Elogiável trabalho de fotógrafa suíça junto a Yanomamis vira galeria em Inhotim

César Augusto Alves - Hoje em Dia
26/11/2015 às 11:35.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:05
 (William Gomes)

(William Gomes)

Cada passo dos que caminham pelo novo chamariz do Instituto Inhotim – a 19ª galeria permanente, que será aberta nesta quinta-feira (26) ao público – é permeado por boas surpresas. A começar, pela impressionante arquitetura do espaço “Claudia Andujar” – que abarca a obra “Visão Yanomami”, com 400 fotografias feitas pela artista entre 1970 e 2010.

O espaço (1.600 m², configurando-se o segundo maior pavilhão do Parque) tem construção “simples”, com tijolos artesanais, e é todo integrado à natureza ao redor, além de se valer da iluminação natural, que acaba interagindo com as fotografias. Nos cliques da suíça (radicada no país desde os anos 50, após passagem por Nova York), é possível distinguir as facetas pesquisadora e ativista.

“Quando cheguei lá (no Norte do Brasil), em 1971, o país vivia sob o regime militar, e o governo decidiu construir uma estrada (Perimetral Norte) que passaria pelas terras Yanomami. Uma tragédia”, lembra.

Em Inhotim, as obras expostas mostram que o olhar minucioso da artista foi além do que comumente vemos em fotografias da natureza, ou de índios. Andujar busca detalhes que ressaltam a natureza selvagem, o que, em um primeiro momento, pode gerar um certo estranhamento – sensação que é logo substituída pela descoberta da delicadeza de seu olhar e do que ele queria mostrar.

Andujar ressalta a natureza e os Yanomamis como parte da vida – não meros objetos de contemplação artística.

Aliada

Claudia chegou ao Brasil imbuída do interesse em conhecer e entender a população indígena. “Tomava banho no rio, como todos lá, isso não era problema. Mas depois de dois anos, estava sonhando com um bolo”, brinca ela, que viveu temporadas na região habitada pelos Yanomamis, efetuando visitas posteriores.

Com o tempo, tornou-se aliada na luta pela demarcação do território deles, o que efetivamente ocorreu em 1992. “Foi inacreditável. Após tanta luta, pensei que nunca ia acontecer”, relata, sorrindo.

Em Inhotim, ontem, Claudia conversou com a imprensa ao lado do Yanomami Davi Kopenawa. Feliz, andava pelas galerias contemplando o resultado de cinco anos de organização. “Estou comovida. Conseguimos fazer uma exposição bonita, mas com conteúdo, o que é importante, já que Inhotim recebe gente do mundo inteiro”, diz ela, que espera que a iniciativa contribua para o fortalecimento do movimento em prol do povo Yanomami.

Para os Yanomami,s a galeria é uma oportunidade de mostrar o quão precisam ser respeitados. “A imagem dos Yanomamis está aqui nessa casa para guardar”, acrescenta Davi.

Em tempo: para a abertura, hoje, o Inhotim convidou dez lideranças indígenas para uma pajelança, que poderá ser acompanhada pelos visitantes. O Pavilhão Claudia Andujar tem curadoria de Rodrigo Moura, diretor artístico do Inhotim.

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