Dori Caymmi: O Brasil que não existe mais

Pedro Artur - Hoje em Dia
07/11/2014 às 08:37.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:56
 (Myriam Vilas Boas/Divulgação)

(Myriam Vilas Boas/Divulgação)

Só violão e voz. Seguindo os passos do pai e mestre Dorival Caymmi (1914–2008), Dori Caymmi, o filho mais velho, lança em Belo Horizonte seu mais recente trabalho, o CD “70 Anos” (Acari Records).    “É uma homenagem a mim mesmo pelos 70 anos (completados em agosto) e também ao violão. Esse (disco) ficou só voz e violão, por conta da influência, desde a infância, do trabalho do meu pai, de violão e voz”, diz Dori, que se apresenta nesta sexta-feira (7), a partir das 21h, no Teatro Bradesco. Após o espetáculo, o artista vai autografar o CD, que será vendido ao preço camarada de R$ 30.   Neste “70 Anos”, Dori dialoga novamente com seu parceiro, quase que inseparável, Paulo César Pinheiro. “Desde que meus pais faleceram (Dorival Caymmi e Adelaide Tostes, que adotou o nome artístico de Stella Maris, morreram em 2008, com um intervalo de 12 dias) perdi um pouco essa veia de tocar, de fazer música, melodia. E comecei a musicar as letras do Paulinho, que ficaram como uma espécie de muleta na minha vida”, pontifica.    A parceria com Paulo César Pinheiro já rendeu mais de 100 canções, incluindo alguns clássicos da MPB, como “Desenredo” (o refrão foi feito por Dori: “êh Minas, êh Minas, é hora de partir...), e produziu os CDs “Poesia Musicada” (2011) e “Mundo de Dentro” (2010).    Nostalgia   Em “70 Anos”, não só a saudade de um Brasil está presente, mas a certeza de um país que não existe mais. Dori, que mora em Los Angeles (EUA), lamenta as mazelas, principalmente a violência, deste novo país.    “É sobre o Brasil utópico, o Rio de Janeiro que não existe mais; Minas que cresceu demais, a Bahia... É um Brasil da literatura de Guimarães Rosa, de Jorge Amado, que não tem mais. O Paulinho lembrou, outro dia, de uma frase engraçada e ao mesmo tempo triste do Nelson Rodrigues: ‘a memória do brasileiro não chega à missa de sétimo dia”.    E solta o grito de indignação: “O Rio de Janeiro onde nasci não é mais o mesmo, tem a guerrilha urbana, a loucura de violência. Uma criança tentou arrebentar meu cordão de ouro outro dia, o Rio ficou triste. Não importa se é a Dilma (Rousseff), o Aécio (Neves), qualquer presidente. Porque não melhorou nada do ponto de vista da educação, da pobreza e saúde”.   Apesar disso e, com seu ouvido sensível, o cantor e compositor enxerga boa música na MPB, feita principalmente por uma geração mais nova. “Em Minas Gerais, tem o Sérgio Santos, que é um dos meus favoritos; em São Paulo, tem o Renato Braz, que é um menino para mim, e tem a cantora Mônica Salmaso”, exemplifica Dori, que já tem novas músicas para um CD, que será lançado ano que vem.    Homenagens ao pai   Aproveitando a passagem por BH, Dori participa de um espetáculo em homenagem ao pai, domingo no Palácio das Artes, ao lado do violonista mineiro Gilvan de Oliveira. O evento é restrito a convidados.   Recentemente, ele produziu, em parceria com Mário Adnet, o CD “Dorival Centenário” (Biscoito Fino), que conta com convidados como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e os irmãos Nana e Danilo.    SERVIÇO   Dori Caymmi lança o álbum “70 Anos” Sexta, às 21h, no Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2244, Lourdes) Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia) Informações: 3516-1360

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