Do medo da perda à alegria da paternidade

06/10/2017 às 15:42.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:06

Rafael Cruz Andrade*

Estamos vivendo um tempo em que falta tempo. Queremos fazer tudo e não conseguimos fazer nada. E quem mais sofre com isso são nossos filhos. Falta tempo para brincar, dormir, estudar, viajar, ler, descansar, praticar exercícios. Foi pensando nessa correria que surgiu, com o objetivo de agilizar a busca de informações e ganho de tempo para os pais, o Portal Sem Choro.

Me chamo Rafael Andrade, sou pai desde os meus 22 anos e gostaria de compartilhar com vocês como tudo começou. Como me tornar pai mudaria a minha vida e faria com que criasse o Portal alguns anos depois.

Era 16 de novembro de 2007 e tudo corria como um script de novela: pré-natal tranquilo e o início do trabalho de parto dentro da normalidade. Fui conduzido pela enfermeira para colocar a roupa adequada para acompanhar o nascimento. Sozinho no banheiro, a ficha caiu: serei mesmo pai! Chorei.

Dentro da sala de cirurgia, a apreensão aumentava à medida que as contrações não vinham. A preocupação estava estampada na cara dos médicos. Conversavam entre eles em uma altura que não dava para escutar. Receoso de perguntar, me mantive em absoluto silêncio.

O silêncio virou susto com a frase: – “Pega o fórceps”. Não tive reação. Me mantive incrédulo, apreensivo e com muito medo. Enfim, o João nasceu. 
Mas ele não chorou. Estava desfalecido. Sem vida. 

Como se a normalidade reinasse soberana no bloco cirúrgico, o obstetra voltou as atenções para a mãe e o pediatra, calmamente, iniciou a massagem cardíaca ao mesmo tempo que tentava fazer o João respirar sozinho. Todos faziam seus papéis normalmente. Os minutos que sucederam foram intermináveis, agravados pelo frio na espinha e medo insuportável que rasgava meu peito.

O João, enfim, chorou! E eu também. Pela segunda vez.

João foi colocado na incubadora, que já estava à espera, e o levaram a outro setor do hospital. Me dirigi ao corredor e lá fiquei estático e sozinho. Tentando processar toda a experiência vivida. O silêncio “gritava”. O tempo que não existia, se eternizou. Chorei pela terceira vez!

E foi na madrugada de 17 de novembro de 2007 que nasceu o João, minha maior alegria até então, me jogando dentro desse mundo totalmente novo e cheio de novos desafios. E após 5 anos inserido nesse mundo, nasceu o Portal Sem Choro. Mas isso é assunto para outra coluna.

* Fundador do Portal Sem Choro
semchoro.com.br

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