois viraram amantes durante a produção de “Lugar Certo, História Errada”, lançada em 2015, e chama a atenção a rapidez como se propuseram a abordar a questão, como se um novo filme pudesse encerrar a história que começou no trabalho anterior.

É como se, fazendo dele uma ficção, o caso ganhasse uma outra dimensão, íntima e definitiva. Assim Sangsoo expressa seu arrependimento pelo o que fez. Ela, por sua vez, entra num processo de autodestruição, vendo-se como devoradora de homens.

]Fragilidade
A fotografia sem cores fortes e o clima frio tanto na Alemanha quanto na Coreia, onde a narrativa se desenvolve, apontam para um filme fechado, em que os personagens passam boa parte do tempo conversando sobre o que aconteceu.

Na primeira parte, em que a protagonista aguarda a chegada do amante, a amiga surge como espécie de aviso do subconsciente. Na segunda, tudo vem à tona numa confraternização de equipe. A história ganha outra dimensão, de fragilidade humana.

O entendimento dessa fragilidade, o filme parece querer nos dizer, é o que faltou às pessoas que os condenaram. A percepção dessa ausência se torna distante, quase impossível, quando a atriz sai de um longo sonho para voltar à dura realidade.

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