Documentário 'Lembro mais dos corvos' exibe cotidiano de mulher trans

Paulo Henrique Silva
03/02/2019 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:21
 (VITRINE/DIVULGAÇÃO)

(VITRINE/DIVULGAÇÃO)

Atriz em vários de seus filmes de ficção, Julia Katherine chamou a atenção do cineasta Gustavo Vinagre quando, nos sets de filmagens, ele a ouviu contar histórias de sua vida sempre de um jeito diferente. “Sempre tinha uma nova nuance, uma outra camada. Foi aí que percebi que Julia era uma boa contadora de história”, lembra.

Ele não teve dúvidas: a atriz trans merecia um filme com todos esses relatos. Assim nasceu “Lembro Mais dos Corvos”, que entra em cartaz no dia 21. Mistura de documentário e ficção, é um monólogo em que, numa noite de insônia de Julia, entre uma taça e outra de vinho, ela revela a sua intimidade.

“A gente criou uma ordem para as histórias, para que tivessem um crescendo ao longo do filme. Não queríamos misturar momentos diferentes, já que, por ela beber vinho rosé, ficava mais embriagada. Não era nada radical. Tínhamos algumas palavras-chave, mas a deixamos bem livre, com total liberdade para improvisar”, assinala Vinagre.

Em casa

A montagem seguiu exatamente esse fluxo de conversa, como se o espectador estivesse com Julia na sala da casa dela. “Queríamos mostrar o cotidiano dessa mulher trans, coisa que pouquíssimos têm acesso. Muito importante ter esse lado doméstico, pois o mundo do transexual, do travesti, está associado à rua”, observa o diretor.

O filme, aliás, brinca com alguns clichês, ao mostrar Julia com quimono, um estereótipo da mulher japonesa ligado à prostituição. O fato de Julia ter sido abusada na infância também não ganha caráter de revelação. “A gente assume isso logo no início, supostamente com o assunto mais forte, até porque a vida dela teve outros aspectos interessantes em seguida”.

As sessões do documentário serão acompanhadas pelo curta “Tea For Two”, de Julia, primeira obra dirigida por uma trans no Brasil. “No nosso filme ela já falava deste desejo de ser diretora, o que cria uma forte conexão entre eles, não mostrando a Julia somente pelo meu ponto de vista, de homem cis gay, mas como criadora de sua própria narrativa”, sublinha.

Nesta semana, Vinagre estará na Alemanha, para exibição do longa “A Rosa Azul de Novalis” (codirigido por Rodrigo Carneiro), na mostra Fórum do Festival de Berlim. 

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