
A estreia do filme “Downton Abbey”, em cartaz a partir de amanhã nos cinemas, abre uma nova possibilidade de adaptações de séries de TV, que diferem pelo fato de não serem baseados em fenômenos mundiais de audiência ou focados em gêneros mais populares, como comédia, ficção-científica ou ação.
Exibido por uma emissora inglesa (a ITV, concorrente da BBC) e apresentado no Brasil pela Globosat HD, “Downton Abbey” tem ingredientes considerados pouco afeitos a grandes plateias.

A série inglesa teve seis temporadas, apresentadas entre 2010 e 2015
Para começar, a história é de época. A ação está concentrada basicamente num local – a propriedade que dá título à série e ao filme – e os pequenos dramas se dão internamente, nas relações entre os moradores.
Uma obra refinada, ao estilo dos filmes corais de Robert Altman (“O Jogador” e “Short Cuts – Cenas da Vida”), mais preocupada em ações que podem interferir na vida do outro, que agradará até mesmo quem não acompanhou os 52 episódios das seis temporadas, apresentadas de 2010 a 2015.
O filme é muito fiel ao espírito da série, na maneira como logo estabelece as relações de poder na imensa propriedade, perceptível até mesmo na criadagem. À maneira inglesa, eles respeitam os seus limites, mas sem deixar de incutir uma boa dose de ironia, especialmente quando segredos de alcova vêm à tona.
Ao contrário do que pode parecer, isso de forma alguma cria uma espécie de contenda entre os ricos proprietários e os empregados, fazendo-nos torcer pelos mais fracos. Ao contrário, situações e sentimentos são espelhados em um e outro. O longa faz conexão com a última temporada, quando, em 1925, as suntuosas mansões entram em decadência.
Corte real
A história começa em 1927, com o anúncio da passagem do rei George e da rainha Mary, o que provoca grande alvoroço entre os moradores. Como se trata de um trabalho de duas horas e que precisa ser compreensível a quem não tem intimidade com a série, os roteiristas se concentraram nos efeitos que a visita traz.
Primeiro, entre os criados, que se unem para enfrentar a empáfia dos lacaios que acompanham a corte. Segundo, além do casal real, surgem pessoas que vão mexer com alguns personagens, especialmente Violet (Maggie Smith), que vê a possibilidade de perder a mansão, e Tom (Allen Leach), que pode ganhar um novo amor.
Os demais personagens (e não são poucos) ganham igualmente outros desdobramentos – amorosos ou existenciais – numa costura muito bem feita, tanto no desenvolvimento de cada história em particular quanto na forma como se interagem. O que certamente agradará tanto aos fãs da série quanto aos que estão chegando agora.