Disco ao vivo celebra o centenário da 'Rainha da Voz'

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
20/07/2018 às 17:47.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:31
 (Biscoito Fino/Divulgação)

(Biscoito Fino/Divulgação)

Assim como coleciona grandes cantoras, o Brasil guarda inúmeros casos de injustiça a artistas mulheres. De Elza Soares a Dona Ivone Lara, são muitas as Genis da música tupiniquim, apedrejadas pelo machismo que tentou ceifar seus talentos. A história de Dalva de Oliveira (1917–1972) não é diferente. Ícone da Era do Rádio, a Rainha da Voz viveu na berlinda entre o sucesso e os ataques constantes de seus dois ex-maridos, Herivelto Martins e Tito Clement. Amparados por uma sociedade paternalista, que considerava imorais as artistas mulheres, ambos a difamaram, tiraram a guarda de seus filhos.

Mas Dalva seguiu firme – não se deixou calar, driblou a infelicidade e solidificou-se como uma das maiores cantoras do país, dona de uma voz poderosa, cuja extensão ia do contralto ao soprano. De “Bandeira Branca” a “Eu Errei”, são muitas as canções eternizadas pelo “Rouxinol do Brasil”, como também era chamada a cantora paulista, que influenciou outras grandes vozes, como as de Maria Bethânia e Alcione. “Um dia as pessoas vão descobrir que Dalva de Oliveira é a nossa Billie Holiday”, disse Elis Regina nos anos 70. E parece que, guardada a tradição brasileira de reconhecer tardiamente seus grandes talentos, esse descobrimento vem, de fato, acontecendo.

Uma das provas é o disco duplo “Dalva de Oliveira – 100 Anos Ao Vivo” (Biscoito Fino), fruto do espetáculo musical que homenageou o centenário da cantora, em 2017. Com idealização e produção de Thiago Marques Luiz, o show reuniu um elenco de artistas de várias gerações e estilos musicais, em duas noites (em São Paulo, no Teatro J. Safra, e no Imperator, no Rio de Janeiro). Os roteiros levam a assinatura de Ricardo Cravo Albin, pesquisador e fã de Dalva, que define a cantora como “uma rainha das dores e das alegrias do povo”.

Duplo, o disco traz 32 canções que ganharam o mundo na voz de Dalva de Oliveira, entre clássicos intocáveis como “Ave Maria no Morro”, “Máscara Negra”, “Neste Mesmo lugar”, “Segredo” e “Que Será”. A luxuosa lista de intérpretes conta com cantoras contemporâneas da Rainha da Voz, como as também icônicas Ângela Maria, Alaíde Costa e Leny Andrade.

Cerrando fileira com essas divas da Era do Rádio, aparecem grandes nomes da música brasileira atual, que vêm marcando seus nomes, em diferentes vertentes. Nesse hall, despontam Xênia França Julia Vargas, Marina de la Riva e as cantoras d’As Bahias e a Cozinha Mineira, Assussena e Raquel Virgínia.
 
O disco ainda traz as vozes de veteranas como Zezé Motta, Tetê Espíndola, Cida Moreira, Maria Alcina e Simone Mazzer. E, ao que pese o machismo ter sido um entrave na vida de Dalva, interpretações masculinas estão presentes em nomes novos – como os dos brilhantes Filipe Catto e Ayrton Montarroyos – ou experientes, tais como Agnaldo Timóteo, Zé Renato e Edy Star. 

Mais que um registro ao vivo, “Dalva de Oliveira – 100 Anos” é um compilado contemporâneo de uma justa – porém, atrasada – homenagem a um dos gogós mais bonitos e aguerridos da nossa música. 

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