Dois curadores do FIT-BH renunciam aos cargos

Elemara Duarte - Hoje em Dia
14/10/2015 às 20:44.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:03
 (Hoje em Dia)

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Dez meses após o anúncio dos três curadores incumbidos de levar inovação à sua programação, o Festival Internacional de Teatro Palco & Rua (FIT-BH) registra suas primeiras baixas. Eduardo Moreira (Grupo Galpão) e Diego Bagagal (Madame Teatro) colocaram os cargos à disposição nesta quarta-feira (14), por meio de carta repassada também à imprensa.

No texto, em uma das justificativas para o afastamento, os dois se mostram preocupados com a demora no retorno por parte dos responsáveis pelo evento para fechar contrato com os grupos sondados. “Temos alertado constantemente para a urgente necessidade de fechar e garantir os grupos que possibilitarão tornar realidade nossa proposta. Mas, infelizmente, não tivemos o devido retorno. Diante de um quadro hesitante, em que estamos na iminência de perder todo um enorme esforço empreendido, preferimos nos afastar”.

A Fundação Municipal de Cultura (FMC), que organiza o FIT-BH, não respondeu sobre a demora, mas esclareceu, em nota, também distribuída nesta quarta-feira, que os dois curadores já entregaram proposta de grade de programação, concluindo, assim, a primeira etapa dos trabalhos de pré-produção do FIT-BH 2016.

“A partir dessas informações será dada sequência ao trabalho, com a efetivação dos contatos com grupos e companhias sugeridos. Foi um trabalho muito bem feito e acreditamos ter, em 2016, uma grandiosa edição do festival”, diz o texto.

Juntamente a Walmir José (Escola Livre de Artes Arena da Cultura), os dois curadores preparavam a 13ª edição do evento previsto para acontecer em maio do próximo ano. Walmir José ainda permanece na curadoria, ao lado de Dayse Belico, que já fazia parte do comitê organizador. Eduardo e Diego, por sua vez, não serão substituídos.

 

Carta divulgada pelos curadores:

"Caros amigos,

Nós, Diego Bagagal e Eduardo Moreira, gostaríamos de comunicar que estamos colocando à disposição nossos cargos de curadores da programação do FIT BH - Festival Palco e Rua. A decisão se deve por entendermos que cumprimos plenamente a etapa que nos foi incumbida e prevista junto à Fundação Municipal de Cultura.

Acreditamos que nossa tarefa foi realizada com o máximo de zelo e correção, em toda a sua abrangência, apresentando uma linha de pensamento curadorial (a ideia da Resiliência e do teatro como lugar de resistência), além de termos feito uma extensa seleção de atividades formativas, de intercâmbio, selecionando possíveis grupos e espetáculos, tanto internacionais como nacionais, fruto de nossas várias viagens e contatos.

Por fim, estamos entregando um plano piloto, com uma proposta de cronograma de espetáculos e atividades divididos pelos diferentes espaços da cidade, durante os dias previstos para a realização do festival.

Tal plano foi resultado de um extenso trabalho que contou com sete viagens (quatro internacionais: França, Escócia, Inglaterra e Portugal; e três nacionais: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) em que assistimos, aproximadamente, 200 espetáculos dos quais, pelos menos, 120 foram presencialmente.

Na programação montada e apresentada à FMC constam 23 espetáculos de companhias internacionais e 11 nacionais, além de 02 co-produções, num total de 36 grupos. Tal formato dilatado visou oferecer mais opções à produção do evento. Na grande maioria dos contatos (23 grupos) propusemos sempre atividades de diálogo com os artistas e grupos de Belo Horizonte.

Consideramos que as viagens foram estratégicas para podermos construir um programa amplo, que abarca os cinco continentes, coerente com os ideais da curadoria e com uma visão de troca e de formação que está além da vitrine de apresentação de espetáculos.

O motivo principal da nossa decisão foi termos sentido progressivamente uma falta de sintonia entre nossas solicitações e a direção e a produção do evento que, acreditamos, tornou muito difícil um trabalho de equipe.

Temos certeza de que a efetivação de um festival coerente e relevante em termos de programação só se concretizará se a organização do festival se antecipar ao máximo na realização dos contatos e da produção para a vinda dos grupos selecionados. Grupos importantes são sempre muito solicitados e tem uma agenda complexa.

Temos alertado constantemente para a urgente necessidade de fechar e garantir os grupos que possibilitarão tornar realidade nossa proposta. Mas, infelizmente, não tivemos o devido retorno. Diante de um quadro hesitante, em que estamos na eminência de perder todo um enorme esforço empreendido, preferimos nos afastar.

Entendemos as dificuldades trazidas pela conjuntura difícil por que atravessa o país, com grandes reflexos sobre todos os projetos culturais. Gostaríamos de deixar bem claro que nossa atitude tem um caráter essencialmente construtivo e de contribuição. Acreditamos que nosso afastamento dará a oportunidade para que a Fundação tenha absoluta liberdade de repensar e refazer os caminhos da produção do festival.

Junto a essa carta, anexamos um dossiê contendo o eixo curatorial e o projeto da Casa FIT. Temos ciência da necessidade e da responsabilidade de prestar contas à opinião pública acerca de um projeto da magnitude do FIT e, dessa forma, colocamo-nos à inteira disposição para quaisquer maiores esclarecimentos.

E mais uma vez, reiteramos nossa fidelidade e paixão por esse evento público que faz parte da história do teatro e da cultura de Belo Horizonte. Aproveitamos ainda para agradecer pela oportunidade que nos foi oferecida pela desafiadora e fascinante tarefa de pensar e projetar um festival internacional de teatro, como o FIT-BH.

Atenciosamente,

Diego Bagagal e Eduardo Moreira"
 

Nota da Fundação Municipal de Cultura:

"A Fundação Municipal de Cultura esclarece que os dois curadores que pediram afastamento entregaram uma proposta de grade de programação, concluindo assim a primeira etapa dos trabalhos de pré-produção do FIT 2016. A partir dessas informações será dada sequencia ao trabalho, com a efetivação dos contatos com grupos e companhias sugeridos, além da busca por perfis de espetáculos não contemplados na proposta entregue, como peças de rua, infantis e de grupos locais além de atividades de ações formativas. O órgão registra também que os curadores realizaram 13 viagens, sendo 10 internacionais e 3 nacionais. Foi um trabalho muito bem feito e acreditamos ter em 2016 uma grandiosa edição do festival.

Por fim, a Fundação Municipal de Cultura reitera que está cumprindo com todas as obrigações contratuais e que o trabalho segue no âmbito da instituição, com os dois curadores que darão continuidade e que terão agora a responsabilidade de levar adiante o trabalho junto com as equipes técnicas e administrativas da FMC. Proximamente iniciaremos a produção e equipes externas serão contratadas. A Fundação Municipal de Cultura segue, portanto, firme no projeto de entregar em junho de 2016 uma grande edição do FIT-BH".
 

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